Helena Matos e a desinformação

Helena Matos dixit, no Observador, em 11 de Julho, p.p.: «Quando a SIDA apareceu nos anos 80 não se proibiu nada a ninguém. Em 2020, quando chegou o COVID proibiu-se quase tudo a toda a gente. Somos as cobaias de uma nova forma de governar: o social-sanitarismo»

Eu tendo a sentir muita consideração por todo e qualquer ser vivente e pondero sempre evitar meter-me nas tamanquinhas de cada um, até por razões profiláticas. Mas quando alguém partilha uma opinião, o mínimo que se espera é o seu eco, a ressonância produzida.

Assim sendo, quando alguém que se arvora em jornalista publica um artigo de opinião assume o que vulgarmente se chama responsabilidade social acrescida.

Ora, Helena Matos ao pretender comparar a SIDA, nos idos de 80, à actual COVID, para defender uma agenda política que é muito sua, comete, em meu entender, vários pecados indefensáveis:

  1. Confunde – e tenho de admitir que o faz deliberadamente, tal a monumentalidade do disparate – duas realidades cientificamente distintas, muito especialmente no que à relação entre seres humanos respeita e, portanto, à transmissibilidade da doença.
  2. Ignora, também deliberadamente, a dimensão comparada do impacto social entre ambas as maleitas… (Veja-se o exemplo da necessidade do teletrabalho: no que respeita à SIDA – e se me é permitida alguma ironia – apenas se justificaria em relação às equipas de produção de filmes pornográficos ou naqueles casos em que um ambiente de trabalho se revelasse muito promíscuo para além das tarefas do dia-a-dia, com vários «bodystorming» sobre as secretárias, maquinas de costura, etc…).
  3. Promove, concomitantemente, a desinformação num momento histórico em que o comum cidadão se debate no mar de informações contraditórias ou antagónicas que colocam em causa a sua própria sobrevivência.

Poder-se-ia continuar, mas não vale a pena. Helena Matos, como tantos «jornalistas» a que vamos tendo direito, não é tanto jornalista mas mais uma opinativista – o que, se calhar, até é um neologismo covidiano. Talvez por isso conceitos como a deontologia não se lhe aplicam nem há ordem profissional que a sustenha.

O bêbedo da aldeia não teceria melhor comentário, entre dois copos de três.

O Observador paga-lhe por isto ou para isto? É que até isso fará diferença…

Sintra – Cascatas e Lapiás (Parte 2)

Lapiás é um nome estranho. Habituei-me a espreitá-los de fugida na estrada que leva a Negrais, sempre que me assaltava uma vontade forte de degustar um belo leitão, naquela região de Sintra.

Sinalização única na estrada

Como se pode ver no «doutor Google» e, nele, na «doutora Wikipédia», (https://pt.wikipedia.org/wiki/Lapi%C3%A1s) , lapiás ou lapiaz (palavra derivada de lapiaz, do dialeto da região do Jura) é uma formação típica de relevos cársticos, produzida pela dissolução superficial de rochas calcárias ou dolomíticas. Também pode ser causada pelos ciclos de congelamento e degelo em regiões de clima frio. Esclarecidos? Ora, ainda bem.

Em termos estéticos, acrescento que os lapiás de Sintra me transmitem uma sensação de irrealidade, de estar num outro mundo, que conheço apenas de efeitos cinematográficos… mas que ali não existem. É mesmo assim.

Desta vez, decidi então ir observar esta curiosidade natural mais de perto. Estacionei mal, pois não há local nenhum, nas imediações, que sirva para tal fim. Presumo que seja, também aqui, para preservar o ambiente…

As formações rochosas que a natureza moldou

O manto vegetal – riquíssimo e de grande beleza e diversidade – que cobre, actualmente, todo aquele espaço impede a visão de conjunto do aglomerado rochoso. Mas proporciona, por outro lado, uma sensação de aventura e descoberta, pois temos de nos embrenhar no mato para desvendar as formações rochosas. Não se perde interesse no passeio, por esse facto, pois dá-nos azo a ir descobrindo, a cada passo, o que a natureza tem para nos oferecer: flores variadíssimas, insectos, espécies arbustivas, trepadeiras, árvores diversas, de que destacaria o carvalho cerquinho.

Carvalho cerquinho que me proporcionou o ensejo de esclarecer alguns dos meus acompanhantes sobre a origem dos bugalhos, que víamos pendurados da galharia, a par das bolotas, essas sim o fruto daquela espécie arbórea. Já agora, aqui fica um esclarecimento:

Maria João Horta Parreira, da associação Plantar uma Árvore, explica o que são os bugalhos, para que servem e como distingui-los das bolotas.

