O menino de Alepo
conflitual perante a Vida
Vida
tenho cinco anos
num espaço de tempo do tamanho do mundo
chamo-me Omran
e brinco no pátio em frente da casa
e o meu riso alegre
alegra o meu pátio
porque tenho cinco anos
e nem sei bem qual é o tamanho do mundo
mas sei o tamanho de um sonho que invento
e me brilha no olhar
tenho cinco anos
e o sangue palpita-me pelas veias fora
com a intensidade da luz
tenho cinco anos
e o mundo fragmenta-se
em dor
morte e ruínas
sobre o meu tempo do tamanho do mundo
tenho cinco anos
e cada estilhaço que me rasga o corpo
que rasga as janelas da minha casa toda
que rasga os meus pais e os meus irmãos
que rasga o meu riso
e enterra a alegria tão fundo
tão fundo
mais longe que o mundo
tece em meu redor um muro de morte
onde um silêncio espesso
impede que o Sol penetre a poeira
que vem dos destroços
sem ver cor de esperança
de uma outra maneira
tenho cinco anos
e já tão sem tempo
Bem hajas!
Pois é Alepo, ou Aleph?, ou o princípio?, ou o Alfa de outras paragens? Como tu transcreves também noutras paragens, o Aquilino Ribeiro é que era capaz de ter razão…
Fizeste-me lembrar o meu poema de ''Não tenho tempo no tempo…''
Sim o Aquilino tinha a razão do seu lado…O sítio é que teima em ser sempre o mesmo…
Estou com Aquilino e contigo.Beijo.
E nós, mundo de homens e mulheres, temos tantos anos e ainda não aprendemos a mudar de vida. Gostei. Um abraço
JV
Sem palavras…as tuas dizem tudo! Um beijo de carinho e ….dor por tosos os Alepos!
Cada vez me surpreendes mais. Adorei. Beijinho e continua sempre!!!!
Sem palavras e um grande nó na garganta. Obrigada por seres capaz de colocar em poema o teu sentir sobre este drama que me toca tão fundo.
O meu abraço.
Belas palavras. Gostei.
Mário Baleizão
O menino de Alepo, é,amigo Jorge de Castro,um triste retrato/simbolo da brutalidade humana no mundo de hoje.
Porque é um menino de cinco anos sensibiliza- nos pela mensagem de inocência,terror e contida esperança.
Quero acreditar que muitos meninos de Alepo ao crescerem tenha crescido , também ,com eles,a vontade de mudar para que o Homem tenha direito ao seu nome.
Parabéns!
Um lindo,lindo poema!
Na conversa de ontem contigo e demais 'amigos das terças feiras' a ideia por detrás deste poema esteve em evidência e a importância de certas imagens.
Foi este o caso em que tu como homem atento ao que se vai passando e sensível a estas barbaridades, plasmaste em versos aquilo que certamente é o sentimento de muitos de nós, leitores.
Belo poema – um abraço por isso – cpf –
abraço, meu caro Jorge
aí temos, meu amigo, uma boa "metáfora" do Mundo actual.
como poderemos, pois, gostar delas (das metáforas)?
volto para dizer-te quanto gosto do poema,
nobre a tua poesia ( e sempre no lugar e momentos certos )
abraço
Entre o brilho desse olhar
e o teu (belo) poema
vai uma longa teia
de estratégias de guerra
Não houve um único jornal ocidental que não publicasse
Não houve um único leitor que não se comovesse
E nada acontece por acaso
http://antreus-dois.blogspot.pt/2016/08/a-guerra-das-imagens-na-propaganda.html
Muito se vai dizendo acerca da veracidade ou genuinidade desta imagem. E todos vamos discutindo isso, também numa ilusão de busca da objectividade clara da árvore, sem preocupações subjectivas com a floresta…
Respigo, então, o que já comentei em área de pessoa amiga, onde o assunto veio à baila com mais empenhamentos:
1º comentário: Uma mera questão académica, neste mundo de jogos de espelhos em que todos somos figurantes – e alguns, mesmo, figurões: para além da imagem poder ter sido «preparada» ou não, será que a guerra na Síria existe? Ou será, também ela, uma enormíssima encenação? Por vezes, devemos tentar permitir que os nossos neurónios funcionem um pouco…
2º comentário: Ou, numa outra abordagem, será que a perpétua insanidade da guerra ficará mais atenuada (ou menos) se uma imagem documenta que há vítimas que são crianças? E outras são velhos, homens, mulheres, jovens… E, aquela, entretanto, é de uma criança que, como tantas outras crianças iguais a ela e sem tempo de encenações, são mortas na insanidade da guerra – de qualquer guerra – e diferencia-se apenas porque terá muito menos capacidade de defesa e com tanta vida ainda por viver.
E, de repente, eu até consigo lembrar-me dos meus cinco anos de idade…
Tens boa(s) memória(s).
Li o teu poema com os olhos cheios de lágrimas, como quando vi as imagens do menino de Alepo…
Uma boa semana.
Beijos.