quando olho para ti esses teus olhos lembram sempre aquele mar cheio de estrelas onde cedo aprendi a navegar nem era meus os caminhos eram delas reflectidas nessa ondulação do mar
sempre em vão me esforcei por entendê-las por trazê-las junto a mim ao meu lugar mas talvez por serem tão somente estrelas tão prementes tão belas tão distantes só as tive na carícia de um olhar.
porque o tempo é sempre feito de mudança as quimeras e utopias são reais muda o tempo muito mais que a vista alcança mas o sonho esse então nunca é demais
há-de ser sempre Abril este meu hino de lutar contra o pavor de ter amarras há-de ser de Abril decerto esse destino de fazer de negras noites manhãs claras
esse tempo tempo este o que virá onde tu e eu e nós gritamos sim contra muros a erguer penas e espadas e ao sair a vida à rua em dia assim vai trazer-nos boas novas e alvoradas
esse tempo tempo este o que virá feito urgente em cores da fraternidade a trazer ao peito o grito conhecido sempre urgente a relembrar toda a cidade que o povo unido nunca mais será vencido
esse tempo tempo este o que virá cravo-Abril sendo flor e temporã de acender este querer ser que em peito arde por mais que tarde já lá vem o amanhã porque Maio vai florir e nunca é tarde.
Dizem-me que houve, há dias, o dia do beijo. Ora, para o bem de nós, é melhor que nos beijemos sempre que apetecer.
E, por falar nisso, preparando uma sessão em que estarei, hoje, envolvido, tropecei com este meu poema, que vos deixo, e que já conta com uns anitos de ver a luz do dia. Espero que ele vos estimule o dia…
beijo
vês? chegámos de novo a Abril e os teus olhos abrem-me sempre novas madrugadas os teus seios de oferendas mil ensejos mil moradas
o teu ventre abre-se em flor e cruzas o tempo na promessa de um prazer que é quase dor ou quase sede de que abusas
e a tua pele quando me acolhe de veludo a maciez mas quase ardência nessa urgência em que eu pare e p’ra ti olhe e ao de leve te pressinta uma premência de ti um fremir quase ventura que estremece porque tanto me apetece dos teus lábios a suave comissura
a minha língua toca-a levemente e os teus lábios recebem-me e desenham-se em sorriso e afogam-me e bebem-me sem aviso e o tempo voa assim sem dor nem hora porque é feito de Abril o que em nós mora.
Porque hoje é sábado, como diria o velho Vinícius, fui passear até ao parque para tentar corresponder ao desafio que o Carlos Peres Feio fez para o próximo dia 15 de Abril.
DESENHANDO NO PARQUE
– em contemplação bucólica (também faz falta…) num jardim que me acolheu
vou ao parque e faço um traço no espaço que deslaço onde a vida se entretém risco a risco lá me arrisco enquanto o sol permanece enquanto a noite não vem
sinto o verde que apetece e as flores que mal despontam sob os pés de mil passantes e na sombra do arvoredo estão dois jovens amantes que despertam nostalgia num beijo que é dado a medo à pressa e sem demasia
no espelho da lagoa as aves criam enredos perturbando a quietude que os peixes cruzam à toa e os meus traços são vontades que afloram o papel recriando realidades como ave quando voa
nesta paleta de cores não me cabem os odores nem os gritos de criança é o que vejo e pressinto neste parque onde me sento p’ra além do que a vista alcança
nem há guerra nem há paz só tanto o que à vida vem quanto à vida satisfaz
lá estou eu sem lá estar bem pois por mim nem sequer dou em tanto que o parque tem.
Proponho-vos um pequeno passeio por algumas das famílias que temos cá por casa, a maioria produto de trabalho artesanal, acompanhado do poema que destino, este ano e como habitualmente, à época que atravessamos.
O vídeo, naturalmente, ainda é o mais artesanal de todos os trabalhos, mas vai carregadinho das melhores intenções.
Com renovados votos de boas festas, um novo ano pleno de felizes realizações… e saudinha da boa!