
Sendo este um espaço de marés, a inconstância delas reflectirá a intranquilidade do mundo.
Ficar-nos-á este imperativo de respirar o ar em grandes golfadas.
a praia de Carcavelos e os vidrinhos
Hoje, sim, venho deixar-vos um testemunho de acção cívica, porventura sem precedentes, e que é quase-quase tão relevante como o 101º golo do Ronaldo ao serviço da Selecção, ainda para mais porque é de minha autoria!
Tenho aproveitado os meus périplos na praia de Carcavelos para diminuir o perímetro abominável e, pelo caminho, apanho do areal tudo quanto são vidrinhos e só vidrinhos. Verdes, brancos, castanhos e todos polidos pelas salsas ondas.
Apesar das imensas maquinarias que todos os dias calcorreiam o areal à cata de beatas e outros esquecimentos dos banhistas, na beira-mar sempre fica uma zona pouco explorada… que é aquela que eu percorro.
Eis a safra deste ano, pós confinamento e alguma dor nas costas. Hei-de fazer disto uma escultura, vos garanto. Agora, tenho ali uma entrevista com a Greta e já volto…

perguntas impertinentes para desassossegar a noite
– Em que é que o contágio verificado numa residência de luxo para idosos pertencente ao Montepio e sediada no Porto, que já conta com 16 mortos, tem de diferente ou parecido com a festa que vai realizar-se na Quinta da Atalaia? Muito, pouco ou nada…?
– Já ouvi dizer que a notícia falsa sobre o New York Times difundida pela SIC e cavalgada por Rui Rio, atendendo ao profissionalismo que campeia naquela estação de televisão, até parece uma coisa deliberada… Se tal circunstância pudesse, por absurdo, alguma vez ser comprovada, estaríamos em presença de mau jornalismo ou de uma conspiração?
– O senhor Presidente da República foi interpelado por uma exaltada, em plena Feira do Livro, a fazer-lhe perguntas direitolas e afirmações bastante chegófilas e tendenciosas, sem que o senhor Presidente da República apelasse aos seus seguranças, para salvaguarda do decoro e da ordem pública. Alguém me sabe dizer onde poderei encontrar o senhor presidente da República, nos próximos dias, para ir ter com ele e, em pé constitucional de igualdade de oportunidades, lhe dirigir algumas questões, porventura de sentido contrária, às da exaltada? E podem assegurar-me o mesmo tempo de antena que deram à exaltada?
outra questão assintomática
Assunto: – A sacrossanta festa do Avante, que já leva quatro meses de enjoo!
Alguém – que não seja daqueles retardados que ainda acreditam que os comunistas comem criancinhas ao pequeno almoço (que ainda os há, pelos vistos… refiro-me aos que ainda acreditam nisso, claro…*) – saberá explicar de onde vem e para onde vai todo o histerismo reinante à volta da coisa?
E nem vou fazer comparações com a Feira do Livro nem com nada.
É que ninguém é obrigado a ir, o espaço em causa é imenso, a organização apresentada pelo PCP é sempre imaculada… Será só raivinha de dentes? Se sim, uma chupeta mergulhada em água com açúcar costuma apaziguar o choro.
E os comerciantes em redor fecham as portas? Ah, grandes otários! Vão lá a correr, depois, aos subsidiozinhos por terem a porta fechada, que a culpa há-de ser do governo, claro…
Que já quase ninguém usa os pisca-pisca dos carros já cá se sabia. Agora, que toda a gente feche a sete chaves o bom senso no armário lá de casa é que me parece novidade. E não são boas notícias.
* Alguns dos acima referidos, segundo notícia credibilíssima à brava do New York Times, parece que são os «objectores de consciência» às aulas de Educação para a Cidadania. Honni soit…
uma questão assintomática
– SE o presidente da Juventude Popular (JP), organização juvenil do CDS-PP, se associou ao manifesto também assinado pelo ex-chefe de Estado Cavaco Silva e pelo ex-primeiro-ministro Passos Coelho pela “objecção de consciência” face à disciplina de Educação para a Cidadania, porque não emigram todos para uma outra cidadania qualquer que seja mais compatível com as suas sensibilidades melindradas?
