Apesar das dificuldades da chamada «interioridade», a cidade, mormente no seu núcleo histórico, tem tido artes de se modernizar oferecendo aos locais e aos visitantes o conforto que o século XXI nos pode proporcionar.
Mesmo correndo o risco da polémica por eventual favorecimento, deixo-vos com uma imagem do interior do restaurante da Balbina, ponto de paragem para mim obrigatório, de há longos anos, e de onde saio sempre satisfeito.
A avó Balbina faleceu mas o seu neto João agarrou o testemunho e não deixou créditos por mãos alheias. Mantendo-se o exterior inalterado, o interior é outra conversa.
Não me «castiguem» por não referir outros espaços de restauração que ombreiam, também em qualidade gastronómica, com o que refiro. E são vários. Mas nem isto é uma agência de publicidade, nem o espaço e o tempo são ilimitados. De outros se falará a seu tempo.
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Lá está… depois de uma alheira de Miranda, grelhada à lareira e acompanhada por uma simples mas primordial e fresquíssima salada, com o bom sabor dos velhos tempos, eis que dá entrada um cordeiro churro (canhono mirandês) que nos redime de quantos pecados carreguemos…
Aqui fica o brinde, à vossa saúde. E seguindo os ditames de Camões, «melhor é experimentá-lo que julgá-lo; mas julgue-o quem não pode experimentá-lo».
Miranda do Douro (8)
Nada como um passeio nocturno, para desmoer…
Miranda do Douro (9)
Pormenor do interior da concatedral.
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Dir-se-ia que, entre o sagrado e o profano, venha o Demo e escolha. Assim sendo, para o bem e para o mal, há outros «ex-libris» que marcam presença em Miranda.
Deste, com interpretações várias, um dos cachorros da casa na Rua da Costanilha, todas elas serão danadas para a brincadeira… mas que lá estão, lá estão!
Alguns terão adivinhado. Fui até à Terra de Miranda do Douro, lá por onde me criei, ainda que não seja o local de nascimento, mas onde pude encontrar berço de afectos.
Com alguma regularidade, os antigos alunos do Externato de São José (Miranda do Douro) promovem um encontro/convívio em que participo sempre que posso, esbatendo saudades e tentando colocar em dia a premência dos tais afectos.
Irei, pois, em homenagem à terra e suas gentes, colocando por aqui alguns «bonecos» que obtive nesta recente deslocação.
Também porque a Terra de Miranda permanece desconhecida de boa parte dos portugueses, sempre com a invocação de que «fica lá tão longe…» mas, seguramente, bem mais perto do que Barcelona ou Veneza, etc., etc.
E, afinal, há tantas razões que justificam a viagem…
Miranda do Douro (1) – Praça D. João III
Miranda do Douro (2) – Vista parcial da albufeira da barragem da central hidro-eléctrica.
Se valesse a ironia, dir-se-ia que, à esquerda, Espanha; à direita, Portugal; e, no centro, a França. Uma prova de quão néscios (ou pior…) podem ser os homens quando os interesses económicos falam mais alto do que tudo.
Miranda do Douro (3) – As arribas do Douro vistas da cidade de Miranda.
Já fizesteis o passeio fluvial entre barragens? Aceitai uma sugestão: não vos deixeis morrer sem o fazer.
(É verdade, a segunda pessoa do plural ainda é, por lá, muito utilizada, mesmo «an pertués»)
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A fachada principal da concatedral – sabem o porquê desta designação? O senhor google dará uma ajuda.
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O Menino Jesus da Cartolinha, verdadeiro ex-libris da cidade, a quem um bom amigo que também por lá andou, João Pequito, encontrou grandíssimas parecenças faciais com Mário Viegas, na sua juventude.
Mário Viegas que, nos idos de 60 e com os seus catorze anos, ia por lá, passar férias e, já então, a desinquietar-nos com o bichinho do teatro, escreveu uma peça e a levou à cena, tendo a meninada como elenco. E nunca se terão visto tantos príncipes e reis e rainhas por terras de Miranda…
– O curador do rebanho, no caso, também conhecido como pastor.
