Passam 500 anos e a malta esquece-se de que tem (devia ter…) à mão de semear um dos nomes maiores da poesia mundial.
Também porque a poesia é (pode/deve ser…) um momento de reflexão sobre a vida e nem sempre com flores, rodriguinhos ou mariposas, mas com a nudez crua da verdade.
Relembrem – mas saboreiem cada palavra, se fizerem o obséquio – estas suas breves palavras
Ao Desconcerto do Mundo
Os bons vi sempre passar No mundo graves tormentos; E para mais me espantar, Os maus vi sempre nadar Em mar de contentamentos. Cuidando alcançar assim O bem tão mal ordenado, Fui mau, mas fui castigado: Assim que só para mim Anda o mundo concertado.
À entrada da Anta Grande do Zambujeiro, em Valverde (Évora) a artificiosa natureza esculpiu, servindo-se de um sobreiro, o símbolo totémico de um dragão. Nada de futebóis, bem entendido. O dragão ou a serpente alada, em tempos ancestrais, seria uma marca identitária do território onde hoje vivemos. Podem espreitar em https://pt.wikipedia.org/wiki/Ofi%C3%BAssa Pois é… tanta coisa que por aqui nasceu e nós sabemos tão pouco…
– Largo D. João III, em Miranda do Douro. Em fundo as duas torres da Concatedral de Miranda.
– Vista parcial da albufeira da Barragem de Miranda do Douro.
– Albufeira e barragem de Miranda do Douro. Imagem obtida da varanda do Hotel Parador de Santa Catarina.
– Vista para a Concatedral de Miranda do Douro.
– O castelo de Miranda do Douro, testemunha de um território onde, embora se fale a língua mirandesa, é português por inteiro.
– No rio Fresno, que se passeia pelos pés de Miranda, um circuito pedonal que se recomenda e que nos leva até ao centro histórico da cidade.
– Pormenor da estátua da autoria de José António Nobre, evocativa da mulher e do homem mirandeses, trajando os seus trajes típicos, localizada no centro histórico de Miranda, na praça D. João III.
(Quem quiser apreciar devidamente esta escultura em toda a sua plenitude tem bom remédio: vá lá.)
– Muito me aprouve registar grande profusão de predadores alados, sempre indício de uma natureza pródiga em recursos.
– Na sempre inesquecível paisagem que o cruzeiro ambiental ao longo das arribas do rio Douro nos proporciona, dezenas de grifos (buitres, em Mirandês) fizeram questão de marcar presença.
– No cenário arrebatador que o cruzeiro ambiental nos proporciona, momentos há em que os meandros do rio Douro nos escondem o seu curso, parecendo ali se erguer uma muralha intransponível…
– Nos cenários de beleza agreste com que vamos deparando ao longo da viagem do cruzeiro ambiental no rio Douro, somos surpreendidos, a cada passo, com curiosos jardins naturais que crescem nas arribas…
– Gostemos mais ou menos, certo é ser este jovem de olhos azuis um dos ex libris de Miranda do Douro, o Menino Jesus da Cartolinha, assim chamado, e foco de grande devoção.
Dizia-me um bom amigo que descobria no seu rosto traços do Mário Viegas quando novo… Será. Cada um vê o que vê com os seus olhos.
– Em Atenor, um burrico «lhanudo» pasta com a progenitora, que já enverga o seu traje primaveril.
– Por Duas Igrejas, no terminal da linha ferroviária do Sabor (desactivada), a velha e decrépita estação presenteia-nos, ainda, com uma série de painéis de azulejos da fábrica Sant’Anna (de Lisboa), que documentam usos e costumes da região.
Duas Igrejas fica a escassos dez quilómetros de Miranda do Douro mas, como ali estavam os silos de cereais da campanha do trigo dos tempos do Estado Novo (que não ocorreu só no Alentejo, mas também no planalto transmontano), por ali se quedou a linha de comboio… As tais malhas que o império tece…
Agora e seguindo o poeta, jaz morta e arrefece ou, melhor, apodrece. Parece que a actual autarquia tem planos para este espaço, o que muito me apraz registar.
– Exemplar de ovelha churra – a que, por lá, chamam canhona – um motivo mais para visitar a Terra de Miranda. E lembremo-nos da recomendação do poeta: «melhor é experimentá-lo que julgá-lo…».
