Hoje, deixou este meio terreno Eduardo Gageiro, fotógrafo maior.
Não me ocorreu melhor homenagem do que chamar à colação um outro fotógrafo, este ainda bem entre nós, e que tenho a sorte de conhecer, o José Alex Gandum, (https://www.facebook.com/josealexgandum?locale=pt_PT), dele a autoria do expressivo retrato de Eduardo Gageiro que aqui se publica.
Estou em crer que nada como uma grande fotografia para homenagear (evocar) um grande fotógrafo. Do Eduardo Gageiro e da sua excelência enquanto fotógrafo já muito se disse, ainda que outro tanto haverá a dizer.
Mas olhando para o seu retrato, da autoria de José Alex Gandum, ficamos com a certeza certa de que o seu exemplo frutificou. E essa é, quanto a mim, a melhor memória a preservar desse exemplo maior da arte de «ver com olhos de ver» que cada fotógrafo, mais ou menos amador, mais ou menos profissional, persegue.
Por este rio acima, contra marés e maus ventos, ele singrou, levando-nos na viagem…
«Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus (…)»
E nós fomos e vamos, sempre com ele por perto, como nos compete fazer àqueles que nos apontam caminhos e, assim, terem artes de se irem «das leis da morte libertando».
Nos dias que vão correndo, em que se adensam velhas querelas e se dão grandes passos no sentido de um conflito mundial generalizado pelas sempiternas vontades hegemónicas de uns poucos sobre as vidas de tantos outros, sob o manto pouco diáfano das múltiplas religiões, apeteceu-me relembrar aqui o sonhador John Lennon e o seu tema «Imagine», sempre oportuno, sempre actual.
Esta tradução é de minha responsabilidade, sem especiais preocupações de retroversão poética, porque o importante é a mensagem transmitida, que é para ser entendida muito para além de ser apenas cantarolada.
Imagine não haver paraíso Imagine there’s no heaven É fácil se você tentar It’s easy if you try Nenhum inferno por baixo de nós No hell below us E por cima somente o céu Above us, only sky
Imagine todas as pessoas Imagine all the people Vivendo para o dia de hoje Livin’ for today
Imagine não haver países Imagine there’s no countries Não é difícil fazê-lo It isn’t hard to do Nada por que matar ou morrer Nothing to kill or die for E também nenhuma religião And no religion, too
Imagine todas as pessoas Imagine all the people Vivendo a vida em paz Livin’ life in peace
Você pode dizer que eu sou um sonhador You may say I’m a dreamer Mas eu não sou o único But I’m not the only one Espero que um dia se junte a nós I hope someday you’ll join us E o mundo será um só And the world will be as one
Imagine não haver possessões Imagine no possessions Pergunto-me se será capaz I wonder if you can Não haver necessidade de ganância ou fome No need for greed or hunger Uma irmandade do homem A brotherhood of man
Imagine todas as pessoas Imagine all the people Partilhando todo o mundo Sharing all the world
Você pode dizer que eu sou um sonhador You may say I’m a dreamer Mas eu não sou o único But I’m not the only one Espero que um dia se junte a nós I hope someday you’ll join us E o mundo viverá como um só And the world will live as one
No dia em que se celebram os 100 anos do nascimento de Natália Correia quero aqui destacar dois aspectos que considero primordiais na sua vida e na sua obra: o inconformismo militante e a irreverência permanente.
Natália diz-nos, também, que o poeta deve ter uma intervenção política e, se olharmos atentamente, não foram raros os casos entre a plêiade de excelentes poetas portugueses do nosso século XX cuja intervenção na «res publica» foi o pilar maior do seu destaque, a par da sua mestria, e por isso se mantêm como referências duradouras.
Natália, seguramente, mas também Pessoa, O’Neill, Gomes Ferreira, Aleixo, Saramago, Mourão-Ferreira, Ary, até Cesário, entre tantos outros mais.
Pensemos, pois, nisso e que extraia cada um as suas ilacções.
E como, por vezes, ser ibérico não será pecado, Gabriel Celaya, cantado por Paco Ibañez, já nos dizia:
«(…) Maldigo la poesía concebida como un lujo
cultural por los neutrales
que, lavándose las manos, se desentienden y evaden(…)»
No próximo dia 13 de Setembro, a partir das 18h30, Irene Cardona, João Paulo Oliveira e eu, com o apoio da Câmara Municipal de Cascais, estaremos na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana, em homenagem a Natália Correia.
Alguns terão adivinhado. Fui até à Terra de Miranda do Douro, lá por onde me criei, ainda que não seja o local de nascimento, mas onde pude encontrar berço de afectos.
Com alguma regularidade, os antigos alunos do Externato de São José (Miranda do Douro) promovem um encontro/convívio em que participo sempre que posso, esbatendo saudades e tentando colocar em dia a premência dos tais afectos.
Irei, pois, em homenagem à terra e suas gentes, colocando por aqui alguns «bonecos» que obtive nesta recente deslocação.
Também porque a Terra de Miranda permanece desconhecida de boa parte dos portugueses, sempre com a invocação de que «fica lá tão longe…» mas, seguramente, bem mais perto do que Barcelona ou Veneza, etc., etc.
E, afinal, há tantas razões que justificam a viagem…
Miranda do Douro (1) – Praça D. João III
Miranda do Douro (2) – Vista parcial da albufeira da barragem da central hidro-eléctrica.
Se valesse a ironia, dir-se-ia que, à esquerda, Espanha; à direita, Portugal; e, no centro, a França. Uma prova de quão néscios (ou pior…) podem ser os homens quando os interesses económicos falam mais alto do que tudo.
Miranda do Douro (3) – As arribas do Douro vistas da cidade de Miranda.
Já fizesteis o passeio fluvial entre barragens? Aceitai uma sugestão: não vos deixeis morrer sem o fazer.
(É verdade, a segunda pessoa do plural ainda é, por lá, muito utilizada, mesmo «an pertués»)
Miranda do Douro (4)
A fachada principal da concatedral – sabem o porquê desta designação? O senhor google dará uma ajuda.
Miranda do Douro (5)
O Menino Jesus da Cartolinha, verdadeiro ex-libris da cidade, a quem um bom amigo que também por lá andou, João Pequito, encontrou grandíssimas parecenças faciais com Mário Viegas, na sua juventude.
Mário Viegas que, nos idos de 60 e com os seus catorze anos, ia por lá, passar férias e, já então, a desinquietar-nos com o bichinho do teatro, escreveu uma peça e a levou à cena, tendo a meninada como elenco. E nunca se terão visto tantos príncipes e reis e rainhas por terras de Miranda…