Porque é Abril e, nele, o dia 25, aqui vos deixo uma imagem alegórica que o meu filho Alexandre criou a partir de fotografias minhas obtidas nesse dia, em 1974.
Imagem a imagem, é por Abril que vamos.
Foi pela força das armas, não o esqueçamos, que Abril de 1974 aconteceu.
Mas pela força das armas que, a começar pelo Movimento dos Capitães, culminando na incondicional adesão popular, soubemos todos temperá-la com a candura de um cravo.
E, assim, esse momento inspirador e único deu novos mundos ao mundo.
Do meu livro «Abril – Um Modo de Ser», o poema «Abril, sempre!»:
ABRIL, SEMPRE!
na dolência de nos quedarmos tão sós na cadência sincopada de agonias contra quanto de tão vil afoga a voz na premência da urgência de outros dias não te esqueças desse grito com que alarmas o presente e o futuro que querias pois o Abril das quimeras e utopias esse Abril rima bem com povo em armas.
Para quem traz Abril no peito, podem ouvir o meu poema aqui:
Tenhamos sempre bem presente que o 25 de Abril de 1974, redentor e fonte infinita de inspiração, não se esgota nas nossas memórias.
Para que Abril (nos) sobreviva, a passagem de testemunho às novas gerações é imprescindível.
Não o «nosso» 25 de Abril – que por ele ansiámos, que o vivemos e que hoje celebramos -, mas o Abril de cada dia e de cada ser vivente que se alimenta de liberdade, respira democracia e anseia por condições dignas de trabalho e de vida.
O pão, a paz, habitação, saúde e educação não foram, como não são, apenas estribilho de canção do Sérgio que nos sabe bem entoar mas, antes, realidades tão concretas e definidas como outra coisa qualquer, parafraseando Gedeão.
E «as portas que Abril abriu» estão, ainda, muito longe de terem permitido a passagem de toda a gente. A reivindicação pelo pão, a paz, a habitação, a saúde e a educação estão aí, na ordem do dia.
Não é a «nossa» realidade de há 47 anos que pode ser invocada para alterar o actual estado de coisas. Isso não faz qualquer sentido. A mesma água não volta nunca a passar por baixo da mesma ponte. Lembremo-nos, a propósito, de um chavão que muito usávamos: a análise concreta da situação concreta.
Podem e devem as novas gerações reinventar Abril e fazê-lo seu. E a elas só compete essa missão. Podemos e temos absoluta obrigação, nós, os mais antigos, de acompanhar, solidariamente, esse processo, não fechados no nosso mundo, mas atentos e expectantes ao que lá vem, braço com braço com os nossos filhos e os nossos netos.
Exactamente porque não há «donos de Abril». Nem velhos nem novos.
Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, um excerto do poema Não era nada, quase nada, e era Abril:
(…) e houve um santo e uma senha na alvorada a erguerem-se numa só feitas à estrada as vontades de ser livre e ser inteiro a rasgarem entre o denso nevoeiro o alvor a alegria a liberdade e mostraram ao país outra verdade
Lisboa, 25 de Abril de 1974
Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, excertos do poema Era um tempo feito de verde infinito:
era um tempo feito de verde-infinito era um tempo de água parda e neblinas era um tempo de silêncios sem notícias que ondulava sem carícias contra o cais
era um tempo sem flores ou voo de aves era um tempo inventado sem jamais era um tempo sem o azul das maresias e amarras que prendiam desiguais (…) mas no âmago mais fundo que nos resta nesse dia que que nasceu como os demais o verde e o azul do mar estão em festa e amarras nunca mais – oh nunca mais!…
Lisboa, 25 de Abril de 1974
Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, excertos do poema A Cor de Abril: (…) uma vontade a crescer no peito que se deslassa crescendo em nós sem se ver mas vermos que nos abraça
pressentindo em modo vário que ao sermos um povo unido nos fica o medo vencido e nós um mar solidário.
NOTA – O livro, de minha autoria, Abril – Um Modo de Ser contou com o apoio da Associação 25 de Abril e da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras
Lisboa, 25 de Abril de 1974 Do meu livro Abril – Um Modo de Ser, publicado em 2015, respigo do poema com o mesmo nome:
ABRIL – UM MODO DE SER
Liberdade – a condição primeira que determina o ser vivente, não de cada um por si, mas na arte maior da sua interacção com os demais.
(…) certo dia – era Abril – e acontecia renascer um novo alento na cidade nesse dia algo acordou e sem idade por ser força maior que em nós resida liberdade – liberdade – liberdade condição de ser humano e de ser Vida.
Do meu livro, Abril – um Modo de Ser – um excerto do poema Metáforas de Abril:
(…) é a urgência que na corrente se lança é caravela que navega na tormenta é cruzar mares só de vida e de ar puro é riso alegre e feliz de uma criança é vontade de uma vida marinheira é buscar mar de azeite na traineira lançando redes inundadas de futuro.
Do meu livro Abril um Modo de Ser, um excerto do poema Cantiga de Avô:
(…) ensina-me a navegar mostra-me os rios e as fontes que vêm dos altos montes e fazem estradas no mar avô mal aprendi eu a andar mas que procuro os caminhos que meus passos vão criar ergue a mão encordoada faz-te a vela a alvorada faz do teu braço o alvoroço sê tu a minha amurada da rota que hei-de singrar avô vem comigo navegar!
NOTA – O livro, de minha autoria, Abril – Um Modo de Ser contou com o apoio da Associação 25 de Abril e da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras
Em cada ano celebro Abril com um poema que dedico à Associação 25 de Abril (https://a25abril.pt/), de quem muito me apraz registar o bom acolhimento.
Aqui vos deixo o meu poema para o 47º aniversário do «dia inicial, inteiro e limpo», tal como Sophia também o imortalizou:
NESSA MANHÃ CINZENTA MAS RADIOSA
é Abril que está a chegar meu filho por nascer é Abril que te vou dar para que possas florescer rubro cravo a dar cor à madrugada transformada em rumo e estrada a percorrer
sacudido o manto frio do inverno no inferno de uma guerra sem saída é o tempo de dar tempo à nossa vida e colher todo o ardor da primavera mas não é tempo algum de estar à espera de ilusões de quimeras sonhos vãos é Abril e como vês somos irmãos e marchamos lado a lado neste chão ao encontro do futuro mão na mão e o futuro é o Abril que nós fizermos se quisermos ir além da servidão
é Abril meu filho assim quisemos
mas é este o Abril que ainda queremos e este Abril é a nossa redenção.
um dia como qualquer dia tenhamos sempre presente que é criação a poesia é a palavra liberta por vontade ou acidente sob um vento de feição é a nau à descoberta com o velame e o leme ou o sonho mais estreme que nos traz a língua-mãe onde campeiam afectos epopeias e tragédias gritos-lamentos também mas também de uma revolta de amor na palavra à solta e todo o entretecer de teias que nos levam mais além de algum viver comezinho de algum estar sem sentido onde vamos sem ter volta a tolerância do nada e a intolerância do tudo onde a vida quase acaba e o viver fica mudo é o dia de voarmos para fora desse enredo desse ninho desse medo em busca de uma aventura sendo nós a criação mas também a criatura no ensaio de uma vida que é feita de todos nós onde é cada um poeta tanto maior essa meta de jamais ficarmos sós e há-de ser esse o dia em que nasceu um poeta e deu à luz poesia