breves reflexões outubrinas
em ambiente feicebuque (III)

23 de Outubro

Reflexão matinal, ainda em pijama:
Quando leio e ouço que “os partidos de esquerda querem tudo para aprovar o orçamento” sinto-me preocupado é com a circunstância do povo português aparentemente não querer nada para aprovar o orçamento…

23 de Outubro

Aterrei acidentalmente naquela treta dos agricultores e das agricultoras de brincar da SIC e fiquei, subitamente, muito mais enriquecido. Então não é que uma das balzaquianas de serviço acaba de proferir a seguinte máxima: “toda a gente gosta de um deite”.
Ainda não faço bem ideia do que seja, mas sinto-me muito mais enriquecido.

24 de Outubro

Continuando as minhas perturbações linguísticas de quem, enfim, já tem alguma idade, hoje foi a vez de uma estudante de Coimbra me informar televisivamente de que estava com uma vaibe muito boa…
Está visto que preciso de me inscrever num curso para adultos.
Mas se até para o calão é preciso saber inglês, ainda não me decidi em que língua careço de actualização.

25 de Outubro

Em estudos alterosos nos quais me envolvo para atinar um pouco com o mundo à minha volta, concluí que houve, de facto, uma profunda mudança de paradigma:
Antigamente (e como é penoso o ar desta palavra) a meteorologia era determinante para os ciclos agrícolas e a qualificação de bom ou mau tempo prendia-se com a sua adequação aos interesses do lavrador no amanho da terra.
Agora, é diferente. A meteorologia é boa ou má consoante implica favorável ou desfavoravelmente com a nossa marcação de férias.
Parecendo que não, isto explicará muitas coisas…

25 de Outubro

Agora foi um técnico em aproveitamento de energia solar para iluminação que nos vem dizer que o peibeque é rápido…
Bem pesquisei no “pai dos burros” e não atinei com tal peibeque.
Fiquei com a ideia de que o senhor estaria a referir-se ao retorno do dinheiro investido. Mas não tenho a certeza, que estas coisas são muito complicadas.

breves reflexões outubrinas
em ambiente feicebuque (II)

21de Outubro

Eu, por acaso, cada vez percebo menos disto, o que me deixa à vontade para seguir a corrente e dizer uns disparates a armar ao analista político.
Vejamos: pelo aparente conteúdo do orçamento para 2022, o que é que impede que o PSD faça um acordo geringonçante com o PS, alcançando-se, assim, a almejada e consensual estabilidade do regime?
Pois, mas António Costa, numa lua cheia há uns largos mesitos, informou o povo de que acordos com o PSD, “jamé!”, que viria logo o governo ao chão e outras coisas assim catastróficas…
Jogada de mestre, esta, que deixou o BE e o PCP reféns desta salada. Se aprovam orçamentos perdem eleitores; se tiram o apoio ao governo perdem eleitores… Tudo a bem de um governo de “esquerda”, claro. E num caso ou noutro ainda têm a acusação de chantagistas em cima.
Nos entretantos, Costa ri-se, Rui desatina, a gasolina sobe a cumes incomensuráveis, a electricidade é o que se vê, os quadros da fiel depositária andam por aí, as “entidades reguladoras”, que nada regulam, pululam quais cogumelos, as negociatas miseráveis que se vêm fazendo de há uns bons 40 anos para cá não conhecem culpados nem remissão e Portugal vive com dois milhões de pobres, calma e tranquilamente…
Claro que esta descrição pode pecar por simplista e caricatural, mas há algum erro no raciocínio?
Façam lá uma pausa na telenovela e juntem os trapinhos, só para ver se podemos ficar um bocadinho mais felizes todos.

22 de Outubro

Quando ouço falar em “trabalho digno” sinto sempre um arrepio incómodo…
É que me lembro de que a minha companheira foi professora do ensino oficial durante 40 anos, mas nos primeiros 17 andou em bolandas com o estatuto oficial de professora “definitiva-provisória”.
Lembro, também, o esvaziamento avassalador de quadros na (grande) empresa onde trabalhei, substituídos por trabalhadores no malfadado “outsourcing”, alguns dos quais mantêm ainda esse estatuto há mais de vinte anos.
Lembro a passividade cúmplice dos sindicatos para quem – e inúmeras vezes o ouvi – a desregulamentação do mercado do trabalho era uma “inevitabilidade”… quando deviam lutar por se tratar, isso sim, de uma ilegalidade.
Lembro o atropelo, também ilegal, dos contratos colectivos de trabalho, obrigando as novas admissões à aceitação de contratos individuais com o pagamento de salários inferiores a metade do que auferiam os abrangidos pelos contratos colectivos.
Lembro-me dessas realidades vividas e muitas mais do mesmo quilate… e quando ouço, agora, falar no trabalho digno corro a munir-me de uma toalha de banho para não me encharcar de lágrimas de crocodilo.

