Abril – um modo de ser (2)

Lisboa, 25 de Abril de 1974

Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, um excerto do poema Não era nada, quase nada, e era Abril:

(…) e houve um santo e uma senha na alvorada
a erguerem-se numa só feitas à estrada
as vontades de ser livre e ser inteiro
a rasgarem entre o denso nevoeiro
o alvor
a alegria
a liberdade
e mostraram ao país outra verdade

Lisboa, 25 de Abril de 1974


Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, excertos do poema Era um tempo feito de verde infinito:

era um tempo feito de verde-infinito
era um tempo de água parda e neblinas
era um tempo de silêncios sem notícias
que ondulava sem carícias contra o cais

era um tempo sem flores ou voo de aves
era um tempo inventado sem jamais
era um tempo sem o azul das maresias
e amarras que prendiam desiguais
(…)
mas no âmago mais fundo que nos resta
nesse dia que que nasceu como os demais
o verde e o azul do mar estão em festa
e amarras nunca mais – oh nunca mais!…

Lisboa, 25 de Abril de 1974

Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, excertos do poema A Cor de Abril:
(…)
uma vontade a crescer
no peito que se deslassa
crescendo em nós sem se ver
mas vermos que nos abraça

pressentindo em modo vário
que ao sermos um povo unido
nos fica o medo vencido
e nós um mar solidário.

NOTA – O livro, de minha autoria, Abril – Um Modo de Ser contou com o apoio da Associação 25 de Abril e da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras

Abril – um modo de ser (1)

Lisboa, 25 de Abril de 1974
Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, publicado em 2015, respigo do poema com o mesmo nome:

ABRIL – UM MODO DE SER

  • Liberdade – a condição primeira que determina o ser vivente, não de cada um por si, mas na arte maior da sua interacção com os demais.

(…) certo dia – era Abril – e acontecia
renascer um novo alento na cidade
nesse dia algo acordou e sem idade
por ser força maior que em nós resida
liberdade – liberdade – liberdade
condição de ser humano e de ser Vida.

Do meu livro, Abril – um Modo de Ser – um excerto do poema Metáforas de Abril:

(…) é a urgência que na corrente se lança
é caravela que navega na tormenta
é cruzar mares só de vida e de ar puro
é riso alegre e feliz de uma criança
é vontade de uma vida marinheira
é buscar mar de azeite na traineira
lançando redes inundadas de futuro.

Do meu livro Abril um Modo de Ser, um excerto do poema Cantiga de Avô:

(…) ensina-me a navegar
mostra-me os rios e as fontes que vêm dos altos montes
e fazem estradas no mar
avô
mal aprendi eu a andar
mas que procuro os caminhos que meus passos vão criar
ergue a mão encordoada
faz-te a vela
a alvorada
faz do teu braço o alvoroço
sê tu a minha amurada
da rota que hei-de singrar
avô
vem comigo navegar!

NOTA – O livro, de minha autoria, Abril – Um Modo de Ser contou com o apoio da Associação 25 de Abril e da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras

Carcavelos – Quinta Nova de Santo António
ou dos Ingleses

Habituei-me a ver (e a disfrutar) essa bela mancha verde que se interpõe entre Carcavelos e a praia – onde se localiza o melhor e mais amplo areal da chamada Linha de Cascais – desde a minha vinda para estas paragens, em finais da década de 60 do século passado. Passeio entre amigos, em debates intensos mas discretos, ou com a namorada – onde o aconhego do arvoredo favorecia afectos não permitidos em circunstâncias normais…

Um ribeiro, árvores variadas e frondosas, carreiros criados pela habituação da passagem, fauna e flora que se refugia nestes últimos constrangidos redutos e que o ser humano ainda lhes disponibiliza. Enfim, um pequeno vislumbre do que a natureza tem para nos oferecer, mesmo se estamos a falar de um espaço criado pela mão do homem, mas no qual a tal natureza já imprimiu a sua identidade e supremacia.