Os bugalhos são galhas, isto é, multiplicações celulares que se formam nos órgãos das plantas como resposta à picada de insectos ou ao ataque de fungos, bactérias ou nemátodos. Assim, os bugalhos não são frutos, mas estruturas que as plantas produzem em resposta a agressões externas. https://www.wilder.pt/naturalistas/cinco-factos-curiosos-sobre-os-bugalhos/

Como informação complementar sobre este passeio, sempre vos digo que existe um percurso para caminheiros, devidamente assinalado, que é útil para não nos perdermos naquele «enredo vegetal», com trilhos perfeitamente visíveis e sem dificuldade.

Na despedida, a natureza mostrou-se fazendo pela vida.

25 de Abril

Porque é Abril e, nele, o dia 25, aqui vos deixo uma imagem alegórica que o meu filho Alexandre criou a partir de fotografias minhas obtidas nesse dia, em 1974.

Imagem a imagem, é por Abril que vamos.

Foi pela força das armas, não o esqueçamos, que Abril de 1974 aconteceu.

Mas pela força das armas que, a começar pelo Movimento dos Capitães, culminando na incondicional adesão popular, soubemos todos temperá-la com a candura de um cravo.

E, assim, esse momento inspirador e único deu novos mundos ao mundo.

Do meu livro «Abril – Um Modo de Ser», o poema «Abril, sempre!»:

ABRIL, SEMPRE!

na dolência de nos quedarmos tão sós
na cadência sincopada de agonias
contra quanto de tão vil afoga a voz
na premência da urgência de outros dias
não te esqueças desse grito com que alarmas
o presente e o futuro que querias
pois o Abril das quimeras
e utopias
esse Abril rima bem com povo em armas.

Para quem traz Abril no peito, podem ouvir o meu poema aqui:

https://www.facebook.com/1271511073/videos/10224546206743937

Abril em 2021

ABRIL EM 2021

Tenhamos sempre bem presente que o 25 de Abril de 1974, redentor e fonte infinita de inspiração, não se esgota nas nossas memórias.

Para que Abril (nos) sobreviva, a passagem de testemunho às novas gerações é imprescindível.

Não o «nosso» 25 de Abril – que por ele ansiámos, que o vivemos e que hoje celebramos -, mas o Abril de cada dia e de cada ser vivente que se alimenta de liberdade, respira democracia e anseia por condições dignas de trabalho e de vida.

O pão, a paz, habitação, saúde e educação não foram, como não são, apenas estribilho de canção do Sérgio que nos sabe bem entoar mas, antes, realidades tão concretas e definidas como outra coisa qualquer, parafraseando Gedeão.

E «as portas que Abril abriu» estão, ainda, muito longe de terem permitido a passagem de toda a gente. A reivindicação pelo pão, a paz, a habitação, a saúde e a educação estão aí, na ordem do dia.

Não é a «nossa» realidade de há 47 anos que pode ser invocada para alterar o actual estado de coisas. Isso não faz qualquer sentido. A mesma água não volta nunca a passar por baixo da mesma ponte. Lembremo-nos, a propósito, de um chavão que muito usávamos: a análise concreta da situação concreta.

Podem e devem as novas gerações reinventar Abril e fazê-lo seu. E a elas só compete essa missão. Podemos e temos absoluta obrigação, nós, os mais antigos, de acompanhar, solidariamente, esse processo, não fechados no nosso mundo, mas atentos e expectantes ao que lá vem, braço com braço com os nossos filhos e os nossos netos.

Exactamente porque não há «donos de Abril». Nem velhos nem novos.

Abril é um modo de ser.

  • Jorge Castro
    25 de Abril de 2021

breves (ou nem tanto) reflexões ao correr da pandemia, dos feicebuques e outras enormidades…

Reflexão matinal recorrente: tenham mesmo muita atenção aos correctores ortográficos automáticos.

Acabei de tentar escrever “pitrol” e o corrector achou que devia ser “patologia”. Insisti e sugeriu-me “pito”. Felizmente não estou no norte do país…

XXX

Alguém que me explique, por favor e com clareza, o que se deve entender desta frase, propalada, por estes dias, aos quatro ventos em diversos órgãos de comunicação:
«AstraZeneca restringida na Alemanha a utentes com menos de 60 anos»
1- Limita-se a sua aplicação a utentes com MENOS de 60 anos?
2- Limita-se a sua aplicação a utentes com MAIS de 60 anos?
É que «restringir» é sinónimo de «limitar», pelo que deveria entender-se o nº 1… Mas o que as notícias vão dizendo é que a vacina apenas deve ser aplicada a pessoas com mais de 60 anos.
Será só porque o termo «restringida» está, como me parece, mal aplicado?
Estou (outra vez) confuso.

