ainda um poema de amor?

quando olho para ti
esses teus olhos
lembram sempre aquele mar cheio de estrelas
onde cedo aprendi a navegar
nem era meus os caminhos
eram delas
reflectidas nessa ondulação do mar

sempre em vão me esforcei por entendê-las
por trazê-las junto a mim
ao meu lugar
mas talvez por serem tão somente estrelas
tão prementes
tão belas
tão distantes
só as tive na carícia de um olhar.

  • Jorge Castro
    09 de Maio de 2023

viva o 25 de Abril!

A VIDA SAIU À RUA NUM DIA ASSIM

porque o tempo é sempre feito de mudança
as quimeras e utopias são reais
muda o tempo muito mais que a vista alcança
mas o sonho esse então nunca é demais

há-de ser sempre Abril este meu hino
de lutar contra o pavor de ter amarras
há-de ser de Abril decerto esse destino
de fazer de negras noites manhãs claras

esse tempo
tempo este
o que virá
onde tu e eu e nós gritamos sim
contra muros a erguer penas e espadas
e ao sair a vida à rua em dia assim
vai trazer-nos boas novas e alvoradas

esse tempo
tempo este
o que virá
feito urgente em cores da fraternidade
a trazer ao peito o grito conhecido
sempre urgente a relembrar toda a cidade
que o povo unido nunca mais será vencido

esse tempo
tempo este
o que virá
cravo-Abril sendo flor e temporã
de acender este querer ser que em peito arde
por mais que tarde já lá vem o amanhã
porque Maio vai florir e nunca é tarde.

  • Jorge Castro
    Abril de 2023

o beijo

Dizem-me que houve, há dias, o dia do beijo. Ora, para o bem de nós, é melhor que nos beijemos sempre que apetecer.

E, por falar nisso, preparando uma sessão em que estarei, hoje, envolvido, tropecei com este meu poema, que vos deixo, e que já conta com uns anitos de ver a luz do dia. Espero que ele vos estimule o dia…

beijo

vês?
chegámos de novo a Abril
e os teus olhos abrem-me sempre novas madrugadas
os teus seios de oferendas
mil ensejos
mil moradas

o teu ventre abre-se em flor
e cruzas o tempo
na promessa de um prazer que é quase dor
ou quase sede
de que abusas

e a tua pele quando me acolhe
de veludo a maciez
mas quase ardência
nessa urgência em que eu pare
e p’ra ti olhe
e ao de leve te pressinta
uma premência
de ti um fremir quase ventura
que estremece
porque tanto me apetece
dos teus lábios a suave comissura

a minha língua toca-a levemente
e os teus lábios recebem-me
e desenham-se em sorriso
e afogam-me
e bebem-me
sem aviso
e o tempo voa assim
sem dor
nem hora
porque é feito de Abril
o que em nós mora.

  • Jorge Castro
    22 de Abril de 2010

desenhando no parque

Porque hoje é sábado, como diria o velho Vinícius, fui passear até ao parque para tentar corresponder ao desafio que o Carlos Peres Feio fez para o próximo dia 15 de Abril.

DESENHANDO NO PARQUE

– em contemplação bucólica (também faz falta…) num jardim que me acolheu

vou ao parque e faço um traço
no espaço que deslaço
onde a vida se entretém
risco a risco lá me arrisco
enquanto o sol permanece
enquanto a noite não vem

sinto o verde que apetece
e as flores que mal despontam
sob os pés de mil passantes
e na sombra do arvoredo
estão dois jovens amantes
que despertam nostalgia
num beijo que é dado a medo
à pressa e sem demasia

no espelho da lagoa
as aves criam enredos
perturbando a quietude
que os peixes cruzam à toa
e os meus traços são vontades
que afloram o papel
recriando realidades
como ave quando voa

nesta paleta de cores
não me cabem os odores
nem os gritos de criança
é o que vejo e pressinto
neste parque onde me sento
p’ra além do que a vista alcança

nem há guerra nem há paz
só tanto o que à vida vem
quanto à vida satisfaz

lá estou eu sem lá estar bem
pois por mim nem sequer dou
em tanto que o parque tem.

  • Jorge Castro
    08 de Abril de 2023

com votos de um 2023 afeiçoado ao jeito de cada um…

E, já agora, para ser só para vocês

– ainda que melhor seja dizer “só para vós”,

que o Português se quer bem falado a viva voz –

deixo os votos de um dois mil e vinte e três,

fecundo, airoso, jucundo, feliz e nada atroz

nem sequer marrado por uma qualquer má rês

das que sempre vivem no meio de nós…

Novo ano e ano novo em cada laço

em que nos vejamos por aí para um abraço.

– Jorge Castro

natal 2022

Proponho-vos um pequeno passeio por algumas das famílias que temos cá por casa, a maioria produto de trabalho artesanal, acompanhado do poema que destino, este ano e como habitualmente, à época que atravessamos.

O vídeo, naturalmente, ainda é o mais artesanal de todos os trabalhos, mas vai carregadinho das melhores intenções.

Com renovados votos de boas festas, um novo ano pleno de felizes realizações… e saudinha da boa!

https://www.facebook.com/1271511073/videos/556467775983802