Agora, este espaço está debaixo de fogo pela perspectiva de mais um gigantesco e megalómano projecto de urbanização, em que a parte destinada a zona verde tem vindo a ser progressivamente reduzida, até atingir os extraordinários 15% (…!…) actuais. Ou seja, umas fiadazitas de árvores entre os prédios gigantescos e gigantones a construir… apesar da opinião largamente maioritária da população.

Hoje, fui até lá para matar saudades, ver o estado actual – até para memória futura – e, desse passeio quero dar-vos notícia em imagens sem grandes palavras. Cá vão elas:

Ao fundo, instalações desportivas onde joguei futebol e ténis. Bastava alugar o espaço.
Escultura viva e natural na paisagem
Parte do leito maltratado da ribeira
Resto do pavimento de um dos acessos às edificações que pertenciam ao Cabo Submarino… de onde irradiava informação para todo o mundo, literalmente
Túnel de acesso…
… ao tal areal espectacular
Estas duas imagens de um pombo torcaz aqui ficam como representantes do que é uma fauna (aves, nomeadamente) já muito diversificada que por ali se encontra, pardais, estorninhos, rabirruivos, pintassilgos, corvos, gaios, pombos torcazes, melros, corujas e mochos, etc., etc.

Digam-me lá: é de transformar tudo isto num amontoado de blocos habitacionais destinados a «aristocracias» ou «elites» de novo tipo que por aí pululam? Não seria de destinar este espaço ao usufruto da população onde, a haver espaços habitacionais, poderiam colher exemplo do que se vai fazendo, pelo mundo fora, e de acordo com os conceitos de sustentabilidade que tanto se apregoam mas que são tão «bombardeados»? Mais construção com tantos prédios ao abandono? Será este o reflexo prático mais adequado aos cuidados a ter com a preservação do ambiente?

não me digam que ainda é cedo, porque Abril é sempre

Em cada ano celebro Abril com um poema que dedico à Associação 25 de Abril (https://a25abril.pt/), de quem muito me apraz registar o bom acolhimento.


Aqui vos deixo o meu poema para o 47º aniversário do «dia inicial, inteiro e limpo», tal como Sophia também o imortalizou:


NESSA MANHÃ CINZENTA MAS RADIOSA

é Abril que está a chegar
meu filho por nascer
é Abril que te vou dar para que possas florescer
rubro cravo a dar cor à madrugada
transformada em rumo e estrada a percorrer


sacudido o manto frio do inverno
no inferno de uma guerra sem saída
é o tempo de dar tempo à nossa vida
e colher todo o ardor da primavera
mas não é tempo algum de estar à espera
de ilusões
de quimeras
sonhos vãos
é Abril e como vês
somos irmãos
e marchamos lado a lado neste chão
ao encontro do futuro
mão na mão
e o futuro é o Abril que nós fizermos
se quisermos ir além da servidão


é Abril
meu filho
assim quisemos


mas é este o Abril que ainda queremos
e este Abril é a nossa redenção.

  • Jorge Castro
    Abril de 2021

breves (ou nem tanto) reflexões ao correr da pandemia, dos feicebuques e outras enormidades…

Reflexão matinal recorrente: tenham mesmo muita atenção aos correctores ortográficos automáticos.

Acabei de tentar escrever “pitrol” e o corrector achou que devia ser “patologia”. Insisti e sugeriu-me “pito”. Felizmente não estou no norte do país…

XXX

Alguém que me explique, por favor e com clareza, o que se deve entender desta frase, propalada, por estes dias, aos quatro ventos em diversos órgãos de comunicação:
«AstraZeneca restringida na Alemanha a utentes com menos de 60 anos»
1- Limita-se a sua aplicação a utentes com MENOS de 60 anos?
2- Limita-se a sua aplicação a utentes com MAIS de 60 anos?
É que «restringir» é sinónimo de «limitar», pelo que deveria entender-se o nº 1… Mas o que as notícias vão dizendo é que a vacina apenas deve ser aplicada a pessoas com mais de 60 anos.
Será só porque o termo «restringida» está, como me parece, mal aplicado?
Estou (outra vez) confuso.

