a vida saiu à rua num dia assim

Dia 05 de Abril, pelas 18h30, na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana

E, de súbito, era Abril. Um apelo circunstancial e oportuno colocou-me próximo do Terreiro do Paço, no dia 25 de Abril de 1974… e com uma máquina fotográfica na mão.

Desse dia até ao primeiro de Maio do mesmo ano, passeei pelas ruas da cidade, agora carregadas de futuro, tal como o poema de Celaya.

Essas memórias fotográficas, registadas por um fotógrafo amador que nunca deixou de o ser, vão estar finalmente expostas, em boa parte, a partir do dia 05 de Abril, pelas 18h30 e até Maio, na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana e muito gostaria de contar com a presença de quem queira e possa.

Esta exposição integra-se num conjunto de iniciativas que levam o título de A Vida Saiu À Rua Num Dia Assim – em homenagem a José Afonso e a essa efeméride maior das nossas vidas – de que fará parte, também, a publicação de um livro com o mesmo título (que reúne cerca de trezentas imagens).

Estas iniciativas – que irei por aqui anunciando – contam com o apoio da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras, a que pertenço, da Câmara Municipal de Cascais e da Câmara Municipal de Oeiras.

Para que não se apague a memória nem se reescreva a História por ínvios caminhos e, enfim, por Abril, sempre, conto convosco!

de novo em passeio pela Terra de Miranda do Douro – II

Miranda do Douro (6)

Apesar das dificuldades da chamada «interioridade», a cidade, mormente no seu núcleo histórico, tem tido artes de se modernizar oferecendo aos locais e aos visitantes o conforto que o século XXI nos pode proporcionar.

Mesmo correndo o risco da polémica por eventual favorecimento, deixo-vos com uma imagem do interior do restaurante da Balbina, ponto de paragem para mim obrigatório, de há longos anos, e de onde saio sempre satisfeito.

A avó Balbina faleceu mas o seu neto João agarrou o testemunho e não deixou créditos por mãos alheias. Mantendo-se o exterior inalterado, o interior é outra conversa.

Não me «castiguem» por não referir outros espaços de restauração que ombreiam, também em qualidade gastronómica, com o que refiro. E são vários. Mas nem isto é uma agência de publicidade, nem o espaço e o tempo são ilimitados. De outros se falará a seu tempo.

Miranda do Douro (7)

Lá está… depois de uma alheira de Miranda, grelhada à lareira e acompanhada por uma simples mas primordial e fresquíssima salada, com o bom sabor dos velhos tempos, eis que dá entrada um cordeiro churro (canhono mirandês) que nos redime de quantos pecados carreguemos…

Aqui fica o brinde, à vossa saúde. E seguindo os ditames de Camões, «melhor é experimentá-lo que julgá-lo; mas julgue-o quem não pode experimentá-lo».

Miranda do Douro (8)

Nada como um passeio nocturno, para desmoer…

Miranda do Douro (9)

Pormenor do interior da concatedral.

Miranda do Douro (10)

Dir-se-ia que, entre o sagrado e o profano, venha o Demo e escolha. Assim sendo, para o bem e para o mal, há outros «ex-libris» que marcam presença em Miranda.

Deste, com interpretações várias, um dos cachorros da casa na Rua da Costanilha, todas elas serão danadas para a brincadeira… mas que lá estão, lá estão!

Naves in Petri

Uma vaidade: numa apreciação lisonjeira e, do meu ponto de vista, merecida, à obra sobre a calçada portuguesa do meu amigo Ernesto Matos em conjunto com António Correia, Naves in Petri, publicada na Revista da Marinha, fica também um apontamento à minha colaboração neste trabalho sobre a calçada portuguesa que, obviamente, me honra. Aqui fica:

No artigo informam-se os interessados de como aceder a este belo livro.

Naves in Petris

Sabem do que se trata? Pois bem, trata-se do mais recente trabalho de um infatigável lutador em prol da calçada portuguesa, o bom amigo Ernesto Matos – https://sites.google.com/site/ernestomatosimagens – (design gráfico e fotografia), desta feita, numa parceria com o escritor António Correia.

A participação, em forma de poema, foi aberta a vários autores e também me coube a honra de ser um dos convidados.