– Tratado sobre a arte de bem cavalgar toda a sala (é mesmo sala, não foi engano…).
Na encerrada estação de Marvão-Beirã, uma família de cegonhas padece sob a canícula.
– Marvão.
– E, ainda, Marvão e o velho efeito do espelho.
– E, outra vez ainda, Marvão.
Uma nota: uma localidade sem cabos eléctricos a perturbarem a paisagem! A minha chapelada!
– Estação de comboio (abandonada) Marvão-Beirã.
Mais uma prova indesmentível de que somos um país rico e perdulário, onde nunca se atina com possíveis formas de rentabilizar, reutilizando, património edificado… antes que se desmorone.
Valha-nos, então, o foguetório e o festivalório, tão do agrado dos sacristãos do efémero, para irmos coçando todos estes eczemas (se quiserem, podem chamar-lhes dermatites atópicas, que dá um ar mais «apetudeite»).
– De volta a Castelo de Vide. À primeira vista, pareceu-me que a representação de Cristo se preparava para um solo de contrabaixo. Depois, vendo melhor…
Em Marvão, o restaurante-café O Castelo. Um bom sítio para estar.
Apreciei, especialmente, a vertente café. Já o «lounge» tive alguma dificuldade em perceber como desfrutar. O meu velho problema com as línguas estrangeiras…
É verdade que a paisagem é bonita e vê-se até muito «lounge», mas creio que a ideia não era essa…
Publico esta imagem não tanto pelos seus atributos fotográficos, mas como tributo a uma realidade da Ilha do Pico que muito me agradou: Por toda a ilha deparamos com piscinas mais ou menos naturais, verdadeiros aquários onde pululam peixes vários, e cuja qualidade da água, a qualidade das infraestruturas de apoio – todas gratuitas -, como chuveiros, sanitários, cadeiras, sombras, etc., não podia deixar de assinalar. Ah, a propósito, a da imagem, uma daquelas em que até é mais visível a intervenção humana e que se situa para os lados da Piedade, estava com a água a 23º… e eram já 19 horas locais.
O nascer do sol na Ribeirinha. Apontamento fotográfico complementar: imagem obtida ainda deitado na cama… (Ah, aqueles malditos cabos que atravessam tudo quanto é paisagem e até perturbam o direito à preguiça…!)
Porto das Lages do Pico – um dos locais de onde partem as embarcações para observação de cetáceos, como é o caso documentado na imagem.
Umas águas-furtadas nas Lages do Pico, recurso arquitectónico em que esta povoação é pródiga, com particularidades muito curiosas.
Sim, também há gatos no Pico e onde vi os melhores exemplares foi nas Lajes do Pico. Este esteve quase a meter conversa, mas acabou por não dar confiança…
A Ermida de São Pedro (1460) é um templo religioso católico localizado na povoação das Lajes do Pico. Este pequeno templo, com origem na ordem franciscana, é a mais antiga construção religiosa do concelho das Lajes e da ilha do Pico, tendo sido erguido, conforme a tradição oral indica, pelos primeiros povoadores no local onde desembarcaram. Teve como primeiro pároco, não só da ermida, mas da própria ilha, Frei Pedro Gigante, que é considerado pelos historiadores como tendo sido o introdutor da casta Verdelho no Pico. Bem aventurado, pois, por ter dado atenção, também, às coisas terrenas…
Também nas Lajes do Pico, o Museu dos Baleeiros. Imperdível. Na sua loja podemos encontrar diversos livros que documentam a faina dos baleeiros, uma verdadeira gesta de sobrevivência para os ilhéus.
Um exemplo, entre muitíssimos, da tradicional e magnífica arte de gravação em ossos ou dentes de cachalote, onde podemos observar imagens de um realismo impressionante. (Uma pequena nota para os coleccionadores do «politicamente correcto»: a caça aos cetáceos, nos Açores – que, aliás, cessou pelos idos de 80 – , não tem nada a ver com a caça industrial que se fez – e ainda faz – um pouco por todo o mundo. Ali tratava-se, de facto, de economia de sobrevivência e as condições pavorosas em que se efectuava recomendam algum respeitoso comedimento antes de se proferirem apreciações apriorísticas).
