ainda com Mário Piçarra, agora acompanhado por João Paulo Oliveira

Se é certo que os amigos são para as ocasiões, quero dar-vos conta do comentário publicado no facebook por João Paulo Oliveira, a propósito do cd Claridade de Mário Piçarra:
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=10218675879830663&set=a.1242968836856&type=3&theater

Homem da música, creio que a palavra do João Paulo Oliveira é mais abalizada do que a minha. Congratulo-me, pois, por partilharmos a mesmíssima opinião.

Mário Piçarra(1947-2019)

Mário Piçarra, amigo querido de longa data deixou-nos. Concluíra, recentemente, um cd com 12 temas, que dedicara a seu pai, o conhecido tenor Luís Piçarra, e à sua tia, Maria José Ramil Figueiredo, bióloga e poetisa, que teve um papel fundamental para o seu regresso à música e às canções, cd esse com o título genérico de CLARIDADE, documento primordial para apreciarmos e entendermos as suas vertentes de compositor e intérprete.

Claridade era, também, uma obra que Mário Piçarra dedicara à sua filha Clara e às duas netas, Sara e Maria, os encantos dos seus dias.

Tive a honra de escrever um dos preâmbulos deste cd, que aqui vos deixo:

Ao Mário Piçarra 

De frente para o mar, num sol poente onde a linha do horizonte escurecia, de olhos postos na lonjura e na distância, uma vida atrás do olhar se embevecia.

E sorvia de uma brisa um vendaval, em cada onda o fragor de uma utopia, de um sargaço a sugestão de algum abraço e, assim, ao rés do mar, acontecia.

O Mário e o mar, de onde lhe chegam os ecos do mundo todo, sonoridades de guitarra portuguesa em simbiose com dolências crioulas, envolvidas por fragrâncias campesinas e rumores de regato montanhoso, a evocar uma canção de protesto ou um grito de humanidade.

Os amigos amou e, daí, tantas vozes se pressentirem entrecruzando a sua, melodia a melodia, poema a poema, em cadências, entoações, e sempre livre…

Eis o homem, de olhar atento e em cada dia voltando a nascer, teimosa e porfiadamente, com um novo alento de CLARIDADE.

– Jorge Castro

E se um homem é imortal enquanto a sua memória, nalgum lugar, for invocada por alguém, em nós permanecerá, então, esse preito de amizade e reconhecimento.

a 105ª sessão das Noites com Poemas com o Júlio Conrado
– imagens e comentários

Existindo informação complementar, em entrada anterior, acerca das personagens deste nosso mais recente evento, cumpre-me, entretanto, destacar toda a especial envolvente deste encontro, em que contávamos, enquanto convidado, com Júlio Conrado (prosador, ensaísta, poeta…, enfim, escritor), falando de si na primeira pessoa, mas também excelentemente apresentado pelo Professor José d’Encarnação, que nos transmitiu uma visão inspirada e motivadora ao passear-se pela obra daquele nosso convidado.

Porquê esse destaque? Ora, porque estivemos com uma noite de vendaval chuvoso, de futebol televisivo e, para complementar o ramalhete de razões de dispersão, um espectáculo com o Jorge Palma, em Oeiras. E, ainda assim, cerca de cinquenta pessoas (heróis, heroínas? Combatentes, seguramente…) se deslocaram à Biblioteca Municipal de Oeiras para acompanhar esta nossa sessão! Notável e digno de realce, obviamente.

O Sexteto 5+1, que nos chegou de A dos Francos (Caldas da Rainha) e de quem se deve ressaltar, também, o espírito abnegado para calcorrear tanto quilómetro e em tais condições para esta partilha, constituiu um belo contributo a esta sessão das Noites com Poemas.

As moçoilas que constituem este grupo (e também integram a Banda Filarmónica e a Orquestra de Sopros de A dos Francos) são a Rafaela Esteves (clarinete), a Margarida Lourenço (clarinete), a Mafalda Filipe (saxofone tenor) a Beatriz Estevão (clarinete), a Ana Rita Louro (clarinete) e a Sara Lourenço (clarinete). E fica o merecido aplauso!

A obra apresentada trouxe-nos Carl Maria Von Weber, Robert Hinchliffe, Franz Liszt,Sarah Watts, Mark Goddard, Brian Chapple e Paul Harvey… Ah, têm pena de não ter ouvido? Pois é… para a próxima, já sabem: basta vir.