XXX

Um juiz mediático (…?…) a debitar razões justificativas para que um bando de arguidos possa permanecer com tal estatuto, ou talvez não?
Obrigado, mas passo.
Desculparão, mas tenho a vida ali fora, à minha espera, com muito que fazer. Logo à noite, tenho a certeza de que alguém me fará um resumo…

XXX

Fábula da fábula:
Era uma vez um Ivo. Tanto leu, tanto escreveu e tanto se condoeu que, por fim, já era um Crivo. Crivo e rosa do esforço, leu, releu e, enfim, tresleu… e tudo se escafedeu, já sem a corda ao pescoço…
Na Comporta, os lagostins e outros bichos afins, a brincar aos pobrezinhos, nos extensos arrozais, rejubilam, coitadinhos: p’rà cadeia, nunca mais!

XXX

Agora, só mesmo um bocadinho mais a sério:

  • Se é certo o que Sua Magnitude Judicial, D. Ivo, nos diz, como é que se deixa prescrever, em Portugal, um crime de corrupção que envolve tão altas instâncias nacionais – para não lhes chamar alguma outra coisa de que venha a arrepender-me…?
    Estamos anestesiados, bêbedos ou comprados?

XXX

Tão ingente era o processo, tanta gente se envolveu que, no fim, nunca fez tanto sentido o dito, atribuído a Horácio:
Parturient montes, nascetur ridiculus mus! (Que é como quem diz: os montes parirão e nascerá um ridículo rato).
E, acrescento eu, sic transit gloria mundi… (mas as outras televisões também por lá andaram).
Definitivamente, com todo este processo deu-me para latir (ainda que a vontade fosse uivar…), muito a propósito, colhendo nas Sátiras do mesmo autor:
(…) est modus in rebus, sunti certi denique fines,/ quos ultra citraque nequit consistere rectum…
O que, para quem não se tenha iniciado em latinices e antes que cuidem que estou para aqui com reflexões escatológicas sugeridas pela má digestão do processo, sempre informo que se trata de qualquer coisa como:
(…) há uma medida nas coisas; há, enfim, limites precisos além dos quais e aquém dos quais não é possível existir o que é justo…
Do Horácio dir-se-ia que até parece que é bruxo!

XXX

O estado a que isto chegou (se nos lembramos de Salgueiro Maia…)
Entenda-se uma coisa: não estou para aqui de virgem pudica a rasgar as vestes, ingenuamente, por toda aquela tragédia grega monocórdica de ontem, com Ivo Rosa supostamente a recolocar a Justiça no seu pedestal intocável e inamovível e cerrando com tal determinação o seu punho justicialista que toda a areia que essa mão continha se escoou por entre os dedos para as salsas ondas, onde se desvaneceu.
Não estou, pois, nem quero estar, a esquecer distraidamente os submarinos ou os bancos do nosso descontentamento, bem como todos os protagonistas do peripatético mas constante «arco da governação» que se vão agasalhando às nossas custas e da nossa complacência eleitoral.
Não quero, ainda e enquanto cidadão, ilibar todos os políticos que apregoam – e são todos ou quase – que «à política o que é da política e à Justiça o que é da Justiça», enquanto sob os seus olhares distraídos, cúmplices ou coniventes se cometem os bárbaros desmandos a que assistimos, regularmente, de há muitos anos a esta parte.
Afinal, para quê invocar a independência da Justiça se todos os seus agentes se queixam e padecem da mais atroz dependência, no que toca a meios, nomeadamente, onde não têm qualquer autonomia nem, pelo que nos dizem, grande capacidade de decisão sobre a matéria? Independência de quê e como?
E tudo isto fede porque o resultado final é vivermos no País mais empobrecido da Europa e isso resulta apenas do que fica dito nos parágrafos anteriores e não por qualquer tipo de pobreza endémica, falta de recursos ou impreparação da população.
Estamos, alegremente, submetidos a uma carga tributária – aqueles que pagam impostos – que, essa sim, bate recordes europeus, pois nenhum governo pode, quer ou consegue ter a veleidade de possuir cobertores que cubram a cabeça sem destapar os pés.
Os exemplos de desgovernação e atropelo dos interesses das populações são diários e constantes, perante a generalizada pasmaceira dos cidadãos.
Veja-se um caso: uma amiga minha está a contas com uma denúncia feita na PSP por um seu vizinho porque tem três galinhas garnizés… e o Estado considera que aquela posse deve ser declarada ao fisco. Podemos presumir que seja pela insustentável produção de ovos e o concomitante rendimento… Ah, também há o «chip»… que, já agora, não sei se será extensivo aos caracóis e lesmas que pululam na minha hortinha e que, segundo apurei, também serão filhos de Deus.
E assim vai o cidadão na corrente destas pequenas-grandes arbitrariedades, ainda para mais neste tão pernicioso tempo de pandemia que propicia um olhar intenso sobre a formiga enquanto, por trás desse olhar escrutinador, passa uma manada de elefantes.
E aquilo a que assistimos ontem não terá sido mais do que um soberbo exemplo de mais um monumental cortejo pela passagem de uma manada de elefantes.
Mas ai se a malta se organiza, que então cai o Carmo e a Trindade… e o resultado prático é a aceleração dos desmandos «antes que os gajos se organizem melhor e se convençam de que têm algum poder».
Estou a lembrar-me de dois casos paradigmáticos e que estão por aí, vivinhos da costa e em curso: a venda da concessão das barragens transmontanas ou a urbanização desmesurada anunciada para a faixa de Carcavelos junto ao mar.
Motivações diversas, circunstâncias não comparáveis, mas um denominador comum: o total e ostensivo desprezo pelos interesses das populações envolvidas ou, sequer, das suas opiniões, por parte dos «mandantes», dos públicos aos privados, unidos na mesma urdidura de interesses.
E toda esta reflexão agoniada porque, aparentemente, a uma parte da Justiça desta terra, à mulher de César nem interessa ser séria… desde que o pareça. E parece-o apenas porque é ela própria quem o diz e a malta acredita.
Estamos, pois, conversados e tenham um bom fim de semana.