Sei lá, ali para o meio da Austrália, talvez, onde só encontrarão outro concidadão muito de longe em longe… que, certamente, fugirão deles aos saltos.
Objecção de consciência relativamente à disciplina de Educação para a Cidadania?!? Valha-nos um burro aos coices!
os originais de Cascais
Cascais anda numa fona de originalidades que é de causar vertigens…
A mais recente: o anúncio da criação de um «Ecocentro Móvel de Cascais», conjunto de recipientes destinados a recolher materiais para reciclagem (livros, cabos eléctricos, pilhas e baterias, «toners» e tinteiros, lâmpadas, latas de «spray» loiças e espelhos, «cassettes», dvd e cd, latas de tinta, etc., etc.).
O dispositivo será instalado, em cada dia da semana, numa diferente povoação do concelho.
O anúncio de uma iniciativa porventura cheia de boas intenções, causa-me algumas inquietações e, por favor, não venham com a treta do velho rezingão:
1 – Para eu me deslocar ao local onde se encontra o Ecocentro terei de gastar tempo e combustível… e poluir mais um bocadinho o ambiente. Lá fica uma parte das boas intenções prejudicada.
2 – Fazendo esse trabalho de separação de consumíveis para reciclar e respectiva deslocação, eu, que já pago, neste concelho, tantas taxas por conta da produção de resíduos sólidos (só na última factura lá foram 9,76 €), em que medida vou ser ressarcido, à imagem do que ocorre nalguns países da Europa, por este trabalho que me é solicitado? Valendo senhas para bens alimentares, por exemplo, que talvez contribuíssem, até, para apoio de quem não tenha outros meios de subsistência, sem ter de recorrer à caridadezinha habitual.
Caso contrário, é apenas mais um expediente para pôr cada munícipe a trabalhar de borla em benefício… do que não se sabe, invocando a incontornável «defesa do ambiente».
3 – Colateralmente: quando se faz um folheto de divulgação, é interessante saber algumas regras de escrita. Por exemplo, as siglas não têm plural (que é definido apenas pelo artigo que antecede a palavra): dvd e cd será o ou os dvd e o ou os cd… e não os dvds e os cds. É que, no caso, existe um recipiente para – e cito – «cassetes, DVDS / CDS». Não conheço o partido DVDS, mas posso imaginar que os militantes do CDS não estejam muito confortáveis com esta possibilidade disponibilizada aos cidadãos… Já os ou as «cassetes» são de interpretação duvidosa…
4 – «Projecto-piloto de reciclagem de proximidade» e «implementação da Economia Circular», como são expressões religiosas, não comento.
Vá lá, agora já podem dizer: ele há gajos muito complicados, não há…?
tão bom o novo banco bom
O Novo Banco Bom vende activos imobiliários aos amigos a preços muito abaixo do valor da avaliação que tinha sido feita? Conta com o dinheiro dos contribuintes portugueses para receber o que não cobrou aos amigos… e diz que isso está tudo contratualizado?
Resumidamente, o caso é este, não é? É que com tanto especialista a dissertar sobre a matéria, um tipo, às tantas, perde-se…
Então e se, agora, o estado se pusesse em bicos dos pés – assim em jeitos de dar uma prova de que ainda está vivo – e dissesse qualquer coisa do género: «- Meus senhores, vão ludibriar a vossa avozinha. Nós cá decretamos que a negociata que fizeram é ilegítima e já a ilegalizámos.
Os activos imobiliários passam para a posse do estado português, assim a modos de quem lhe está a apetecer muito uma nacionalizaçãozita, por conta de perdas e danos».
Não se pode…?
