Mário Piçarra, amigo querido de longa data deixou-nos. Concluíra, recentemente, um cd com 12 temas, que dedicara a seu pai, o conhecido tenor Luís Piçarra, e à sua tia, Maria José Ramil Figueiredo, bióloga e poetisa, que teve um papel fundamental para o seu regresso à música e às canções, cd esse com o título genérico de CLARIDADE, documento primordial para apreciarmos e entendermos as suas vertentes de compositor e intérprete.
Claridade era, também, uma obra que Mário Piçarra dedicara à sua filha Clara e às duas netas, Sara e Maria, os encantos dos seus dias.
Tive a honra de escrever um dos preâmbulos deste cd, que aqui vos deixo:
Ao Mário Piçarra
De frente para o mar, num sol poente onde a linha do horizonte escurecia, de olhos postos na lonjura e na distância, uma vida atrás do olhar se embevecia.
E sorvia de uma brisa um vendaval, em cada onda o fragor de uma utopia, de um sargaço a sugestão de algum abraço e, assim, ao rés do mar, acontecia.
O Mário e o mar, de onde lhe chegam os ecos do mundo todo, sonoridades de guitarra portuguesa em simbiose com dolências crioulas, envolvidas por fragrâncias campesinas e rumores de regato montanhoso, a evocar uma canção de protesto ou um grito de humanidade.
Os amigos amou e, daí, tantas vozes se pressentirem entrecruzando a sua, melodia a melodia, poema a poema, em cadências, entoações, e sempre livre…
Eis o homem, de olhar atento e em cada dia voltando a nascer, teimosa e porfiadamente, com um novo alento de CLARIDADE.
– Jorge Castro
E se um homem é imortal enquanto a sua memória, nalgum lugar, for invocada por alguém, em nós permanecerá, então, esse preito de amizade e reconhecimento.