um copo de água não se nega a ninguém.

Estou a pensar que isto de viver num concelho que ganhou a fama de ser o mais chique de Portugal – ainda se lembram do termo? – tem, no entanto e nos entrefolhos dos interesses instalados, muito que se lhe diga e nem tudo é abonatório do estatuto.

Seria longa e fastidiosa a conversa, por isso vou encurtar. Falemos de água ou, mais exactamente, da facturação das Águas de Cascais, S.A., que é uma daquelas empresas privadas vá lá a gente saber porquê.

Nem tecerei grandes comentários. Deixo apenas um extracto da última factura recebida. Consumo real, lido e facturado, correspondendo a 60 dias: 3 metros cúbicos. Valor a pagar 36,11 €.

Estou a pensar muito seriamente em fazer um contrato de abastecimento com uma empresa de água mineral.
A chatice é que, alegadamente, no interesse da saúde pública e pela letra da lei, sou obrigado a ter um contrato com as Águas de Cascais.

Por acaso ou por razões de mau feitio, uma legislação que me obriga a ter um contrato com uma empresa privada, sem concorrência, também é uma história para a qual ainda hei-de pedir a um entendido que me faça um desenho para perceber melhor o conceito, que isto da idade anda a tirar-me muito discernimento…

Deixo-vos, então, o tal extracto que é um tratado de fintas e malabarismos dignos de um Cirque du Soleil.

Carcavelos – Quinta Nova de Santo António
ou dos Ingleses

Habituei-me a ver (e a disfrutar) essa bela mancha verde que se interpõe entre Carcavelos e a praia – onde se localiza o melhor e mais amplo areal da chamada Linha de Cascais – desde a minha vinda para estas paragens, em finais da década de 60 do século passado. Passeio entre amigos, em debates intensos mas discretos, ou com a namorada – onde o aconhego do arvoredo favorecia afectos não permitidos em circunstâncias normais…

Um ribeiro, árvores variadas e frondosas, carreiros criados pela habituação da passagem, fauna e flora que se refugia nestes últimos constrangidos redutos e que o ser humano ainda lhes disponibiliza. Enfim, um pequeno vislumbre do que a natureza tem para nos oferecer, mesmo se estamos a falar de um espaço criado pela mão do homem, mas no qual a tal natureza já imprimiu a sua identidade e supremacia.

Agora, este espaço está debaixo de fogo pela perspectiva de mais um gigantesco e megalómano projecto de urbanização, em que a parte destinada a zona verde tem vindo a ser progressivamente reduzida, até atingir os extraordinários 15% (…!…) actuais. Ou seja, umas fiadazitas de árvores entre os prédios gigantescos e gigantones a construir… apesar da opinião largamente maioritária da população.

Hoje, fui até lá para matar saudades, ver o estado actual – até para memória futura – e, desse passeio quero dar-vos notícia em imagens sem grandes palavras. Cá vão elas:

Ao fundo, instalações desportivas onde joguei futebol e ténis. Bastava alugar o espaço.
Escultura viva e natural na paisagem
Parte do leito maltratado da ribeira
Resto do pavimento de um dos acessos às edificações que pertenciam ao Cabo Submarino… de onde irradiava informação para todo o mundo, literalmente
Túnel de acesso…
… ao tal areal espectacular
Estas duas imagens de um pombo torcaz aqui ficam como representantes do que é uma fauna (aves, nomeadamente) já muito diversificada que por ali se encontra, pardais, estorninhos, rabirruivos, pintassilgos, corvos, gaios, pombos torcazes, melros, corujas e mochos, etc., etc.

Digam-me lá: é de transformar tudo isto num amontoado de blocos habitacionais destinados a «aristocracias» ou «elites» de novo tipo que por aí pululam? Não seria de destinar este espaço ao usufruto da população onde, a haver espaços habitacionais, poderiam colher exemplo do que se vai fazendo, pelo mundo fora, e de acordo com os conceitos de sustentabilidade que tanto se apregoam mas que são tão «bombardeados»? Mais construção com tantos prédios ao abandono? Será este o reflexo prático mais adequado aos cuidados a ter com a preservação do ambiente?

«Carta Verde», o Estado… e eu

Esta croniqueta poderia chamar-se «tudo a favor do privado, nada contra o privado» ou «uma nota autobiográfica exemplificativa do meu espírito miudinho».

Recebi hoje, da seguradora com quem tenho contrato obrigatório para a minha viatura, uma mensagem onde constava, em anexo, a minha «carta verde» actualizada.

Como foi a primeira vez que ocorreu tal modalidade, pois que a recebia por via dos CTT, tentei apurar se estaria tudo em circunstâncias legais. E está.

Por força da Portaria 234/2020, de 08 de Outubro, a «carta verde» deixa de ter a obrigatoriedade legal de ser verde… porventura para não ser confundida até com algum marciano, agora com estas viagens de ida e volta para Marte tão facilitadas.