No porto das Lajes do Pico, o repouso entre fainas
No Museu dos Baleeiros, cópia de uma foto que documenta os trabalhos da lavoura que complementava a faina da pesca.
Lagoa do Caiado, na freguesia de São Roque. O deslumbramento da paisagem.
Nem só de vacas felizes se poderá falar, passeando pelas altitudes da ilha.
A uma altitude superior a mil metros, ruminando na paisagem, entre neblinas e horizontes impossíveis… Ainda assim, com um interessante toque decorativo na cornamenta.
Lagoa da Rosada, quase-quase a desaparecer por trás da neblina, que chega sem avisar e pode durar tempos infindos. Em meio minuto, vejo-te… e já não te vejo!
Caixa de correio na Ribeirinha – Peculiar reutilização.
No Pico, omnipresença flanqueando as estradas, a beladona (Amaryllis belladonna) assume aqui o pitoresco e carinhoso nome de «meninas que vão à escola» (com algumas variantes, diga-se). Florescem em Setembro e «caminhando» ao longo dos caminhos são, na verdade, como meninas que se dirigem à sua escola…
Ribeirinha – O labor discreto, portas adentro.
Ribeirinha – A sua igreja, elemento omnipresente em qualquer das povoações, e o canal por onde corre a ribeira, mormente nas grandes chuvadas. (Nota – para os puristas, lamento, mas não resisti a «varrer» da imagem tudo quanto eram cabos eléctricos, a perturbar a paisagem.)
Ainda na Ribeirinha, o interior da marcenaria onde se formaram muitos dos marceneiros que ainda existem na ilha, conforme nos informou um senhor que, passando por nós, nos facultou uma bela lição de História da povoação… e, no final, apresentando-se como professor de História aposentado, ainda nos pediu desculpa pelo tempo e conhecimentos com que nos brindou. (A fotografia foi obtida através de uma vidraça muito manchada pelas agruras do tempo…)
Um vitelo curioso com os processos de industrialização.
Vista da janela do meu quarto – possibilidade de sonhar acordado. (São Jorge em fundo)
Primeiro visitante autóctone, a anunciar a exuberância das flores.
Segundo visitante autóctone, agora em chão de lava.
O bucolismo das paisagens… A calma fresca do ar que se respira… Ah, Açores, prouvera que não permitisses que o turismo que tudo destrói te destrua.
Esta simpática veio averiguar se não estragávamos o que estava.
Na Lagoa do Capitão, a resistência das árvores.
Não há bela sem senão. Nos Açores, a conteira (Hedychium gardnerianum) é uma planta invasora cuja proliferação prejudica grandemente a flora autóctone. Ainda assim, e seguindo a pujança que as flores mostram por aquelas paragens, é de uma beleza apelativa.
Na Lagoa do Capitão, com o Pico ao fundo e à esquerda, encoberto pelas nuvens, uma involuntária guardadora de patos mudos partilhou um pão com o bando… Foi amor à primeira vista!
Sua excelência, o Pico, e o seu inseparável Piquinho são personagens caprichosas. Surgem aos olhos da populaça apenas quando lhes dá na veneta… E bem podemos estar uma hora de cabeça no ar à espera do momento, que é tempo perdido. Aqui, piscou-me um olho e logo desapareceu no seu manto de nuvens.
Creio bem que, quando alguém fala de vacas felizes, deve estar a referir-se a estas criaturas, que são uma constante, deambulando por toda a ilha.
Na vila da Madalena, a homenagem do município e do povo do Pico aos Homens do Canal, na pessoa de Gilberto Mariano da Silva. (Ver pormenores em https://acores.fandom.com/wiki/Gilberto_Mariano_da_Silva). Em fundo, a Igreja de Santa Maria Madalena.
Vista geral do interior da Igreja de Santa Maria Madalena, na vila de Madalena.
