exercício em defesa da escultura «Amores de Camilo» de Francisco Simões e contra os moralistas de outras eras

Em 2012, a Câmara do Porto aceitou a doação da estátua “Amores de Camilo”. Essa doação foi aprovada pelo Executivo Municipal, motivo que impede que seja retirada (felizmente…).

«que terão eles visto na estátua que eu não vi nem viste tu?
perturba-os a senhora nua ou o Camilo não estar nu?»
– isto vai dizendo o Eça à Verdade que ele enlaça…

ah houvera quem vos dera no vosso alvar frontispício
mesmo em retórico exercício
senhores donos do pudor
com um bronze ou um granito que vos esculpisse algum grito
sem vos causar mal maior
mas recentrando a esfera da cabeça… se a tivéreis

não sabeis vós que a nudez afinal foi quem vos fez?
ou será que a vossa afronta vem de algo de pouca monta
que sem força não ergueis
– falo eu do argumentário
que de frustre e passadista
mais soa a reaccionário com presunção moralista

«olhai bem para o que eu digo
não cuideis de quanto eu faço»
diz o abade ao abrigo de seus filhos no regaço…
não sejais tais sacripantas
sacristas ou até eunucos
tudo em redor conspurcando com seus aleivosos mucos

não frequentais vós as praias
oh cruzados da moral?
não vos perturbam as belas com tanto fio dental?
que mostra mais do que esconde
quanto na mulher avonde
e é de si primordial?

deixai-vos lá dessas tretas
ou armados em ascetas
proibireis o areal?

– até o mar que as banha
havia de vos querer mal!

  • Jorge Castro
    17 de Setembro de 2023

diário breve de um pró-testante

( = indivíduo que está em vias de se submeter a um teste)

Isto está uma maçada. Depois de estar três dias para tentar fazer um teste à Covid sem conseguir chegar a ser atendido, tal o tamanho das filas de espera nos postos disponíveis na cidade, e de ter tentado, sem êxito, em duas urgências hospitalares, invocando dores de cabeça e, até, de barriga, decidi que hoje é que tinha de ser.

Assim, levantei-me às cinco da manhã e, às seis, já estava na fila do posto de testagem mais próximo de casa. Felizmente, hoje não chove. À minha frente estavam só uma família de cidadãos brasileiros que querem regressar ao Brasil e quatro jovens austríacas que tiveram de passar esta noite na rua, por não serem aceites no «hostel» onde tinham reserva, sem apresentarem teste válido.

Meia-hora depois, já a fila parecia uma autêntica bicha, com cerca de duzentos metros de gente, ansiosamente à espera do mesmo.

Às nove horas, já o movimento da feira, ali ao lado, estava em grande, quando abriu o centro de testagem e cerca de um quarto de hora depois já eu estava despachado, aguardando apenas o resultado, já do lado de fora…

Veio, então, uma senhora muito simpática que me informou de que estava tudo bem, com o teste negativo.

Pronto. Agora já posso ir à feira comprar umas coisitas que ainda me faltam para a passagem de ano. Depois vou ao supermercado para ver se ainda apanho umas gambas e duas garrafas de Raposeira. Não esquecer o bolo-rei e as passas na mercearia da rua, que já estão encomendados. De caminho, compro os jornais e as revistas para este fim de semana prolongado e bebo o cafezinho da praxe no café da esquina, onde sempre se trocam dois dedos de conversa com os «residentes» habituais.

Isto, parecendo que não, mas uma pessoa fazer o teste dá-nos muito mais tranquilidade…

Então, votos de um feliz ano novo para todos e com muita saúdinha, sim?

ora, brinquemos, pois… (na quadra natalícia)

Diz-me o feicebuque: “Jorge, encontra alguém que goste de ti por aquilo que és. Junta-te às 5.000 pessoas solteiras que estão a marcar encontros em Cascais”.
Isto só pode ser uma partida daquela personagem que nós sabemos que não existe, o tal de Pai Natal.
Mas, agora, fiquei com um problema: será que conheço muita gente que gosta de mim por aquilo que eu não sou? E, com os constrangimentos anunciados por António Costa, como é que vou juntar-me a 5.000 almas solteiras, em Cascais, estando eu casado?
O feicebuque anda com o algoritmo marafado, é o que é…

Acabado de ouvir num centro comercial perto de si:

  • O cavalheiro importa-se de não invadir os meus 5 metros quadrados?
  • Minha senhora, com o devido respeito, quem invadiu os meus foi a senhora…
  • Desculpe, mas eu já estava junto a esta prateleira, só que o artigo está muito alto e desequilibrei-me.
  • Pois… não sei. Mas agora como é que vamos resolver isto? Sempre é a saúde pública que está em risco… O melhor é chamar o segurança.