Ah, carais, que até votava neles!
ais, ais, os animais…
Eu sei que, para muito boa gente, o que vou dizer não será politicamente correcto, mas como estou bastante farto de histerias colectivas desfocadas (em minha opinião, claro…), cá vai disto:
– Quem tanto se apoquenta com o drama que ocorreu com a morte de grande quantidade de animais de estimação, já terá pensado que os donos ou as donas das instalações particulares onde teve lugar o desastre também os tinham recolhido por «amor aos animais»?
Não teriam dinheiro para lhes proporcionar alimento e condições de vida… mas queriam-lhes bem, se calhar. Criminosamente bem, mas com as melhores intenções. Patologicamente bem, mas com as melhores intenções.
Já os serviços públicos que conviveram anos a fio com aquelas realidades estão todos a assobiar para o ar ou a fingirem-se de virgens desvalidas. É sempre a mesma treta, com vossa licença!
E na cambada de «jornalistas» excitadíssimos ninguém apura nada de coisa nenhuma, que não seja o foguetório à volta da histeria. Pobres animais!
Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas
Com o agradecimento devido, publicamos a imagem que obtivemos de Ricardo Paes Mamede:

E porque do dia de Camões se trata, três sonetos de Luís Vaz de Camões, ditos por mim:
2020 – Dia de Camões – três sonetos
Posted by Jorge Castro on Wednesday, June 10, 2020
viva o 1º de Maio!
No primeiro 1º de Maio após o «dia inicial, inteiro e limpo» também lá estive…
era o 1º de Maio de 74
e Abril fluía pelas ruas como nunca visto
e eu vi
senti
fiz parte do acto
e por assim ser ainda bem que existo!
(fotografias de Jorge Castro)


do quotidiano delirante de Miguelanxo Prado ao incomensurável delírio em que vivemos hoje
Uma confidência: gosto muito de banda desenhada. Boa ou má, será meu o critério. Há, entretanto, um autor que aprecio sobremaneira: o galego Miguelanxo Prado.
Tem um trabalho que me caiu especialmente no goto: Quotidiano Delirante. Conhecem? Se não, tentem não perder.
E vem isto a propósito de quê? Do quotidiano delirante que colho na leitura de notícias frescas, em que nos apercebemos de desequilíbrios estranhos no mundo em que vivemos e em que ficamos com suspeitas de que há para aí uns tipos a injectar substâncias proibidas. Ora vejam quatro exemplos… que nem vou comentar, por desnecessário:
- A Diocese de Angra, na Ilha Terceira, Açores, decidiu colocar os funcionários e alguns padres que dependam em exclusivo dos rendimentos das suas paróquias no regime de lay-off devido à crise provocada pela pandemia de covid-19.
- “Se houver quem ponha aquele espaço a funcionar como uma câmara de gás, eu pago o gás”. Foi com esta “piadola” que um coordenador da Câmara da Trofa terminou um post sobre as comemorações do 25 de Abril na Assembleia da República. Entre os 17 “gostos” estava o presidente da Câmara, Sérgio Humberto.
- De Espanha chega uma notícia inesperada. As autoridades de Zahara de los Atunes, em Cadiz, decidiu desinfetar dois quilómetros de praia com doses de lixivia.
O objectivo seria tornar o areal seguro para os passeios com as crianças que finalmente puderam sair de casa. Porém a desinfeção colocou em risco as dunas e matou muitas espécies marinhas.A decisão já foi considerada uma aberração ambiental e a autarquia já admitiu o erro e apresentou um pedido de desculpas. - Patrões propõem entrada do Estado para segurar empresas durante a crise.
CIP defende criação de um fundo que, à semelhança do capital de risco, ajude as empresas em dificuldade. A ideia é complementar o crédito, que está a esgotar-se.
O tecido empresarial português nunca gostou muito do capital de risco. Mas “entre a vida e a morte, as opiniões mudam”, atalha António Saraiva, cuja direcção ainda está a trabalhar na proposta que pretende pôr em cima da mesa na próxima semana.
Gostaram? Querem mais? Em qualquer periódico junto de si! Mas tentem proteger-se destes efeitos colaterais maléficos.