Os moinhos de vento, de origem flamenga, pontuam a paisagem do Pico. A sua cor vibrante, na paisagem, destaca-os e transporta-nos para vivências não muito longínquas… Na imagem, o moinho do Saca, no porto da Madalena.O moinho do Frade, na Canada do Monte (freguesia de Criação Velha), rodeado pelo modo peculiar de cultivo da vinha, na ilha do Pico
Vista parcial do sistema de cultura da vinha na freguesia de Criação Velha, mas existente por toda a ilha.
Bilhete postal do ancoradouro da Madalena, com vista para o Faial.
A quase imprescindível visita ao Cella Bar, na Madalena. Bons petiscos, bons vinhos, magnífica vista… e convém levar uma carteira razoavelmente recheada, principalmente em dias de sol.
Vista parcial do interior do Cella Bar. Original e aprazível.
Bonecos confeccionados com folha de dragoeiro – outra originalidade.
Imperativa a visita ao Museu do Vinho, também na Madalena, para quem pretenda ter uma noção do trabalho ciclópico do cultivo da vinha naquele chão de lava.
No exterior do Museu, uma plataforma que, para além de uma paisagem soberba, permite apreciar, de alguma altura, a construção labiríntica de um «campo de cultivo».
Ainda no exterior do Museu do Vinho, a magnificência insólita dos dragoeiros.
Vá lá… não se trata de nenhum dragão de Komodo… Mas, ainda assim, trata-se de um dragãozinho de-qualquer-modo.
Rumámos, depois, ao terceiro destino programado para este passeio: a cascata de Anços (ou cascata do Mourão).
Um cabo dos trabalhos para localizar placas indicativas, como é norma. Quando, finalmente e após muitas manobras em vias estreitíssimas, julgámos ter chegado a bom porto, estou convencido de que descobrimos, afinal, o caminho mais árduo e penoso para atingir o nosso destino.
Uma pequena chamada de atenção para os serviços das autarquias: já consideraram o potencial turístico – e refiro-me ao turismo interno – que estes pequenos recantos poderiam representar para o comércio local? E, de seguida, já pensaram que os cidadãos mais «antigos», aqueles que ainda tenham algum poder de compra, têm, por outro lado, aquelas maldades que a idade nos traz: articulações cansadas, capacidade pulmonar e cardíaca que já conheceram melhores dias, etc., etc.?
Se já pensaram nisso, porque é que oferecem estas pavorosas vias de acesso aos vossos lugares de encanto? Ainda por cima, sem uma ambulância do INEM ali à mão para as mais que prováveis ocorrências… Por acaso, o nosso grupo sentiu-lhe a falta, à força de um incidente ocorrido mas, como desenrascados que sempre somos, lá nos safámos.
Enfim, a cascata. Outro lugar magnífico. Ao contrário da água da cascata de Fervença, esta corria límpida. As cabeleiras de limos, saudáveis e viçosos, albergavam os habitantes do costume, rãs, sapos, e bicharada miúda que íamos divisando no correr da água.
Aqui e ali, ainda um saco de plástico que algum parvo-maior por lá deixou ficar, como depósito de lixo mas, ainda assim, sem grande impacto na paisagem.
Também deparámos com um cidadão, com um canzarrão monumental, que considerou que o melhor do seu esplendor cívico era entreter-se a atirar ramos de árvore para a lagoa que a cascata forma, a fim de que o animalzinho de estimação os fosse buscar. E foi, sim senhor, muito bem mandado e com grande estardalhaço e reboliço da tal água límpida que, assim, deixou momentaneamente de o ser.
Mas isso, como é bom de ver, não foi culpa da paisagem… Nem as rãs ou os sapos são seres muito dados a reivindicações de qualidade de vida e outras minudências.
(nota de rodapé – é extraordinária a quantidade de vezes que, nos dias que vão correndo e em espaços de utilização pública, tropeçamos com um qualquer cidadão agindo como se tivesse a presunção de que o mundo foi feito só para ele…)