
Habituei-me a ver (e a disfrutar) essa bela mancha verde que se interpõe entre Carcavelos e a praia – onde se localiza o melhor e mais amplo areal da chamada Linha de Cascais – desde a minha vinda para estas paragens, em finais da década de 60 do século passado. Passeio entre amigos, em debates intensos mas discretos, ou com a namorada – onde o aconhego do arvoredo favorecia afectos não permitidos em circunstâncias normais…
Um ribeiro, árvores variadas e frondosas, carreiros criados pela habituação da passagem, fauna e flora que se refugia nestes últimos constrangidos redutos e que o ser humano ainda lhes disponibiliza. Enfim, um pequeno vislumbre do que a natureza tem para nos oferecer, mesmo se estamos a falar de um espaço criado pela mão do homem, mas no qual a tal natureza já imprimiu a sua identidade e supremacia.
Agora, este espaço está debaixo de fogo pela perspectiva de mais um gigantesco e megalómano projecto de urbanização, em que a parte destinada a zona verde tem vindo a ser progressivamente reduzida, até atingir os extraordinários 15% (…!…) actuais. Ou seja, umas fiadazitas de árvores entre os prédios gigantescos e gigantones a construir… apesar da opinião largamente maioritária da população.
Hoje, fui até lá para matar saudades, ver o estado actual – até para memória futura – e, desse passeio quero dar-vos notícia em imagens sem grandes palavras. Cá vão elas:




























Digam-me lá: é de transformar tudo isto num amontoado de blocos habitacionais destinados a «aristocracias» ou «elites» de novo tipo que por aí pululam? Não seria de destinar este espaço ao usufruto da população onde, a haver espaços habitacionais, poderiam colher exemplo do que se vai fazendo, pelo mundo fora, e de acordo com os conceitos de sustentabilidade que tanto se apregoam mas que são tão «bombardeados»? Mais construção com tantos prédios ao abandono? Será este o reflexo prático mais adequado aos cuidados a ter com a preservação do ambiente?
Fotografias belíssimas a documentar esse espaço que, realmente, deveria ser defendido.
Que pena se este paraíso for destruído!
“ blocos habitacionais destinados a «aristocracias» ou «elites»”. Esta parte ideológica era escusada. Se fossem blocos habitacionais para desfavorecidos ou pobrezinhos já estavas de acordo?
Olá, Miguel (qual Miguel?). Neste contexto, a parte «ideológica» não só não é escusada, como é fundamental. Blocos habitacionais para «desfavorecidos» ou «pobrezinhos» não despertariam os interesses ou a guerra sobre aquele espaço, guerra que já leva para cima de 50 anos, à revelia dos interesses manifestos da população de Carcavelos. Em qualquer caso, se o referido espaço fosse destinado a esse tipo de habitações – o que, como digo, não ocorre nem ocorrerá – seria do mesmo modo ambientalmente estúpido e, até politicamente, incongruente nos dias de hoje. Mas aqui o «se» faz toda a diferença. Não tenho conhecimento de que, em qualquer parte do mundo, no que respeita a grandes urbes, a «construção institucional para pobrezinhos» ocorra, hoje em dia, junto ao mar… Desenganemo-nos, ao turismo os «pobrezinhos» apenas lhe interessam para eventuais «souvenirs» e qualquer zona ribeirinha é destinada ou a hotéis ou a habitações de luxo. Nem os preços dos terrenos praticados nessas mesmas zonas ribeirinhas «aconselham» a investimentos em habitação social, não é?
Ainda a propósito de «elites»: terá sido por acaso ou aleatoriamente que a Nova School of Business & Economics assentou arraiais num local privilegiado do nosso País? Quem é que, maioritariamente, a frequenta? E os que lá são formados destinam-se, fundamentalmente, a quê? Claro que um tal «campus» favorece e, até, empurra a urbanização de primeira água para o local. E o preço das habitações /terrenos em Carcavelos desde a criação desta nova escola, o que é que lhe aconteceu? Tive conhecimento directo de casos em que uma casa à venda duplicou de valor (na procura) da noite para o dia, até para grande estupefacção dos proprietários… Será a santa economia a funcionar. Mas não tem nada a ver com a tal sustentabilidade e preservação ambientais. Ou terá?
E o resto do país aqui tão perto…
Abraço