Sendo este um espaço de marés, a inconstância delas reflectirá a intranquilidade do mundo.
Ficar-nos-á este imperativo de respirar o ar em grandes golfadas.
premonições…
Porque isto anda tudo ligado, aqui fica uma prova irrefutável de que a Banda Desenhada é uma arte superior, com plenos direitos de cidadania, no mundo das artes e não só…
Em 2017, continuando a saga do Astérix, agora pela mão de Jean-Yves Ferri e de Didier Conrad, foi lançado o livro Astérix e a Transitálica.
E o nome do condutor misterioso era…? E passava-se o enredo em…?



Digam-me lá se isto não é absolutamente extraordinário…!
meninos, vamos ao vírus…
(Cansado, muito cansado com o matraqueamento viral a que vimos estando sujeitos, dei por mim a escrever disparates, que é uma terapia de equilíbrio mental que muito prezo e muito me ajuda a sobreviver…)
– para ser cantarolado com a popular modinha Meninas, vamos ao vira…
meninos
vamos ao vírus
ai
que o vírus anda em Lisboa
constou-me que já o viram
ai
às voltas pl’a Madragoa
os vírus são giros
estão cá p’ra ficar
apanhamos vírus
que eles andam no ar
umas vezes dados
sem pedir ninguém
outras emprestados
por meio vintém
se me espirras para cima
ó ai
vais dar comigo em doente
espirra então para o ar
ó ai
que contaminas mais gente
uns tipos matreiros
outros folgazões
poucos verdadeiros
muitos aldrabões
maldições, desgraças
e males de pasmar
que por mais que faças
vais ter de apanhar
não me digas que é de Marte
ó ai
que nos vem a virulência
vais ver que é daquela parte
ó ai
onde falece a ciência
são vírus de porcos
de vacas também
e o das avezinhas
não poupa ninguém
fico duvidoso
de tanta maleita
parece que o demo
anda à minha espreita
e no fim de tudo
iremos morrer
se não for do vírus
é por ter de ser!
Pum, pum…!
– Jorge Castro, em 04 de Março de 2020
a despropósito da eutanásia
Pois, da eutanásia eu sei muito pouco. E, quanto a experiência, nenhuma. Nem é de bom tom ironizar com matéria tão densa e tão pungente. Apesar disso, tenho para mim algo que não me suscita dúvidas: se o indivíduo estiver lúcido, a decisão deverá ser apenas dele. E daqui não saio.
Mas há algo que me preocupa, dir-se-ia, a montante da eutanásia. E, isso sim, é algo de que, enquanto mero cidadão, considero ter sobeja experiência por recorrentes situações familiares próximas em que me envolvi: os cuidados paliativos ou tão-só a assistência na solidão da velhice, agravada pela doença.
E aí, sim, dar-me-ia especial gozo apurar uma campanha referendária, tentando apurar os desígnios do bom povo.
Portugal, nesta matéria, é um exemplo deplorável. Não sei nem me interessa saber o que faz, neste âmbito, o resto do mundo. Não. Refiro-me só ao meu país, onde pagamos impostos (claro, só estou a falar para este sector da população e para os elementos familiares a ele adjacentes…), elegemos presidentes e deputados e autarcas e sindicatos e associações e tal, e somos já uma alegada democracia avançada.
A matéria é de tal modo densa e extensa que nem saberei, em boa verdade, por onde lhe pegar para não tornar este arrazoado numa croniqueta impossível de aturar.
Assim, resumidamente, direi que, tendo passado (e estando a passar) por diversas experiências, cada uma mais traumática do que a anterior, falo de cátedra ao dizer que o sistema de saúde, segurança e apoio sociais instituído em Portugal… só virtualmente existe, no que respeita à tristemente concelebrada terceira idade (e quarta e quinta e etc.).
Espanta-me, pois – ou talvez não – aquilo que com grandes palavras chamarei o cinismo hipócrita que escuto dos diversos agentes no terreno que se afoitam a dissertar sobre a eutanásia e apenas muito, muito raramente, referem ao de leve o descalabro a que está sujeita uma fatia considerável de concidadãos, absolutamente abandonados à sua sorte… ou à falta dela.
Experimentem acompanhar um vosso familiar (ou amigo), com grau limite de incapacidade a um hospital público ou mais-ou-menos. Umas análises, uma prescrição de uns comprimidozecos e uma palmada nas costas «então-vá-lá-para-casa-curtir-as-dores-e-a-maleita», despachado em alta velocidade, não vá ter a veleidade de se deixar morrer por ali, atrapalhando o tráfego, como diria o Chico Buarque.
Dos privados nem falo. Aí reza o dinheiro e, em função dele ou da sua ausência, assim decorre o atendimento.
