Sabem os que me são mais próximos que duas datas celebro, todos os anos, em forma de poema: o 25 de Abril e o Natal, ou a festa do Solstício, se preferirem.
Pelo caminho ficam, também, os costumeiros votos de boas festas e de um ano vindouro pleno de felizes realizações.
Natal 2024
– sobre um poema de Vítor Barroca Moreira, escrito quando ele tinha nove anos (1960) e coligido por Maria Rosa Colaço em A Criança e a Vida
desta vez fiz um poema
do Natal que alguém quiser
poderá ser claro ou escuro
ser de compra ou de aluguer
ser presente ou ser futuro
estar em guerra ou em paz
se estiver verde ou maduro
para o caso tanto faz
mas que lembre
impertinente
a prata que embrulhava
o chocolate das prendas
e que alisámos com as unhas
dos dedos da nossa esperança
criando com eles regatos
e açudes prateados
entre o musgo e os rebanhos
ou verduras de arvoredos
nos campos imaginados
ah como era bom ser criança
poema em forma de gente
e clamar aos quatro ventos
que «O amor é um pássaro verde num campo azul no alto da madrugada»
Hoje, em período natalício tão celebrado em toda a parte deste nosso mundo ocidental, não me apetece colocar a imagem de nenhum presépio.
A imagem que hoje selecciono é a que documenta a inadjectivável acção policial que ocorreu no Martim Moniz (Lisboa): algumas dezenas de transeuntes, porventura de nacionalidades várias, obrigados a colocarem-se de braços levantados contra uma parede durante mais de uma hora para serem revistados por agentes da PSP!!!
Vergonha e humilhação! E tu, gostarias de te ver nestes preparos, ou aos teus filhos ou aos teus netos nos diversos países para onde nos exportamos diariamente e de há tantos anos para cá?
As «explicações» dadas pelos actuais mandantes deste país para esta atitude, digna de tempos hitlerianos nos guetos judeus, são tão manhosas quanto idiotas, frustres, cobardes e sem sentido.
Parece que, no resultado da gigantesca operação policial, foram efectudas duas detenções (pelo menos, uma delas a um cidadão português), apreendido algum dinheiro, alguma droga e algumas armas brancas… também conhecidas como canivetes. Talvez se a região seleccionada fosse, por exemplo, a Quinta da Marinha, em Cascais, ou numa sexta-feira no Bairro Alto ou no Cais do Sodré os resultados fossem mais avantajados…
E é assim. É Natal! Paz na Terra aos homens de boa vontade… Mas, em boa verdade vos digo, irmãos: fascismo, nunca mais! Pelo menos, é o que se deseja intensamente mas, tal como as bruxas, que os há, há e cada vez se atrevem mais a sair das sombras pestilentas onde chafurdam.
Montenegro, Ventura e Moedas, a mesma luta, não é…?