A «carta verde» passa, então, a ser branca. Maravilhas do progresso e das tecnologias, dir-me-ão. Mas atentemos no seguinte:

  • Recebido o documento por email, há que imprimi-lo, pois a obrigatoriedade de afixação da vinheta na nossa viatura não cessou. Passo, então, a ser obrigado a ter uma impressora instalada em casa ou a recorrer a algum serviço de impressão externo. Num caso e noutro, a expensas minhas.
  • A seguradora deixou de ter o encargo dessa impressão, além de ter deixado de ter o encargo de expedição pelos CTT.

Devo, portanto, presumir, que o seguro que pago vai baixar na devida proporção da diminuição desses custos. Ou não? É que o «resíduo» que me caberia, multiplicado por muitos segurados, deve representar uma diminuição jeitosa de encargos anuais para a seguradora.

Devo também presumir que o Estado presume que todos os cidadãos com seguro obrigatório para viaturas têm computadores e impressoras disponíveis.

Como a existência de uma Portaria leva a pensar que o Estado sabe o que se está a passar e como o Estado é o suposto garante dos interesses dos seus cidadãos, devo, ainda, presumir que o Estado já montou uma rede de impressoras, a nível nacional, que apoie os cidadãos, até o senhor Manel que ainda apascenta um rebanho lá nos confins da serra, mas tem uma lambreta para ir ao médico à cidade mais próxima…

Depois, admirámo-nos dos rendimentos pornográficos de gestores como Mexia e Companhia. Como é diferente o privado em Portugal…

presidenta? (serviço público)

Pela mão do meu amigo João Paulo Oliveira, recebi hoje uma notícia chocante: a palavra PRESIDENTA existe!

Do acanhamento pela ignorância, passando pela estupefacção e desaguando na humildade, os meus ouvidos estremeceram.

Então, aquilo não era só um «feminismo» da Dilma Rousseff?

Pelos vistos e, consultando a Wikipédia, podemos confirmar: «A norma culta da língua portuguesa aceita as duas grafias – presidente e presidenta – como corretas e aceitáveis. Ainda em 1889, o Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo utiliza o termo “presidenta” significando mulher que preside e outros dicionários também o seguem; por exemplo, de acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “presidenta” é o feminino de presidente, embora seja menos usual. Já o Dicionário Aurélio afirma que a palavra pode ser usada no masculino e feminino, apontando “presidenta” como “esposa do presidente” ou “mulher que preside”. O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis e o Dicionário Brasileiro Globo também atribuem a mesma significação que o dicionário Aurélio.»

No seguimento, apurei nos quatro dicionários – ou pai dos burros, como o meu pai lhe chamava – que existem cá por casa, do Houaiss ao Dicionário Prático Ilustrado da Lello… e a informação é unânime e concordante.

Em boa verdade, nunca podemos ter a pretensão de saber tudo… Tanto mais que, por exemplo, não existe o feminino de ESTUDANTE ou de vários outras palavras com a mesma ou idêntica terminação (descendente, ascendente, intendente, etc., etc.).

Será, pois, um dos muitos particularismos, chamemos-lhe assim, da Língua Portuguesa. Sendo certo, entretanto, que utilizar o termo PRESIDENTE referido a homem ou mulher, também não será incorrecto.

Aqui fica o apontamento, para minha e vossa salvaguarda, para além de diatribes ideológicas ou outros conceitos estranhos à nossa Língua-Mãe.

pão caseiro confinado

Hoje está a dar-me mais para o serviço público. E, assim sendo, publico algo que vimos fazendo cá por casa… pelo menos até que os açambarcadores não limpem a farinha toda dos mercados. Segue imagem do produto final, que aperfeiçoamos a cada dia que passa e que está ao alcance de (quase) todas as bolsas. Apresento, também, a receita, em forma de exercício «enquadrado». Trata-se então do PÃO CASEIRO CONFINADO:

ontem eu fiz um pãozinho
hoje um pãozinho farei
e amanhã devagarinho
faço o pão como eu cá sei

junto à farinha algum sal
junto ao sal algum fermento
e misturo o farinhal
amassando a meu contento

e depois de levedar
ponho o chouriço e o toucinho
embrulho tipo folar
e espero um bocadinho

o bocado já passado
toca de ir para o forno
que não esteja assanhado
p’ra não queimar o contorno

passada uma meia horita
e depois de arrefecer
um tintol que me espevita
… e então é só comer!

Jorge Castro
06 de Abril de 2020

NOTA DO AUTOR – Pode, até, distribuir-se pela vizinhança, atirando-o de janela a janela. Para tal, deve moldar-se a massa em forma de disco voador, como quem brinca na praia…

uma pequena vaidade…

Há alguns meses atrás fui contactado por uma plataforma de educação brasileira, o SAS Iconografia (https://jobs.kenoby.com/saseducacao), que me solicitou permissão para integrar um poema de minha autoria (poesia visual) numa sua publicação didáctica.

Autorização concedida, eis que me chega o meu poema e a página onde se encontra publicado. Pela sua curiosidade e pelo interessante conjunto de questões formuladas no mesmo, aqui fica, como razoável exercício de vaidade… e não só.