Carlos Gaspar, da Comunidade de Leitores e Cinéfilos das Caldas da Rainha – acompanhado pela «nossa» Palmira, sempre e bem -, apresentando o Sexteto 5+1.

Depois, um grupo de amigos, deambulando pela poesia de Júlio Conrado:

Francisco José Lampreia, Carlos Peres Feio, Eduardo Martins e Jorge Castro

  

Júlio Conrado celebra, em grande economia de tempo, os 55 anos de carreira literária, bem como a sua extensa bibliografia, que muito mais tempo mereceria. Felizmente, ao longo da sessão, foi decorrendo uma apresentação ilustrativa de muitos episódios e realizações da vida de Júlio Conrado, que, de algum modo, supriram o que a escassez do tempo sempre inibe.

A «mesa», com Jorge Castro, Júlio Conrado e José d’Encarnação

José d’Encarnação em interessada e interessante divulgação apologética da obra (e da personalidade) do autor

E a sessão, como habitualmente, decorreu depois com o tributo feito pelos presentes, a Júlio Conrado e a Carcavelos – território de afectos do autor – , em forma de poema a várias mãos:

        Francisco José Lampreia,

Carlos Peres Feio

   –  Graça Patrão 

 Lucinda Pratas

– Eduardo Martins

– Ana Freitas

 Francisco Queiroz…

                                         

– Jorge Castro, anfitrião honrado e grato por mais uma sessão de mão-cheia.

fotografias de Lourdes Calmeiro

o verdadeiro Capitão Gancho era português… – mas alguém duvidaria…?

Fui, há dias, em visita à muito interessante exposição Entre a Cruz e o Crescente – o resgate de cativos, patente na Torre do Tombo, em Lisboa, e associada à evocação dos 800 anos da fundação do Convento da Trindade de Lisboa,  que recomendo vivamente, pois dá elaborado testemunho de uma circunstância histórica muito pouco divulgada: o resgate dos captivos, que se revela, muito para além de mero exercício de soberania em conflitos vários entre países, mais como um lucrativo negócio, institucionalizado em diversos momentos da História.

A exposição desenvolve-se em torno dos seguintes temas:

  • A Ordem da Santíssima Trindade – a presença em Portugal
  • Um negócio piedoso – a apreensão de captivos
  • Uma obra mui nobre e pia – o resgate de captivos
  • O Convento da Santíssima Trindade de Lisboa – 800 anos de História

E assim foi que, nesta exposição, descobri a existência de um captivo – nascido lá pelos idos de 1656, no lugar da Ribeira dos Flamengos, ilha do Faial, nos Açores – de sua graça José Cardoso, em prestação de serviço como tripulante em nau portuguesa, que fora aprisionado  por navio pirata de Argel, com a idade de 18 anos.

Aos 42 anos, após uma vida repleta de aventuras mais ou menos desgraçadas – foi de escravo a capitão de embarcação pirata, e tendo, entretanto, adoptado o nome de Mustafá Gancho, esse mesmo! -, acaba nas mãos da nossa Santa Inquisição, após captura da embarcação que, na altura, capitaneava, acusado de ter aderido à fé muçulmana…

O nome estranho seria proveniente do senhor turco a quem fora vendido como escravo (Mustafá) e o Gancho estaria associado a uma deformação na mão direita, resultante de ferida em combate, pelo qual passou a ser conhecido.

Mas há lá alguma costura do mundo onde não tenha estado um português a meter o nariz? Até o Capitão Gancho!!!

E quantas aventuras cinematograficamente desperdiçadas! À consideração do Presidente Marcelo, a eventualidade do resgate da sua imagem aventureira…

Se subsistirem dúvidas nos vossos espíritos, podem sempre consultar as fontes:

http://arlindo-correia.com/100513.hotmail

http://wwlw.rtp.pt/acores/graciosa-online/o-pirata-dos-flamengos_51019

NOTA FINAL – Eu sei que o folheto da exposição refere «o resgate dos cativos». Mas não consigo habituar-me à ideia de que esses tais «cativos» possam tê-lo sido através de alguma «catura»… Assim, pois, CAPTIVOS, vítimas, sim, de uma eposódica CAPTURA.