XXX

Um juiz mediático (…?…) a debitar razões justificativas para que um bando de arguidos possa permanecer com tal estatuto, ou talvez não?
Obrigado, mas passo.
Desculparão, mas tenho a vida ali fora, à minha espera, com muito que fazer. Logo à noite, tenho a certeza de que alguém me fará um resumo…

XXX

Fábula da fábula:
Era uma vez um Ivo. Tanto leu, tanto escreveu e tanto se condoeu que, por fim, já era um Crivo. Crivo e rosa do esforço, leu, releu e, enfim, tresleu… e tudo se escafedeu, já sem a corda ao pescoço…
Na Comporta, os lagostins e outros bichos afins, a brincar aos pobrezinhos, nos extensos arrozais, rejubilam, coitadinhos: p’rà cadeia, nunca mais!

XXX

Agora, só mesmo um bocadinho mais a sério:

  • Se é certo o que Sua Magnitude Judicial, D. Ivo, nos diz, como é que se deixa prescrever, em Portugal, um crime de corrupção que envolve tão altas instâncias nacionais – para não lhes chamar alguma outra coisa de que venha a arrepender-me…?
    Estamos anestesiados, bêbedos ou comprados?

XXX

Tão ingente era o processo, tanta gente se envolveu que, no fim, nunca fez tanto sentido o dito, atribuído a Horácio:
Parturient montes, nascetur ridiculus mus! (Que é como quem diz: os montes parirão e nascerá um ridículo rato).
E, acrescento eu, sic transit gloria mundi… (mas as outras televisões também por lá andaram).
Definitivamente, com todo este processo deu-me para latir (ainda que a vontade fosse uivar…), muito a propósito, colhendo nas Sátiras do mesmo autor:
(…) est modus in rebus, sunti certi denique fines,/ quos ultra citraque nequit consistere rectum…
O que, para quem não se tenha iniciado em latinices e antes que cuidem que estou para aqui com reflexões escatológicas sugeridas pela má digestão do processo, sempre informo que se trata de qualquer coisa como:
(…) há uma medida nas coisas; há, enfim, limites precisos além dos quais e aquém dos quais não é possível existir o que é justo…
Do Horácio dir-se-ia que até parece que é bruxo!