22 de Outubro

Esta ideia nasce de uma conversa com um familiar próximo que me é muito caro e assim aqui ficam os créditos que lhe são devidos.
Mas nasce, também, porque me deu na cabeça fazer um teste de ADN. E escusam de estar para aí com palpitações, que eu não vou revelar minudências nenhumas acerca das minhas origens, que isso é muito coisa minha.
Mas informo, muito humildemente, todos os meus amigos que, se alguém se quiser referir à minha pessoa, com alguma exactidão quanto à ascendência genética, o mais correcto é chamarem-me mestiço.
Está combinado? Obrigado.
(Curiosamente, depois desta alteração, hoje acordei exactamente igual a ontem…)

breves reflexões outubrinas
em ambiente feicebuque

14 de Outubro

Dá que pensar… Em La Palma, cães que foram abandonados pela retirada precipitada dos donos estão a ser alimentados por drones. É bonito e humanitário.
E quantos drones estarão disponíveis para alimentar, por esse mundo fora, os seres humanos que foram abandonados por outros seres humanos?
Na verdade, vivemos num mundo cão e não num mundo humano, o que talvez explique disparidades destas.

15 de Outubro

Ouvido nos noticiários de hoje: os preços da electricidade no “mercado regulado” que, conforme tem vindo a ser exaustivamente anunciado, iam aumentar inevitavelmente e muito provavelmente já em Outubro, afinal vão baixar, de acordo com informações oficiais.
Fui eu que ouvi mal? O Pai Natal enganou-se no calendário? Ou trata-se das negociações para aprovação do orçamento a fazerem-se ouvir?
Ah, e os combustíveis, onde o governo informou, anteontem, de que não poderia diminuir impostos, afinal vai diminuir o ISP, conforme anunciou hoje?
Não é preciso repetir as perguntas acima formuladas, pois não?
A propósito, alguém sabe dizer-me onde se localiza a Disneylândia, em solo nacional? Ando a precisar de me distrair… Obrigado.

15 de Outubro

Por acaso, as Ciências nunca foram o meu forte, mas fonte de encantamento…
Li, recentemente – atrasado que eu ando nestas coisas – que já há viaturas movidas a hidrogénio, comercializadas de há uns anitos para cá. Da altitude das minhas ignorâncias, li e reli, e decidi que vou já adquirir uma viatura destas. Nem que tenha de vender a casa e os anéis, pois aquilo não só não polui como purifica o ambiente. Uma comodidade ainda por cima boa para o mundo? É uma verdadeira causa filantrópica!
De repente, informaram-me – um amigo fiel, que os há – que não existe, em Portugal, um único local onde abastecer a maravilha da modernidade.
Vocês nem queiram saber como estou para aqui a deprimir-me…

15 de Outubro
Agora, sim, a saúde, em Portugal, vai dar aquele salto quântico que nos irá transportar a algum Nirvana até ver ignoto. E basta comprar um telemóvel…
(De um anúncio perto de si.)
Já ter a gasolina mais barata, só porque comprei uma lata de salsichas e uma pizza congelada, me fazia alguma confusão…
E imaginar que tudo isto começou com a oferta de uma semana de férias em Tróia na compra de um colchão. Como o tempo passa…

16 de Outubro

Eu não sei se isto também se passa convosco mas, a mim, acontece-me muito…
Passeando no feicebuque, leio uma entrada cheia de humor e de saudável espírito criativo de algum amigo destas andanças. Leio, saboreio, divirto-me. Depois, dá-me para ler alguns comentários sobre essa entrada que li, saboreei e me divertiu.
Mas há alguns desses comentários que são tão estúpidos, tão desprovidos de sentido em relação ao que ficou dito, enfim, tão desajustados, que acabam por destruir o efeito saudável que o autor me transmitira.
Para quando um algoritmo profiláctico contra a estupidez?