Para aqueles que me estejam a olhar de lado, desconfiando que o gajo esteja a resvalar para a direita populista, sempre vos relato um facto, isso mesmo, uma coisa que me aconteceu: a minha mãe, após operação extensa à coluna por metástases de doença oncológica, no Hospital Egas Moniz, e depois de a terem despachado, três dias depois (!), «para recuperação» no Hospital de Cascais, apesar de se saber que não havia recuperação possível (e, já agora, nem serviços de oncologia naquela unidade…), onde ficou cerca de dez dias numa cama num corredor, deitada de costas – o que nos tinha sido anunciado como absolutamente contra-indicado -, passou uns breves dias num quarto com mais uma dúzia de moribundos, após o que lhe deram alta.
Note-se que os três filhos sempre estiveram presentes, diariamente e várias vezes ao dia, e daí nem se poder falar de algum caso de abandono familiar.
O que é verdade é que, certo dia, estávamos no inverno, ao chegar ao Hospital de Cascais, pelas 19 horas, deparei com uma maca, na portaria, onde se encontrava a minha mãe, parcamente agasalhada, absolutamente incapacitada de se locomover e padecendo de dores atrozes. Tinha tido alta! Claro, das dores falava ela, pois parece que mais ninguém as sentia do mesmo modo e eu tenho tendência para considerar que ela não estava a enganar-me.
Apesar das nossas visitas diárias, repito, nenhum familiar foi avisado nem da decisão nem da atitude nem, sequer, de qualquer premência por parte da instituição.
Como se poderá imaginar, foi alto o pé-de-vento que me vi obrigado a desencadear no Hospital para fazer regredir aquela estúpida, insensata e desumana «alta» – se calhar até lhe poderia chamar criminosa… – , pelo menos até que os filhos pudessem encontrar um lugar onde, mediante bom pagamento, pudéssemos acolher a nossa mãe com mínimos de dignidade.
Claro, o desfecho é o que imaginam: cerca de quinze dias depois, a minha mãe faleceu. Todo temos de ir, não é? E assim dizemos…
Ou aquela do meu cunhado, com uma hérnia inguinal absolutamente monstruosa e incapacitante que, nos últimos dois meses, se deslocou ao Hospital (por sinal, o mesmo) por seis vezes, queixando-se de dores pavorosas, com problemas graves no trânsito intestinal… e que sempre foi mandado para casa com os tais comprimidozecos. Chegou ao hospital de ambulância por não se poder locomover e regressou de ambulância, pois então. Não há, entretanto, quaisquer notícias de para quando a intervenção cirúrgica, que se diria imperiosa e urgente.
Houve até, um relatório a que tive acesso, onde um tipo qualquer que exerce Medicina escreveu, textualmente, no relatório para a Assistente Social: «o paciente queixa-se de dores ligeiras». A Assistente logo dispôs de um álibi para não fazer nada, que ele há muito quem precise mais.
(Se alguém duvidar, posso sempre ter o mau gosto de mostrar fotografias, quer da hérnia, quer do relatório)
Poderia contar vários outros casos vividos directamente. Mas vocês também os têm e conhecem outros, pois esta é a vulgar realidade com que todos deparámos em algum momento das nossas vidas.
Rede de cuidados paliativos? Pois, temos muita pena mas não há; está tudo cheio… Apoio social institucional aos idosos incapacitados? Era bom, era, mas ele há muito poucas vagas… Apoio domiciliário? Talvez, com jeitinho e capacidade de persuasão… e pagando, claro!
E como as pensões e reformas são a fartura que todos sabemos, paga o directamente interessado e pagam os filhos e, se for preciso, até pagam os netos, que o mercado não tem culpa de que as reformas andem pela hora da morte – se calhar, na verdadeira acepção da expressão.
E disponibilidade dos familiares para darem assistência? Ah, é difícil, porque a malta que ainda está ao activo tem uma vida muito competitiva e, se começa a não ser tão assídua por uma semana que seja, quando lá voltar já tem o lugar ocupado por algum interessado que estava em fila…
Neste contexto, discutirmos essa coisa tão difícil quanto é a eutanásia e, ainda por cima, discuti-la pela enésima vez? Eh, pá, deixem-se lá de merdas e comecem a dar algum bom uso aos impostos, taxas e taxinhas que pagamos porque somos cidadãos e assim devemos ser tratados, para além de se servirem deles para acudir aos pobrinhos dos banqueiros indigentes!
bom ano de 2020
Iniciado «oficialmente» em 01 de Janeiro de 2004, este espaço salta, a pés juntos, para o seu décimo sexto ano de existência. Aos que o frequentam ou frequentaram, um forte abraço. Para os que nem sonham com a sua existência, um forte abraço, também.
Cada ano, cada átimo temporal, é sempre muito o que dele fazemos. Façamos, pois, todos um excelente 2020!
