Porventura pela evocação do sacrifício de (outro) cordeiro pascal, tocou-me a mensagem da minha amiga Júlia Coutinho, que me recordou, hoje, um poema de José Gomes Ferreira, que é sempre oportuno. Aqui fica a mensagem da minha amiga e o poema, para que a memória nos auxilie a criar um mundo melhor.
E hoje, que estou a reler José Gomes Ferreira, envio um poema seu de Set 1979 quando a GNR matou dois trabalhadores no Alentejo.
O poeta chorou… e eu, não sendo poeta, fiquei tão chocada que não consegui reter as lágrimas durante dias. No Portugal de Abril a guarda matava um homem de 40 e um jovem de 17 por quererem trabalhar as terras.
Abraço amigo e… Páscoa Feliz nesta fase de reinvenção dos dias.
julia
Aqui
Nesta planície de sol suado
Dois homens desafiaram a morte, cara a cara,
em defesa do seu gado
de cornos e tetas.
Aqui onde
agora vejo crescer uma seara
de espigas pretas
Quando os dois camponeses desceram às covas,
Ante os punhos cerrados de todos nós,
Chorei!
Sim, chorei,
Sentindo nos olhos a voz
do que há de mais profundo
nas raízes dos homens e das flores
a correrem-me em lágrimas na face.
Chorei pelos mortos e pelos matadores
– almas de frio fundo.
Digam-me lá:
Para que serviria ser poeta
Se não chorasse
Publicamente
Diante do mundo?
José Gomes Ferreira
(Em memória de José Caravela e António Maria Casquinha, mortos em Montemor-o-Novo às mãos da GNR em Set. de 1979 por defenderem a Reforma Agrária)
A defesa da Reforma Agrária tem uma memória que centenária
e são muitos os que choram os seus mortos.
Também hoje escrevi sobre lágrimas, embora sem a forma de poema
https://centenariopcp.blogspot.com/2020/04/reforma-agraria-uma-luta-centenaria-que.html