O menino de Alepo

– igual a todos os meninos do mundo todo onde a nossa irracionalidade
conflitual perante a Vida
tanto perturba o nosso entendimento sobre essa mesma
Vida

tenho cinco anos
num espaço de tempo do tamanho do mundo
chamo-me Omran
e brinco no pátio em frente da casa
e o meu riso alegre
alegra o meu pátio
porque tenho cinco anos
e nem sei bem qual é o tamanho do mundo

mas sei o tamanho de um sonho que invento
e me brilha no olhar

tenho cinco anos
e o sangue palpita-me pelas veias fora
com a intensidade da luz

tenho cinco anos
e o mundo fragmenta-se
em dor
morte e ruínas
sobre o meu tempo do tamanho do mundo

tenho cinco anos
e cada estilhaço que me rasga o corpo
que rasga as janelas da minha casa toda
que rasga os meus pais e os meus irmãos
que rasga o meu riso
e enterra a alegria tão fundo
tão fundo
mais longe que o mundo
tece em meu redor um muro de morte
onde um silêncio espesso
impede que o Sol penetre a poeira
que vem dos destroços
sem ver cor de esperança
de uma outra maneira

tenho cinco anos
e já tão sem tempo

só tenho o meu nome
perdido o olhar…
– Jorge Castro