Proponho-vos um pequeno passeio por algumas das famílias que temos cá por casa, a maioria produto de trabalho artesanal, acompanhado do poema que destino, este ano e como habitualmente, à época que atravessamos.
O vídeo, naturalmente, ainda é o mais artesanal de todos os trabalhos, mas vai carregadinho das melhores intenções.
Com renovados votos de boas festas, um novo ano pleno de felizes realizações… e saudinha da boa!
e daí onde te sentas seja no lugar mais próximo do sol poente ou na alvura tensa de uma alvorada pressentes ainda a voz de Camões? pressentes a aventura? a tempestade? o perder-se de amores e desamores que o amor nos traz? o ser-se maior que o mundo naquele momento em geral fugaz para tanto nos sobrando engenho e arte? e não só ser-se pequeno e incapaz com o medo de ser grande em qualquer parte?
ouves então e ainda esse Camões que celebramos sem deter um pensamento no saber porque foi grande e das razões que o amarram a Portugal impenitente?
feliz sejas então e venturoso e que percorras o caminho esperançoso do teu passado a caminho do futuro.
Começo já o dia a desejar para todos que o dia de amanhã nos encontre vivos e de boa saúde. E, já agora, que essas condições se prolonguem pela vida fora, independentemente das passagens de ano que, tal como o nome indica, são meras passagens. Conto convosco para me surpreenderem com a vossa criatividade e a vossa humanidade. Eu tentarei pagar-vos com a mesma moeda. E que cada dia do novo ano e dos anos vindouros sirva para, com maior ou menor empenho, mas sempre obstinadamente, percorrermos os caminhos desta vida em busca de um sentido para ela e dos momentos de felicidade que a fazem digna de ser vivida.
eis o Natal que de súbito acontece num surto de pandemia e as malhas que o império tece em sonhos feitos à pressa e excessos de azevia
um Natal igual a tantos e sempre sempre diferente num mundo cheio de encantos mas onde para outros tantos tem sempre a fome presente
venho lembrar-vos então o José Gomes Ferreira que depois de ler Descartes mas muito à sua maneira veio em certa ocasião dizer-nos algo como isto «penso nos outros – logo existo»
um bom e feliz Natal de lembrar entes queridos de partir para o novo ano com esperança renovada é tudo quanto faz falta como prenda aos meus amigos já agora saúde boa… nem é preciso mais nada!
Dele e do seu imenso legado musical e político eu e tantos já dissemos muito e outro tanto haverá a dizer, assim nos sobre engenho e arte.
Deixo aqui uma dessas simples homenagens de minha autoria que lhe dediquei, em projecto de Ernesto Matos – «25 Poemas para o Zeca» – e que viva o José Afonso!
A JOSÉ AFONSO – POR TER BARCOS POR TER REMOS
não havia qualquer som na neblina que pairava densamente na cidade quando amar era névoa clandestina e balada só rimava com saudade
mas ergueu-se uma voz doutras seguida uma voz de cantar a voz erguida deste chão só de sombras e degredo este chão e esta voz que desgarrada soube ser e crescer e ser amada essa voz que cresceu só contra o medo essa voz que acordou a madrugada.