Nos dias que vão correndo, em que se adensam velhas querelas e se dão grandes passos no sentido de um conflito mundial generalizado pelas sempiternas vontades hegemónicas de uns poucos sobre as vidas de tantos outros, sob o manto pouco diáfano das múltiplas religiões, apeteceu-me relembrar aqui o sonhador John Lennon e o seu tema «Imagine», sempre oportuno, sempre actual.
Esta tradução é de minha responsabilidade, sem especiais preocupações de retroversão poética, porque o importante é a mensagem transmitida, que é para ser entendida muito para além de ser apenas cantarolada.
Imagine não haver paraíso Imagine there’s no heaven É fácil se você tentar It’s easy if you try Nenhum inferno por baixo de nós No hell below us E por cima somente o céu Above us, only sky
Imagine todas as pessoas Imagine all the people Vivendo para o dia de hoje Livin’ for today
Imagine não haver países Imagine there’s no countries Não é difícil fazê-lo It isn’t hard to do Nada por que matar ou morrer Nothing to kill or die for E também nenhuma religião And no religion, too
Imagine todas as pessoas Imagine all the people Vivendo a vida em paz Livin’ life in peace
Você pode dizer que eu sou um sonhador You may say I’m a dreamer Mas eu não sou o único But I’m not the only one Espero que um dia se junte a nós I hope someday you’ll join us E o mundo será um só And the world will be as one
Imagine não haver possessões Imagine no possessions Pergunto-me se será capaz I wonder if you can Não haver necessidade de ganância ou fome No need for greed or hunger Uma irmandade do homem A brotherhood of man
Imagine todas as pessoas Imagine all the people Partilhando todo o mundo Sharing all the world
Você pode dizer que eu sou um sonhador You may say I’m a dreamer Mas eu não sou o único But I’m not the only one Espero que um dia se junte a nós I hope someday you’ll join us E o mundo viverá como um só And the world will live as one
Em 2012, a Câmara do Porto aceitou a doação da estátua “Amores de Camilo”. Essa doação foi aprovada pelo Executivo Municipal, motivo que impede que seja retirada (felizmente…).
«que terão eles visto na estátua que eu não vi nem viste tu? perturba-os a senhora nua ou o Camilo não estar nu?» – isto vai dizendo o Eça à Verdade que ele enlaça…
ah houvera quem vos dera no vosso alvar frontispício mesmo em retórico exercício senhores donos do pudor com um bronze ou um granito que vos esculpisse algum grito sem vos causar mal maior mas recentrando a esfera da cabeça… se a tivéreis
não sabeis vós que a nudez afinal foi quem vos fez? ou será que a vossa afronta vem de algo de pouca monta que sem força não ergueis – falo eu do argumentário que de frustre e passadista mais soa a reaccionário com presunção moralista
«olhai bem para o que eu digo não cuideis de quanto eu faço» diz o abade ao abrigo de seus filhos no regaço… não sejais tais sacripantas sacristas ou até eunucos tudo em redor conspurcando com seus aleivosos mucos
não frequentais vós as praias oh cruzados da moral? não vos perturbam as belas com tanto fio dental? que mostra mais do que esconde quanto na mulher avonde e é de si primordial?
deixai-vos lá dessas tretas ou armados em ascetas proibireis o areal?
ao costurar dois conceitos cuidei ter feito um poema eram meros preconceitos preceitos para uma cena de teatro de fantoches ou até de marionetas onde por mais que deboches assim nascem os poetas
dois conceitos saturados do sal que a vida nos traz em contraluz ofuscados com sol batendo por trás como quem tange a rebate um sino que não está lá por electrónica que farte do tanto que ela nos dá
um poema incontinente de mil pés ambulacrário a correr de trás para a frente e sempre em modo contrário quem o ouviu poema o disse quem o sentiu mais choroso chamou poema-chatice ao tal poema manhoso.
quando olho para ti esses teus olhos lembram sempre aquele mar cheio de estrelas onde cedo aprendi a navegar nem era meus os caminhos eram delas reflectidas nessa ondulação do mar
sempre em vão me esforcei por entendê-las por trazê-las junto a mim ao meu lugar mas talvez por serem tão somente estrelas tão prementes tão belas tão distantes só as tive na carícia de um olhar.
porque o tempo é sempre feito de mudança as quimeras e utopias são reais muda o tempo muito mais que a vista alcança mas o sonho esse então nunca é demais
há-de ser sempre Abril este meu hino de lutar contra o pavor de ter amarras há-de ser de Abril decerto esse destino de fazer de negras noites manhãs claras
esse tempo tempo este o que virá onde tu e eu e nós gritamos sim contra muros a erguer penas e espadas e ao sair a vida à rua em dia assim vai trazer-nos boas novas e alvoradas
esse tempo tempo este o que virá feito urgente em cores da fraternidade a trazer ao peito o grito conhecido sempre urgente a relembrar toda a cidade que o povo unido nunca mais será vencido
esse tempo tempo este o que virá cravo-Abril sendo flor e temporã de acender este querer ser que em peito arde por mais que tarde já lá vem o amanhã porque Maio vai florir e nunca é tarde.
Dizem-me que houve, há dias, o dia do beijo. Ora, para o bem de nós, é melhor que nos beijemos sempre que apetecer.
E, por falar nisso, preparando uma sessão em que estarei, hoje, envolvido, tropecei com este meu poema, que vos deixo, e que já conta com uns anitos de ver a luz do dia. Espero que ele vos estimule o dia…
beijo
vês? chegámos de novo a Abril e os teus olhos abrem-me sempre novas madrugadas os teus seios de oferendas mil ensejos mil moradas
o teu ventre abre-se em flor e cruzas o tempo na promessa de um prazer que é quase dor ou quase sede de que abusas
e a tua pele quando me acolhe de veludo a maciez mas quase ardência nessa urgência em que eu pare e p’ra ti olhe e ao de leve te pressinta uma premência de ti um fremir quase ventura que estremece porque tanto me apetece dos teus lábios a suave comissura
a minha língua toca-a levemente e os teus lábios recebem-me e desenham-se em sorriso e afogam-me e bebem-me sem aviso e o tempo voa assim sem dor nem hora porque é feito de Abril o que em nós mora.