Sendo este um espaço de marés, a inconstância delas reflectirá a intranquilidade do mundo.
Ficar-nos-á este imperativo de respirar o ar em grandes golfadas.
Bob Dylan, Prémio Nobel da Literatura … II
Bob Dylan, Prémio Nobel da Literatura 2016…?!
Nota complementar de esclarecimento: o Prémio Nobel não é atribuído postumamente, excepto em casos de morte recente relativamente à deliberação da entrega de determinado prémio. Essa circunstância reduz drasticamente os 475.322 nomes que refiro acima, mas ainda me sobram uns tantos milhares.
Claro que poderemos considerar que o José Carlos Ary dos Santos, por exemplo, quando ainda em vida – e já existia o Prémio Nobel para a Literatura… – com os seus 600 poemas musicados e os não musicados, teria sido, na óptica em presença, um caso a ponderar, obviamente que com outra pujança que o Quim Barreiros da pilhéria.
Mas entre tantos defensores e detractores do prémio agora atribuído e entre tantos autores invocados, curiosamente, mesmo entre autores do mesmo ofício, não ouvi ainda ninguém lembrar-se do Ary. E isso confunde-me, confesso.
apenas um apontamento, do tipo dúvida metódica…
alguém sabe como é que os cães ladram em americano?
– questão dirigida aos adeptos de BD
entrada de leão, saída de sendeiro?
Miranda do Douro
fotografando o dia (173)
o menino de Alepo
O menino de Alepo
conflitual perante a Vida
Vida
tenho cinco anos
num espaço de tempo do tamanho do mundo
chamo-me Omran
e brinco no pátio em frente da casa
e o meu riso alegre
alegra o meu pátio
porque tenho cinco anos
e nem sei bem qual é o tamanho do mundo
mas sei o tamanho de um sonho que invento
e me brilha no olhar
tenho cinco anos
e o sangue palpita-me pelas veias fora
com a intensidade da luz
tenho cinco anos
e o mundo fragmenta-se
em dor
morte e ruínas
sobre o meu tempo do tamanho do mundo
tenho cinco anos
e cada estilhaço que me rasga o corpo
que rasga as janelas da minha casa toda
que rasga os meus pais e os meus irmãos
que rasga o meu riso
e enterra a alegria tão fundo
tão fundo
mais longe que o mundo
tece em meu redor um muro de morte
onde um silêncio espesso
impede que o Sol penetre a poeira
que vem dos destroços
sem ver cor de esperança
de uma outra maneira
tenho cinco anos
e já tão sem tempo
um Verão assim…
Já todos sabem (ou sabemos) que um poema não serve para coisa nenhuma. E, ainda assim, se escreve um poema…
há um arco negro de cinzas
a invadir-nos o chão
e um cerco de vozes-tardas
a ensombrecer a razão
mas um sol sempre a nascer
no negro de solidão
como asas brancas voando
emigrantes porque sim
porque é assim que são brancas
por ser assim que lá vão
cruzando os céus de negrumes
até ser azul-Verão
que é um azul mais profundo
do que alguma outra razão
mas não há lamento algum
que possa cobrir o manto
de tanta cinza no chão
de onde nos brota a vida
e onde se perde a razão
mas lá vão as asas brancas
a mostrar-nos porque sim
porque voar de asa branca
entre tanto e tanto não.
