20 de Outubro

Foi só por amor que o Estado português entregou os quadros milionários a quem lhe jurou fidelidade.
Fidelidade, essa manifestação etérea do ser mas nem sempre do estar…
Porque, afinal, ela jurara já fidelidade ao outro, até que a morte ou um divórcio com partilha de bens os separasse, o que, até ver, não ocorreu.
O Estado, agora e já tarde, tem uma atitude de ciúme extremo ao saber da existência do “outro” e exige à sua pretensa fiel depositária que lhe devolva os quadros e, quem sabe, as cartas trocadas ao longo destes anos e algumas faianças lá de casa, herança de uma velha avozinha…
Se tudo isto não fosse uma realidade pungente, poderia ser o argumento de uma novela pindérica e de quadragésima quinta categoria. Afinal, é só o dia a dia cá do burgo.

a espuma dos dias e o Portugal dos pequenitos

Ainda a propósito de Otelo Saraiva de Carvalho e dos mitos fascistóides que foram levantados à sua volta, no que respeita ao seu alegado envolvimento com as FP25, alguns dados:

  • O julgamento das FP25 terminou no dia 7 de Abril de 2001, no Tribunal da Boa Hora, em Lisboa. Otelo foi ABSOLVIDO no processo pelo colectivo de juízes da 3a Vara Criminal da Boa Hora.
  • O indulto de Mário Soares, em 1991, destinou-se apenas a minorar o erro judicial que manteve Otelo preso preventivamente durante mais de 5 anos.
  • A amnistia para as FP25, ocorrida em 2004 já não tem, portanto, nada a ver com Otelo.
    Todos estes dados estão disponíveis um pouco por toda a parte. Reiterar na falácia é falsear a nossa História recente. E isto vale para o Observador, para o Expresso e para quantos articulistas andam a propalar deliberadamente falsidades, criando uma nuvem de fumo que só pode servir objectivos inconfessáveis, ao mesmo tempo que passam um atestado de indigência mental aos seus leitores.

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O direito constitucional ao bom nome e à reputação cessa quando um cidadão morre? Não, pois não?
Então e que tal accionar judicialmente aqueles que acintosa e deliberadamente mentem, até na Assembleia da República, quanto ao passado de Otelo Saraiva de Carvalho?
Afinal, em tribunal ele foi ilibado integralmente.
Será que ainda vivemos num estado de direito? Então…

—x—

Quando ouço dizer que Otelo Saraiva de Carvalho não teve honras de luto nacional, tentando criar um paralelo com a mesma omissão no que respeita a Salgueiro Maia… apetece-me fazer recordar que o falecimento de Salgueiro Maia ocorreu em 1992, ano em que era primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva. O mesmo que lhe recusou uma pensão por relevantes serviços prestados à nação, mas a atribuiu a dois agentes da PIDE/DGS.
Quem é que quer comparar-se a Cavaco Silva?

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O nosso governo anunciou que, após 45 anos do fim da guerra colonial, foi conferido aos antigos combatentes o estatuto de… antigos combatentes (Lei n. 46/2020, de Agosto, e que entrou em vigor em 01 de Setembro de 2020).
Confere, esse estatuto, alguns benefícios, mais do que justificados, em face das pensões miseráveis que grande parte dos ainda sobrevivos auferem. Nomeadamente, isenções de pagamento de taxas moderadoras, entradas grátis em museus e acesso gratuito a passe intermodal.
Já se ouvem os aplausos?
Então, vamos com calma, pois os transportes públicos e não só, alegando desconhecimento, não reconhecem o estatuto, tendo-se já gerado inúmeras situações vexatórias para aqueles que tentaram usufruir desses direitos, até com polícia à mistura.
Eu tenho para mim um preceito, aprendido há muito tempo, segundo o qual ninguém pode invocar o desconhecimento da lei.
Mas, como estamos em Porugal, deve haver umas excepções ainda não devidamente regulamentadas, onde imperam a idiotice e a obtusidade.
Será que nunca mais tomamos andadura?

