– não deixo de me comover com a imagem deste herói solitário, descendo a Avenida da Liberdade, em 25 de Abril de 2020…
Carlos Alberto Ferreira assim mesmo sem mais ser desce a Avenida liberto e a Liberdade é seu nome é o que tem de mais certo que assim se fez ao nascer
desce a passo compassado leva com ele o pendão que dá nome a uma nação e sobre os ombros transporta
leva o pendão em penhor de um destino maior futuro que mais importa
Carlos Alberto Ferreira desce trajado a rigor a Avenida e é senhor da verde e rubra bandeira que nas suas mãos é a flor de em Abril florescer para uma nação inteira.
Jorge Castro – 28 de Abril de 2020
(fotografia da autoria de José Sena Goulão, publicada pela Associação 25 de Abril)
Porventura pela evocação do sacrifício de (outro) cordeiro pascal, tocou-me a mensagem da minha amiga Júlia Coutinho, que me recordou, hoje, um poema de José Gomes Ferreira, que é sempre oportuno. Aqui fica a mensagem da minha amiga e o poema, para que a memória nos auxilie a criar um mundo melhor.
E hoje, que estou a reler José Gomes Ferreira, envio um poema seu de Set 1979 quando a GNR matou dois trabalhadores no Alentejo.
O poeta chorou… e eu, não sendo poeta, fiquei tão chocada que não consegui reter as lágrimas durante dias. No Portugal de Abril a guarda matava um homem de 40 e um jovem de 17 por quererem trabalhar as terras.
Abraço amigo e… Páscoa Feliz nesta fase de reinvenção dos dias.
julia
Aqui Nesta planície de sol suado Dois homens desafiaram a morte, cara a cara, em defesa do seu gado de cornos e tetas.
Aqui onde agora vejo crescer uma seara de espigas pretas
Quando os dois camponeses desceram às covas, Ante os punhos cerrados de todos nós, Chorei!
Sim, chorei, Sentindo nos olhos a voz do que há de mais profundo nas raízes dos homens e das flores a correrem-me em lágrimas na face.
Chorei pelos mortos e pelos matadores – almas de frio fundo.
Digam-me lá: Para que serviria ser poeta Se não chorasse Publicamente Diante do mundo?
José Gomes Ferreira
(Em memória de José Caravela e António Maria Casquinha, mortos em Montemor-o-Novo às mãos da GNR em Set. de 1979 por defenderem a Reforma Agrária)
Permitam-me que ocupe um cachico do vosso tempo para vos dar a conhecer como se dão as boas festas nas terras onde passei a minha nineç, o planalto mirandês. Espreitem aqui:
Buonas Fiestas Esta ye la mensaige de Buonas Fiestas de la nuossa Lhéngua Mirandesa.Por adonde steias, bibe estas fiestas cun nós i manda-mos amboras de l tou Natal para: lhéngua@gmx.comAmpeinhosGuion – Alcides MeirinhosEidiçon – Dinis MeirinhosGaiteiro – Paulo MeirinhosCoordenaçon de ls alunos – Duarte MartinsPartecipaçon special – Domingos Raposo
A cadência de homenagens, nestes meus dias que vão correndo, sendo certo que é aquilo que temos de esperar na vida, não é menos certo que nos deixam um nó na garganta, que nem sei se chore, se grite.
Patxi Andión. Ouvi-o, pela primeira vez, em 1969, no programa Zip-Zip. Passaram-se, então, 50 anos exactos, sempre a receber de alguém canções marcantes, que me acompanharam e ajudaram a viver.
Um dos poemas que eu conheço mais pungente e melancólico magistralmente acompanhado por uma interpretação a condizer e de que nunca me esquecerei…
20 años de estar juntos Esta tarde se han cumplido Para ti flores, perfumes Para mi, algunos libros No te he dicho grandes cosas Porque no me habrian salido Ya sabes cosas de viejos
Requemor de no haber sido Hace tiempo que intentamos Abonar nuestro destino Tu bajabas la persiana Yo apuraba mi ultimo vino Hoy en esta noche fría Casi como ignorando el sabor De la soledad compartida Quise hacerte una canción Para cantar despacito Como se duerme a los niños
Y ya ves, solo palabras Sobre notas me han salido Que al igual que tu y que yo Ni se importan ni se estorban Se soportan amistosas Mas no son una canción Que helada que esta casa! Sera, sera que esta cerca el rio O es que entramos en invierno Y estan llegando, estan llegando Los frios
E que bem que o transmite. E a saudade que já nos fica…
José Mário Branco (1942-2019), uma companhia e uma referência para a minha vida toda. Uma mente sempre lúcida. Um exemplo inicial, inteiro e limpo, como se diz no poema de Sophia.
Alguém que soube dar voz a um outro Portugal, com persistente coerência.
Com a devida vénia, aqui se transcreve a precisa e sentida mensagem do Professor José d’Encarnação, a propósito deste exemplo maior de Ser humano que era Carlos Carranca e com quem tive a honra e privilégio de ombrear em sessões sempre com poemas e música à mistura:
Faleceu Carlos Carranca.
Completaria 62 anos a 9 de Novembro…
A sua enorme força de viver não logrou driblar – para usar um termo que lhe era caro – as curvas da Morte. Que descanse em paz o Lutador, o Cidadão que não hesitava em comprometer-se e em bradar bem alto contra a injustiça, a incúria, a falta de espírito cívico. O Professor que entusiasmava os alunos pela Literatura, pela Poesia, pelo Canto. A voz da canção coimbrã, que muitas vezes elevou, juntamente com tantos vultos grandes da Lusa Atenas, designadamente Luiz Goes. Cascais, Coimbra, Lousã e Figueira da Foz devem-lhe muito! Todos lhe devemos muito! E guardamos serenamente a sua memória! Até sempre, Carlos! Até sempre!
Doutorado em Cultura Portuguesa pela Universidade Autónoma de Lisboa, com uma tese – publicada – sobre o Iberismo em Torga e Unamuno, Carlos Carranca exerceu, até a doença o prender, funções docentes na Escola Profissional de Teatro de Cascais e colaborou, intensamente também, com a Universidade Lusófona de Lisboa. Poeta compulsivo, dir-se-ia, escreveu muitos livros de Poesia (e digo ‘muitos’, porque ultrapassarão decerto as duas dezenas, alguns dos quais eu tive o privilégio de apresentar) e estava sempre pronto a programar mais uma sessão em prol da Cultura, onde nunca faltava, a terminar, o toque coimbrão!
Constituíram os últimos meses, em que se debateu com esse grave problema de saúde, um testemunho exemplar de como se deve encarar a doença, de como o espírito deve ser forte, positivo, de como, mesmo na dor que atormenta, se pode olhar para os outros, confortá-los, dar-lhes o ânimo que, por vezes, corria o risco de lhe faltar. A consulta da sua página no Facebook, onde quase diariamente deixava as suas reflexões é, pois, obrigatória para quantos queiram inteirar-se de como um Grande Homem é Cidadão de corpo inteiro até ao fim!