E deixo-vos com um apontamento, a propósito, do qual recomendo visualização, criado pelas SaganSeries, e que se refere ao tanto que convosco quero partilhar neste momento:
reflexão natalícia (mas pouco…)
Assisto (assistimos) incrédulo ao afã com que inúmeras autarquias nos anunciam a queima do «madeiro do Natal ou do Ano Novo», como uma espécie de ex libris de engrandecimento da terra e respectivas gentes…
E, lá está, vemos, ouvimos e lemos e, se calhar por mau-feitio pouco esclarecido, percebemos mal. Pelo menos, eu não percebo mesmo nada.
Então, eles são os flagelos dos incêndios (sempre dantescos), ele é a emissão de carbono e de gases com efeito de estufa, ele é a salvaguarda do património florestal, elas são as famílias carenciadas sem lenha para se aquecerem, porque ao preço da electricidade não chegam, e os senhores autarcas a que temos direito o melhor que lhes ocorre é incendiarem um madeiro, durante dias a fio, para engrandecimento das terras?
Valha-nos um burro aos coices, como diria um velho professor que eu tive!
Buonas Fiestas a todo l mundo
Permitam-me que ocupe um cachico do vosso tempo para vos dar a conhecer como se dão as boas festas nas terras onde passei a minha nineç, o planalto mirandês. Espreitem aqui:
E, já que aqui estamos e de caminho, cá vos deixo os votos de um 2020 cheio de felizes realizações.
Jorge Castro
a Patxi Andión
A cadência de homenagens, nestes meus dias que vão correndo, sendo certo que é aquilo que temos de esperar na vida, não é menos certo que nos deixam um nó na garganta, que nem sei se chore, se grite.

Patxi Andión. Ouvi-o, pela primeira vez, em 1969, no programa Zip-Zip. Passaram-se, então, 50 anos exactos, sempre a receber de alguém canções marcantes, que me acompanharam e ajudaram a viver.
Um dos poemas que eu conheço mais pungente e melancólico magistralmente acompanhado por uma interpretação a condizer e de que nunca me esquecerei…
20º aniversario – Palabras ( https://www.letras.mus.br/patxi-andion/1811001/ )
20 años de estar juntos
Esta tarde se han cumplido
Para ti flores, perfumes
Para mi, algunos libros
No te he dicho grandes cosas
Porque no me habrian salido
Ya sabes cosas de viejos
Requemor de no haber sido
Hace tiempo que intentamos
Abonar nuestro destino
Tu bajabas la persiana
Yo apuraba mi ultimo vino
Hoy en esta noche fría
Casi como ignorando el sabor
De la soledad compartida
Quise hacerte una canción
Para cantar despacito
Como se duerme a los niños
Y ya ves, solo palabras
Sobre notas me han salido
Que al igual que tu y que yo
Ni se importan ni se estorban
Se soportan amistosas
Mas no son una canción
Que helada que esta casa!
Sera, sera que esta cerca el rio
O es que entramos en invierno
Y estan llegando, estan llegando
Los frios
uma pequena vaidade…
Há alguns meses atrás fui contactado por uma plataforma de educação brasileira, o SAS Iconografia (https://jobs.kenoby.com/saseducacao), que me solicitou permissão para integrar um poema de minha autoria (poesia visual) numa sua publicação didáctica.
Autorização concedida, eis que me chega o meu poema e a página onde se encontra publicado. Pela sua curiosidade e pelo interessante conjunto de questões formuladas no mesmo, aqui fica, como razoável exercício de vaidade… e não só.


A cantiga é uma arma…

… e ele bem sabia!
E que bem que o transmite. E a saudade que já nos fica…
José Mário Branco (1942-2019), uma companhia e uma referência para a minha vida toda. Uma mente sempre lúcida. Um exemplo inicial, inteiro e limpo, como se diz no poema de Sophia.
Alguém que soube dar voz a um outro Portugal, com persistente coerência.
Salve!
Noites com Poemas
com o Núcleo de Fotografia de Oeiras
– Imagens de mil palavras
Imagens de Mil Palavras, a próxima sessão das Noites com Poemas, que conta com a participação de elementos do Núcleo de Fotografia de Oeiras (NFO) e que terá lugar no salão nobre do Palácio do Marquês de Pombal, em Oeiras, no próximo dia 22 de Novembro (sexta-feira), pelas 21h30.
O desafio: cada participante inscrito através do NFO selecciona uma fotografia de sua autoria à qual irá associar um poema (do próprio ou não), poema esse que será a «legenda» da imagem, apresentado pelo respectivo autor ou alguém que por este seja para tal incumbido.
Se a selecção de imagens pode ser pesquisada em https://www.facebook.com/search/top/?q=nucleo%20fotografia%20de%20oeiras-nfo&epa=SEARCH_BOX , já os poemas serão mistério a desvendar na própria sessão. Não os perca, pois.
Esta sessão conta com o apoio da Câmara Municipal de Oeiras.