Aqui vos deixo uma parte dessa minha participação, em forma de:

QUADRAS SOLTAS NA CALÇADA

ao enquadrarmos a quadra
nos quadrados da calçada
as pedras são a palavra
os versos fazem-se estrada

lanço versos na calçada
como quem suspira amores
e a pedra esbranquiçada
vai-se enchendo de mil flores

pela mão que a pedra dome
pelo sonho feito anseio
dessa dura pedra informe
faz-se um mar nalgum passeio

as calçadas são abraços
vão da minha casa à tua
nelas desenhei os passos
que vão dar à minha rua

veja lá tenha cuidado
ao poisar seu pé no chão
pois que as pedras da calçada
foram bordadas à mão

vejo remos redes barcos
a bordejarem a praça
são na calçada seus marcos
lembrando o mar a quem passa

não sei porque tomam jeito
assim as pedras do chão
pareciam postas a eito
mas formam um coração

português por teus esteios
ao mundo deste grandeza
e nele lavraste os passeios
em calçada à portuguesa

lavrei-te a quadra num cravo
com Santo António pela mão
surgiu em ti um mar bravo
nesta calçada em mar-chão

lanço versos na calçada
como quem suspira amores
e a pedra esbranquiçada
vai-se enchendo de mil flores

  • Jorge Castro

aos que dizem que não votam…

Alguns amigos talvez se melindrem, mas asseguro-vos que não vale a pena. O que agora escrevo é uma mera opinião, não é um juízo moral ou ético. É uma reflexão crítica abstracta, se quiserem. Um desabafo, também, perante algo que me é incompreensível – de onde, porventura até, a insuficiência seja minha…

Mas, na verdade, não compreendo a atitude do não-voto. Imaginemos, então, que estamos numa reunião de amigos, à volta de uns copos de boa camaradagem, em amena discussão de tempos livres…

Compreendo o desencanto. Compreendo a fadiga ou «exaustão democrática». Compreendo o aborrecimento. Compreendo o sentimento de assistirmos sistematicamente a expectativas defraudadas.

Como compreendo bem tudo isso, ainda para mais eu que, desde o 25 de Abril de 1974, voto sempre nos vencidos, quaisquer que sejam as eleições.

Mas somos cidadãos, gente! E mesmo que saibamos ser «o cadáver adiado que procria», para quê antecipar esse estatuto?

Por vezes, tendemos, até, a complicar raciocínios, esgrimindo elaboradas catilinárias – justificadíssimas, aliás – contra a política e os políticos, que sustentam a nossa lassidão.

E isso não nos dá um novo alento para nova demanda de algum Santo Graal nas nossas vidas… ou na dos nossos filhos, dos nossos netos ou tão-só daqueles a quem queremos bem?

E a sensação de pertença a uma comunidade, da qual não somos marginais, por muito avessa que ela nos seja?

Eremitas não somos, mesmo que alguns poetas pretendam afastar-se do mundo mundano, esse é sempre mais um estado mental do que uma realidade vivida.

E por falar em poetas, recorrendo e parafraseando um dos maiores, o grande Torga, permitam-me dizer-vos:

Não tenhas medo, ouve:
É só um voto
Um misto de vontade e sacrifício…
Sem qualquer compromisso,
Cumpre-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás branqueá-lo
Anulá-lo
Por desamar
Para irritar,
Ou por seres demais sensível à tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz…

É já amanhã. Não se atrasem…

sugestão de leitura

Porque há mais vida para além da Covid, dos confinamentos e da mortandade que por aí campeia, deixo uma sugestão de leitura (para quem possa, claro) que reputo do maior interesse, que mais não seja para ajudar a passar o desgraçado confinamento com algo útil.

«O Infinito num Junco – a invenção do livro na Antiguidade e o nascer da sede de leitura», de Irene Vallejo, edição portuguesa da Bertrand.

«Um livro sobre a história dos livros. Uma narrativa desse artefacto fascinante que inventámos para que as palavras pudessem viajar no tempo e no espaço. É o relato do seu nascimento, da sua evolução e das suas muitas formas ao longo de mais de 30 séculos: livros de fumo, de pedra, de argila, de papiro, de seda, de pele, de árvore e, agora, de plástico e luz. (…) É, ainda, uma história íntima entrelaçada com evocações literárias, experiências pessoais e histórias antigas que nunca perderam a relevância: Heródoto e os factos alternativos, Aristófanes e os processos judiciais contra humoristas, Tito Lívio e o fenómeno dos fãs, Sulpícia e a voz literária das mulheres (…)».

450 páginas escritas com ampla mas acessível erudição, com um notável e elegante sentido de humor… enfim, um livro muito aprazível e recomendável para quem considera que a vida é uma constante aprendizagem.