—x—

O que mais me enerva no Portugal das taxas e taxinhas em que (des)vivemos é o espírito mesquinho que subjaz, quase invariavelmente, a qualquer medida que se anuncie.
Vem isto a propósito do dever de pagamento de imposto nas compras feitas na internet.
Vejamos, eu estou plenamente de acordo que esses bens sejam taxados como todos os demais… e isso já devia acontecer há muito tempo. A medida só peca por tardia.
Dito isto, porque é que os CTT retêm mercadorias cuja transacção se verificou ANTES da nova lei ter entrado em vigor para agora aplicarem a lei, dir-se-ia com retroactividade?
Foram mandatados pela Autoridade Tributária ou é só mesmo excesso de zelo?
Para cúmulo, os interessados apenas apuram essa retenção se contactarem o fornecedor, pois os CTT, até à data, não avisam nada nem ninguém.
Tudo pequenino, pequenino… rasteiro… frustre…

a história do hidroavião revisitada…

Então, quer-se dizer (linguagem popular), um hidroavião cai, em França, e provoca um incêndio… e eu fico sem electricidade durante cerca de duas horas, em Cascais?

Para além de todas as conjecturas que possamos fazer, uma coisa me parece evidente: quando alguém fala em soberania nacional deve estar sempre no domínio da ficção. Ou, colocado de outra maneira, quantos portugueses sabiam que esta ocorrência era, sequer, possível?

Ah, em certos momentos, a electricidade que consumimos vem de França e até é muito mais barata porque eles têm diversas centrais nucleares. Ora, aí está: por isso é que passámos a pagar a electricidade muito mais barata, não é, meninas e meninos? Ou talvez não. Eu imagino, só os custos do transporte daquele energia toda, de lá tão longe. E, se calhar, é em pó, com camiões TIR e tudo… Isto quando se andava com estas coisas de burro saía muito mais em conta.

Melhor do que isso, só mesmo a electricidade que compramos a Marrocos, produzida em centrais idênticas à de Sines – que encerrámos – mas que não têm, nem de perto nem de longe, os pruridos ambientais que a nossa tinha. Como é diferente a energia, em Portugal!

Nota a posteriori – Felizes os tempos em que os apagões nacionais se deviam ao jacto de dejectos lançado por uma cegonha. Sempre era um animal já nosso afeiçoado, residente, que nem emigrava, dado o clima ameno. Imaginem, agora, o que será quando, num futuro próximo, algum panda, lá na longínqua China, se chatear com um CEO eléctrico qualquer, aqui em Portugal… É que isto anda mesmo tudo ligado… e não é só à corrente.

Helena Matos e a desinformação

Helena Matos dixit, no Observador, em 11 de Julho, p.p.: «Quando a SIDA apareceu nos anos 80 não se proibiu nada a ninguém. Em 2020, quando chegou o COVID proibiu-se quase tudo a toda a gente. Somos as cobaias de uma nova forma de governar: o social-sanitarismo»

Eu tendo a sentir muita consideração por todo e qualquer ser vivente e pondero sempre evitar meter-me nas tamanquinhas de cada um, até por razões profiláticas. Mas quando alguém partilha uma opinião, o mínimo que se espera é o seu eco, a ressonância produzida.

Assim sendo, quando alguém que se arvora em jornalista publica um artigo de opinião assume o que vulgarmente se chama responsabilidade social acrescida.

Ora, Helena Matos ao pretender comparar a SIDA, nos idos de 80, à actual COVID, para defender uma agenda política que é muito sua, comete, em meu entender, vários pecados indefensáveis:

  1. Confunde – e tenho de admitir que o faz deliberadamente, tal a monumentalidade do disparate – duas realidades cientificamente distintas, muito especialmente no que à relação entre seres humanos respeita e, portanto, à transmissibilidade da doença.
  2. Ignora, também deliberadamente, a dimensão comparada do impacto social entre ambas as maleitas… (Veja-se o exemplo da necessidade do teletrabalho: no que respeita à SIDA – e se me é permitida alguma ironia – apenas se justificaria em relação às equipas de produção de filmes pornográficos ou naqueles casos em que um ambiente de trabalho se revelasse muito promíscuo para além das tarefas do dia-a-dia, com vários «bodystorming» sobre as secretárias, maquinas de costura, etc…).
  3. Promove, concomitantemente, a desinformação num momento histórico em que o comum cidadão se debate no mar de informações contraditórias ou antagónicas que colocam em causa a sua própria sobrevivência.

Poder-se-ia continuar, mas não vale a pena. Helena Matos, como tantos «jornalistas» a que vamos tendo direito, não é tanto jornalista mas mais uma opinativista – o que, se calhar, até é um neologismo covidiano. Talvez por isso conceitos como a deontologia não se lhe aplicam nem há ordem profissional que a sustenha.

O bêbedo da aldeia não teceria melhor comentário, entre dois copos de três.

O Observador paga-lhe por isto ou para isto? É que até isso fará diferença…