XXX

O estado a que isto chegou (se nos lembramos de Salgueiro Maia…)
Entenda-se uma coisa: não estou para aqui de virgem pudica a rasgar as vestes, ingenuamente, por toda aquela tragédia grega monocórdica de ontem, com Ivo Rosa supostamente a recolocar a Justiça no seu pedestal intocável e inamovível e cerrando com tal determinação o seu punho justicialista que toda a areia que essa mão continha se escoou por entre os dedos para as salsas ondas, onde se desvaneceu.
Não estou, pois, nem quero estar, a esquecer distraidamente os submarinos ou os bancos do nosso descontentamento, bem como todos os protagonistas do peripatético mas constante «arco da governação» que se vão agasalhando às nossas custas e da nossa complacência eleitoral.
Não quero, ainda e enquanto cidadão, ilibar todos os políticos que apregoam – e são todos ou quase – que «à política o que é da política e à Justiça o que é da Justiça», enquanto sob os seus olhares distraídos, cúmplices ou coniventes se cometem os bárbaros desmandos a que assistimos, regularmente, de há muitos anos a esta parte.
Afinal, para quê invocar a independência da Justiça se todos os seus agentes se queixam e padecem da mais atroz dependência, no que toca a meios, nomeadamente, onde não têm qualquer autonomia nem, pelo que nos dizem, grande capacidade de decisão sobre a matéria? Independência de quê e como?
E tudo isto fede porque o resultado final é vivermos no País mais empobrecido da Europa e isso resulta apenas do que fica dito nos parágrafos anteriores e não por qualquer tipo de pobreza endémica, falta de recursos ou impreparação da população.
Estamos, alegremente, submetidos a uma carga tributária – aqueles que pagam impostos – que, essa sim, bate recordes europeus, pois nenhum governo pode, quer ou consegue ter a veleidade de possuir cobertores que cubram a cabeça sem destapar os pés.
Os exemplos de desgovernação e atropelo dos interesses das populações são diários e constantes, perante a generalizada pasmaceira dos cidadãos.
Veja-se um caso: uma amiga minha está a contas com uma denúncia feita na PSP por um seu vizinho porque tem três galinhas garnizés… e o Estado considera que aquela posse deve ser declarada ao fisco. Podemos presumir que seja pela insustentável produção de ovos e o concomitante rendimento… Ah, também há o «chip»… que, já agora, não sei se será extensivo aos caracóis e lesmas que pululam na minha hortinha e que, segundo apurei, também serão filhos de Deus.
E assim vai o cidadão na corrente destas pequenas-grandes arbitrariedades, ainda para mais neste tão pernicioso tempo de pandemia que propicia um olhar intenso sobre a formiga enquanto, por trás desse olhar escrutinador, passa uma manada de elefantes.
E aquilo a que assistimos ontem não terá sido mais do que um soberbo exemplo de mais um monumental cortejo pela passagem de uma manada de elefantes.
Mas ai se a malta se organiza, que então cai o Carmo e a Trindade… e o resultado prático é a aceleração dos desmandos «antes que os gajos se organizem melhor e se convençam de que têm algum poder».
Estou a lembrar-me de dois casos paradigmáticos e que estão por aí, vivinhos da costa e em curso: a venda da concessão das barragens transmontanas ou a urbanização desmesurada anunciada para a faixa de Carcavelos junto ao mar.
Motivações diversas, circunstâncias não comparáveis, mas um denominador comum: o total e ostensivo desprezo pelos interesses das populações envolvidas ou, sequer, das suas opiniões, por parte dos «mandantes», dos públicos aos privados, unidos na mesma urdidura de interesses.
E toda esta reflexão agoniada porque, aparentemente, a uma parte da Justiça desta terra, à mulher de César nem interessa ser séria… desde que o pareça. E parece-o apenas porque é ela própria quem o diz e a malta acredita.
Estamos, pois, conversados e tenham um bom fim de semana.

XXX

Porque há alguma tendência para leituras «transviadas», aqui fica um pequeno sublinhado que decorre de algumas dúvidas suscitadas sobre um meu texto, clarificando a minha opinião acerca da atitude de Ivo Rosa:

  • O Ivo Rosa é, neste momento, a «cara» que nos aparece pela frente, em circunstâncias em que apetece bater em alguém. Mas é apenas isso.
    Em minha opinião e valendo o que vale, a responsabilidade TODA deste imbróglio é, claramente, do Ministério Público e da forma desastrada, incompetente e nada clara como geriu todo este «mega-processo», como se lhe costuma chamar, ao longo destes infindáveis anos.
    Como se costuma dizer e admitindo até a possibilidade de erro, errar é humano. Mas sabemos também que errar demais é, geralmente, desumano. E, pelo que soubemos, foi este o caso.
    Ivo Rosa limita-se a discorrer sobre o processo, com os instrumentos que a lei lhe coloca ao dispor. E a arcar com o odioso de o comunicar ao país.
    Nada, pois, de leituras apressadas. O problema é a corrupção e os corruptos passarem, sistematicamente, incólumes, aparentemente graças a um sistema judicial (ou agentes seus) eivado de iniquidades.
    Volto a perguntar-me: como é possível e com que fundamentação é que um crime de corrupção deste quilate pode prescrever?