Com a devida vénia, aqui se transcreve a precisa e sentida mensagem do Professor José d’Encarnação, a propósito deste exemplo maior de Ser humano que era Carlos Carranca e com quem tive a honra e privilégio de ombrear em sessões sempre com poemas e música à mistura:
Faleceu Carlos Carranca.
Completaria 62 anos a 9 de Novembro…
A sua enorme força de viver não logrou driblar – para usar um termo que lhe era caro – as curvas da Morte. Que descanse em paz o Lutador, o Cidadão que não hesitava em comprometer-se e em bradar bem alto contra a injustiça, a incúria, a falta de espírito cívico. O Professor que entusiasmava os alunos pela Literatura, pela Poesia, pelo Canto. A voz da canção coimbrã, que muitas vezes elevou, juntamente com tantos vultos grandes da Lusa Atenas, designadamente Luiz Goes. Cascais, Coimbra, Lousã e Figueira da Foz devem-lhe muito! Todos lhe devemos muito! E guardamos serenamente a sua memória! Até sempre, Carlos! Até sempre!
Doutorado em Cultura Portuguesa pela Universidade Autónoma de Lisboa, com uma tese – publicada – sobre o Iberismo em Torga e Unamuno, Carlos Carranca exerceu, até a doença o prender, funções docentes na Escola Profissional de Teatro de Cascais e colaborou, intensamente também, com a Universidade Lusófona de Lisboa. Poeta compulsivo, dir-se-ia, escreveu muitos livros de Poesia (e digo ‘muitos’, porque ultrapassarão decerto as duas dezenas, alguns dos quais eu tive o privilégio de apresentar) e estava sempre pronto a programar mais uma sessão em prol da Cultura, onde nunca faltava, a terminar, o toque coimbrão!
Constituíram os últimos meses, em que se debateu com esse grave problema de saúde, um testemunho exemplar de como se deve encarar a doença, de como o espírito deve ser forte, positivo, de como, mesmo na dor que atormenta, se pode olhar para os outros, confortá-los, dar-lhes o ânimo que, por vezes, corria o risco de lhe faltar. A consulta da sua página no Facebook, onde quase diariamente deixava as suas reflexões é, pois, obrigatória para quantos queiram inteirar-se de como um Grande Homem é Cidadão de corpo inteiro até ao fim!
José d’Encarnação