– Palaçoulo, terra de indústrias múltiplas, onde cutelaria e tanoaria serão as mais notáveis; aldeia rara onde se regista pleno emprego; paraíso para os coleccionadores de navalhicas; local onde se fabricam das melhores pipas do mundo (os «ferraris» das pipas) e cuja fama já chegou ao Farol do Bugio, onde a autarquia de Oeiras mantém uma mão-cheia delas com o também único néctar de Carcavelos (por aqui Villa Oeiras)…
– Barrocal do Douro (Picote) – Capela projectada em 1954 por Nunes de Almeida, um dos arquitectos, a par de Archer de Carvalho e de Rogério Ramos, reponsáveis pela edificação de uma «cidade ideal», em estilo arquitectónico a que se chama Moderno Escondido, uma jóia verdadeiramente escondida nos fraguedos transmontanos e de uma modernidade que espanta.
Aí fomos, como sempre, muito bem recebidos pela sua guardiã, Margarida Vale, a quem deixo aqui o meu agradecimento, pela disponibilidade, simpatia e paciência, também pelo seu afã constante em manter aquele espaço um brinco, como sói dizer-se, e a quem já era tempo de ser prestada devida homenagem por entidades competentes.
Este Cristo Crucificado, bem como as demais figuras desta capela, são da autoria de Barata Feyo.
– Barrocal do Douro (Picote) – vista parcial da albufeira da barragem, inaugurada em 1958.
– Barrocal do Douro (Picote) – a «barraige». Aquando da sua construção, pela Hidro-Eléctrica do Douro, avaliada como a maior central hidroeléctrica da Europa.
E , do lado de lá, fica Espanha.
– Barrocal do Douro (Picote) – o Rio Douro, a jusante da barragem.
Faltavam cá estas personagens. Não só pela posta, entenda-se, mas pela boa aposta que esta estirpe representa.
Por outro lado e convenhamos, aqueles penteados deixam a perder de vista e, decerto, bem invejosos alguns despenteados mentais que por aí pululam, do tipo Johnson, Trump ou Milei…
Picote – Capela de Santo Cristo dos Carrascos, onde ao ser retirado o altar mor para restauro foram descobertas estas imagens originais, do século XVI, das quais já se tinha perdido a memória.
Documentam episódios da vida de São João Baptista e encontravam-se, à data da descoberta, em excelente estado de preservação, ainda que já lhes tenham operado algum cuidadoso restauro.
Picote – Miradouro da «Peinha de l Puio» ou Fraga do Puio, sobre o rio Douro, com o grupo de visitantes e guia completo.
Fica a dever-se a imagem ao amigo Eduardo Domingues que tão bem nos acompanhou neste périplo.
Ainda em Picote, não deixe de visitar o Ecomuseu Terra Mater, da Frauga – Associação para o desenvolvimento integrado de Picote.
Não sendo um espaço grande é enorme em ensinamentos. Mas também é um exemplo maior de perseverança e de amor pela terra-mãe.
– De novo em Miranda, com uma passagem pela sua estátua e em evocação a António Maria Mourinho, que, entre muitas outras virtudes, pois foi padre, professor, antropólogo, etnolinguista, historiador e arqueólogo, foi ainda o grande cultor e defensor da Língua Mirandesa, a quem se deve a sua elevação a Língua Oficial.
No Externato de São José, lá pelos idos de 60 do século passado foi meu professor de Religião e Moral… aulas em que nos ensinava a importância das pedras e pedrinhas que ele sabia existirem por todo o concelho e que nos contavam uma História ainda por descobrir.
– Ia alta a noite. Pelo Restaurante da Balbina, o grupo fez as honras ao cordeiro assado na brasa, antecedido pela boa alheira de Miranda e por aquela salada que nos traz o bom saber dos velhos tempos.
Eis senão quando um grupo de jovens pauliteiros acede em presentear-nos com um seu ensaio informal, junto à Concatedral, mostrando-nos, com a sua mestria, que o ser-se mirandês está ali para lavar e durar, como se costuma dizer. Um aplauso a eles e a chapelada pelo empenho com que fizeram tal demonstração!
Por este rio acima, contra marés e maus ventos, ele singrou, levando-nos na viagem…
«Por este rio acima
Deixando para trás
A côncava funda
Da casa do fumo
Cheguei perto do sonho
Flutuando nas águas
Dos rios dos céus (…)»
E nós fomos e vamos, sempre com ele por perto, como nos compete fazer àqueles que nos apontam caminhos e, assim, terem artes de se irem «das leis da morte libertando».
No lançamento deste meu livro, na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana, foi bonita a festa, pá! Lugar comum? Não, senhores, lugar incomum, isso sim.
Especial agradecimento a Joaquim Boiça e a João Paulo Oliveira, que estiveram a meu lado nesta iniciativa, bem como aos trabalhadores da Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana, na pessoa de Celeste Ribeiro.
Com um abraço aos participantes – e foram tantos -, aqui ficam algumas imagens de LC, para memória futura.
Com um agradecimento a João Coutinho, pela cedência do vídeo, aqui fica um apontamento da sessão, desta feita a cargo de João Paulo Oliveira.