XXX

Porque há alguma tendência para leituras «transviadas», aqui fica um pequeno sublinhado que decorre de algumas dúvidas suscitadas sobre um meu texto, clarificando a minha opinião acerca da atitude de Ivo Rosa:

  • O Ivo Rosa é, neste momento, a «cara» que nos aparece pela frente, em circunstâncias em que apetece bater em alguém. Mas é apenas isso.
    Em minha opinião e valendo o que vale, a responsabilidade TODA deste imbróglio é, claramente, do Ministério Público e da forma desastrada, incompetente e nada clara como geriu todo este «mega-processo», como se lhe costuma chamar, ao longo destes infindáveis anos.
    Como se costuma dizer e admitindo até a possibilidade de erro, errar é humano. Mas sabemos também que errar demais é, geralmente, desumano. E, pelo que soubemos, foi este o caso.
    Ivo Rosa limita-se a discorrer sobre o processo, com os instrumentos que a lei lhe coloca ao dispor. E a arcar com o odioso de o comunicar ao país.
    Nada, pois, de leituras apressadas. O problema é a corrupção e os corruptos passarem, sistematicamente, incólumes, aparentemente graças a um sistema judicial (ou agentes seus) eivado de iniquidades.
    Volto a perguntar-me: como é possível e com que fundamentação é que um crime de corrupção deste quilate pode prescrever?

presidenta? (serviço público)

Pela mão do meu amigo João Paulo Oliveira, recebi hoje uma notícia chocante: a palavra PRESIDENTA existe!

Do acanhamento pela ignorância, passando pela estupefacção e desaguando na humildade, os meus ouvidos estremeceram.

Então, aquilo não era só um «feminismo» da Dilma Rousseff?

Pelos vistos e, consultando a Wikipédia, podemos confirmar: «A norma culta da língua portuguesa aceita as duas grafias – presidente e presidenta – como corretas e aceitáveis. Ainda em 1889, o Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Cândido de Figueiredo utiliza o termo “presidenta” significando mulher que preside e outros dicionários também o seguem; por exemplo, de acordo com o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, “presidenta” é o feminino de presidente, embora seja menos usual. Já o Dicionário Aurélio afirma que a palavra pode ser usada no masculino e feminino, apontando “presidenta” como “esposa do presidente” ou “mulher que preside”. O Moderno Dicionário da Língua Portuguesa Michaelis e o Dicionário Brasileiro Globo também atribuem a mesma significação que o dicionário Aurélio.»

No seguimento, apurei nos quatro dicionários – ou pai dos burros, como o meu pai lhe chamava – que existem cá por casa, do Houaiss ao Dicionário Prático Ilustrado da Lello… e a informação é unânime e concordante.

Em boa verdade, nunca podemos ter a pretensão de saber tudo… Tanto mais que, por exemplo, não existe o feminino de ESTUDANTE ou de vários outras palavras com a mesma ou idêntica terminação (descendente, ascendente, intendente, etc., etc.).

Será, pois, um dos muitos particularismos, chamemos-lhe assim, da Língua Portuguesa. Sendo certo, entretanto, que utilizar o termo PRESIDENTE referido a homem ou mulher, também não será incorrecto.

Aqui fica o apontamento, para minha e vossa salvaguarda, para além de diatribes ideológicas ou outros conceitos estranhos à nossa Língua-Mãe.