Todos temos o direito a defendermo-nos. Ninguém tem o direito de agredir.
CONTRA A GUERRA DE AGRESSÃO
não se me dá desta guerra ou de outra guerra qualquer nas mãos ficam-me pungentes os cravos das incertezas cravados a feros golpes pelos donos da razão
falas-me de heróis semimortos alinhados nas paredes que se vão crivar de balas dos corpos já trespassados? falas-me de outras crianças que brincam com estilhaços manchados da cor estranha do sangue das suas mães? falas-me das mãos decepadas dos artistas militantes entre arroubos de Guernica ou de rosas de Hiroshima?
de que nos valem razões na sem-razão de uma guerra? numa baioneta de ódio que sangra um coração moço? num míssil cobardemente lançado à vida que passa? nos tanques tão couraçados contra a flor que desponta? em comboios de degredo numa terra de ninguém? nesse sangue derramado por todos e de ninguém? que serve aos senhores da guerra mas não serve a mais ninguém?
não se me dá desta guerra ou de outra guerra qualquer que serve aos senhores da guerra mas não serve a mais ninguém!
Sabem do que se trata? Pois bem, trata-se do mais recente trabalho de um infatigável lutador em prol da calçada portuguesa, o bom amigo Ernesto Matos – https://sites.google.com/site/ernestomatosimagens – (design gráfico e fotografia), desta feita, numa parceria com o escritor António Correia.
A participação, em forma de poema, foi aberta a vários autores e também me coube a honra de ser um dos convidados.
Aqui vos deixo uma parte dessa minha participação, em forma de:
QUADRAS SOLTAS NA CALÇADA
ao enquadrarmos a quadra nos quadrados da calçada as pedras são a palavra os versos fazem-se estrada
lanço versos na calçada como quem suspira amores e a pedra esbranquiçada vai-se enchendo de mil flores
pela mão que a pedra dome pelo sonho feito anseio dessa dura pedra informe faz-se um mar nalgum passeio
as calçadas são abraços vão da minha casa à tua nelas desenhei os passos que vão dar à minha rua
veja lá tenha cuidado ao poisar seu pé no chão pois que as pedras da calçada foram bordadas à mão
vejo remos redes barcos a bordejarem a praça são na calçada seus marcos lembrando o mar a quem passa
não sei porque tomam jeito assim as pedras do chão pareciam postas a eito mas formam um coração
português por teus esteios ao mundo deste grandeza e nele lavraste os passeios em calçada à portuguesa
lavrei-te a quadra num cravo com Santo António pela mão surgiu em ti um mar bravo nesta calçada em mar-chão
lanço versos na calçada como quem suspira amores e a pedra esbranquiçada vai-se enchendo de mil flores
não havia qualquer som na neblina que pairava densamente na cidade quando amar era névoa clandestina e balada só rimava com saudade
mas ergueu-se uma voz doutras seguida uma voz de cantar a voz erguida deste chão só de sombras e degredo este chão e esta voz que desgarrada soube ser e crescer e ser amada essa voz que cresceu só contra o medo essa voz que acordou a madrugada.
Jorge Castro (Poema integrado no projecto 25 Poemas para o Zeca, em 25 de Abril de 2012, com Ernesto Matos e a Câmara Municipal de Lisboa)
O amigo João Baptista Coelho, poeta, que nos deixou há alguns dias, era um eterno enamorado da sua companheira de vida e esposa. Cascais, na pessoa de uma querida amiga, pediu-me que eu emprestasse a minha voz a um poema daquele amigo poeta, «Poema para a Minha Mulher», a que correspondi com muito gosto, até como mais uma homenagem ao João Baptista Coelho. E, afinal, até consta que hoje se celebra o dia dos namorados…
Começo já o dia a desejar para todos que o dia de amanhã nos encontre vivos e de boa saúde. E, já agora, que essas condições se prolonguem pela vida fora, independentemente das passagens de ano que, tal como o nome indica, são meras passagens. Conto convosco para me surpreenderem com a vossa criatividade e a vossa humanidade. Eu tentarei pagar-vos com a mesma moeda. E que cada dia do novo ano e dos anos vindouros sirva para, com maior ou menor empenho, mas sempre obstinadamente, percorrermos os caminhos desta vida em busca de um sentido para ela e dos momentos de felicidade que a fazem digna de ser vivida.