Isto da conversa politicamente correcta tem os seus quês.
Por exemplo, o défice cognitivo, querendo significar algum padecimento mental…
Eu tinha sempre défice cognitivo quando recebia uma negativa numa qualquer prova escolar.
Isto não está fácil…

Acabadinho de ouvir no noticiário da SIC, de um repórter de serviço: “… e se dúvidas houvessem…”.
Não, carais! É HOUVESSE, gente.
Chiça, que se errar é humano, errar demais é desumano!

Até que enfim, tropecei numa notícia positiva.
Andava eu acabrunhado com o desaparecimento dos bidés das actuais casas de banho, sem saber como providenciar, nessa ausência, necessidades higiénicas elementares, e eis que descubro as “smart toilets”, equipadas com uns “multiclean advance square”, que fornecem jacto de água quente, limpeza a seco das partes pudendas…. e sei lá que mais!
Parece que os homens precisam apenas de ter cuidado para não carregar no botãozinho, com legendas em inglês, que se destina à remoção de pensos higiénicos.
A tecnologia é linda…!

a história do hidroavião revisitada…

Então, quer-se dizer (linguagem popular), um hidroavião cai, em França, e provoca um incêndio… e eu fico sem electricidade durante cerca de duas horas, em Cascais?

Para além de todas as conjecturas que possamos fazer, uma coisa me parece evidente: quando alguém fala em soberania nacional deve estar sempre no domínio da ficção. Ou, colocado de outra maneira, quantos portugueses sabiam que esta ocorrência era, sequer, possível?

Ah, em certos momentos, a electricidade que consumimos vem de França e até é muito mais barata porque eles têm diversas centrais nucleares. Ora, aí está: por isso é que passámos a pagar a electricidade muito mais barata, não é, meninas e meninos? Ou talvez não. Eu imagino, só os custos do transporte daquele energia toda, de lá tão longe. E, se calhar, é em pó, com camiões TIR e tudo… Isto quando se andava com estas coisas de burro saía muito mais em conta.

Melhor do que isso, só mesmo a electricidade que compramos a Marrocos, produzida em centrais idênticas à de Sines – que encerrámos – mas que não têm, nem de perto nem de longe, os pruridos ambientais que a nossa tinha. Como é diferente a energia, em Portugal!

Nota a posteriori – Felizes os tempos em que os apagões nacionais se deviam ao jacto de dejectos lançado por uma cegonha. Sempre era um animal já nosso afeiçoado, residente, que nem emigrava, dado o clima ameno. Imaginem, agora, o que será quando, num futuro próximo, algum panda, lá na longínqua China, se chatear com um CEO eléctrico qualquer, aqui em Portugal… É que isto anda mesmo tudo ligado… e não é só à corrente.

bom e feliz ano novo!

A vida tem muito daquilo que quisermos fazer dela.

Hoje, por exemplo, para aqui limitados e constrangidos, recebi de mão amiga uma sugestão para os aficionados dos fogos de artifício que estão tristes por não poderem sair à rua para deitar fora o ano velho e receber o ano novo.

Aqui a partilho, com a devida vénia, com os votos de que 2021 seja um ano pleno de criatividade e bom humor, com saudinha da boa à mistura.

https://www.facebook.com/andres.helgason/posts/10157668169492623

finalmente, uma certeza em tempos de pandemia!

Após exaustivos estudos no universo doméstico, inquirida que foi para cima de uma pessoa, concluiu-se, sem qualquer margem para dúvidas, de que na exacta proporção em que a pandemia nos confina, mais se expande a indústria doméstica de panificação.

Só não vos convido a servirem-se porque, embora alguns ainda não o saibam, o convívio nas «redes sociais» apresenta algumas limitações… O recheio (não visível): enchidos vários, presunto, leitão.

Enfim, como dizia o poeta, «melhor é experimentá-lo que julgá-lo, mas julgue-o quem não pode experimentá-lo».