e não vir um raio que parta esta corja mandante…
já que nós não a partimos!

Não tenho vergonha de ser Português. Sou-o e pronto! Assumo-o e e tento fazer da minha vida um modo de nela estar portuguesmente.
Aqui e ali sinto dificuldades para definir o conceito mas, curiosamente, dou por mim a pensar sempre em português, a respirar este ar que me rodeia e a ver sempre a vida com a luz que ilumina primorosamente este pequeno rectângulo do mundo.
Considero-me, portanto, um caso irremediável de portugalidade. Hasteio-a como bandeira e orgulho-me disso de uma forma que raia o inconsciente.
Mas estou para aqui cheio de raiva por ser Português, ah, isso estou! E com uma imperiosa e incontinente vontade de atirar pela janela mais alta que houver a récua de mandantes que tem assolado este nosso País.
O estado de calamidade pública a que os sucessivos governos do «centrão» nos conduziram com a destruição deliberada e sistemática do tecido produtivo nacional atingiu um novo cume de sem-vergonha ontem, com o anúncio de novo e despudorado assalto à mão armada levado a cabo pela seita no poder para uma outra vez encher os bolsos aos seus patrões, essa entidade freérica que detém o grande capital no mundo.
Há cem anos implantou-se a República. É mais do que tempo de todos e cada um nos republicarmos, cidadãos!

pouca vergonha ou sem-vergonha absoluta

OCDE, Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico, é ou não é?

Um senhor mexicano e secretário geral da OCDE, José Ángel Gurría Treviño, decidiu vir a Portugal cumprir um frete: da desgraça, dizer-nos o que já estamos fartos de saber; das soluções preconizadas, o que José Sócrates tem andado a dizer – com os notáveis efeitos visíveis na sociedade portuguesa – há uma data de tempo.

Em terra de tanto guru economista, mais um ou menos um nem seria coisa demais, pois o território é pequeno mas muito acolhedor. No entanto, este, porventura alcandorado na arrogância de se presumir  sustentado por uma organização de tal gabarito como a OCDE – que é e faz o quê? – , achou por bem, ainda, tecer considerações quanto às atitudes comportamentais e relacionais que os diversos partidos portugueses devem manter entre si.

Em bom português, isto chama-se, liminarmente, ingerência nos assuntos internos de um país e alguém devia providenciar em meter o senhor na ordem, no mínimo com queixa sumária e pública à tal OCDE, pela indecorosa intromissão. Ah, e a OCDE é o quê e faz o quê…?

Se não fosse a hipócrita mania de alguns portugas de se armarem em moralistas no que ao livre linguajar se refere (veja-se o recente caso dos dicionários com palavrões – que horror!), e eu estaria capaz de recomendar a esta sumidade, como a minha avozinha transmontana faria, que metesse a língua no cu e fosse à vida dele, deixando-nos tratar da nossa, com a independência que um País com tanta História deveria ter, mas não pratica…

Não há paciência! 

fotografando o dia (158)

o que é
nem sempre parece que o é
até um cacho de rolhas
quanto mais para ele olhas
cada vez mais é
o que não é
Cacho de Rolhas – ocupação sobre painel de cortiça, de Jorge Castro

Regina Guimarães pela mão e pela voz de Elisabete Piecho
nas Noites com Poemas

Mais uma sessão supimpa decorreu, reiniciando, pelo sexto ano consecutivo, as Noites com Poemas e cumprindo a sua 56ª sessão. 
Uma outra vez, também, uma sala plena de pessoas que consideram que vale a pena manter e cultivar essa arte do encontro com os seus concidadãos, numa demanda descontraída de convergências em torno de interesses que se adivinham comuns.

Descontraída, ainda que não desinteressada. E não é fácil, nem denominador comum, na sociedade presente, ainda para mais quando a motivação é essa coisa etérea a que chamamos poesia e a paga a não menos etéria cultura dos afectos.        
Certo é que Elisabete Piecho «desmembrou» a poesia de Regina Guimarães – que lhe autorizara devidamente tal «afronta» -, recortando em múltiplos pedacinhos de papel as suas palavras com sentido, extraídos de dois livros da autora, e propondo aos circunstantes que reconstruíssem cada poema a seu bel-prazer, em pequenos grupos de circunstância, ali criados, em novos e diversos enlaces que o trabalho de cada grupo sugerisse.  
Foi esta, então, uma sessão de muito fácil seguimento, permitindo até pausas descontraídas, enquanto na sala o ruído produtivo das mentes, desenvolvendo a nova arquitectura de cada poema se fazia sentir… 
Depois, tratou-se tão só de dar corpo e voz a cada «novo» poema…
… logo mais confrontado pelo poema original pela mão e voz de Elisabete Piecho, invariavelmente com a surpresa de que os tais novos enlaces criam lógicas próximas mas nunca coincidentes e as palavras originais parecem desdobrar-se em multiplicidades de sentidos que, afinal, já nelas residiam semi-escondidos. 
Como sempre, o segundo tempo de cada sessão promove a ronda por todos quantos tragam algo para nos dizer…
E é claramente com o maior agrado que todos nos apercebemos de que o tempo, além de correr depressa, nos parece cada vez mais curto e outro tanto, além do dito, nos ficou por dizer
A autarquia e a Direcção da Biblioteca Municipal de Cascais certifica, pelo punho da senhora vereadora da Cultura, Dra. Ana Clara Justino, o reconhecimento pela acção meritória de cada convidado, o que será simples gesto mas prova bastante da solidariedade que se procura, entre munícipes e município, nos caminhos que as boas vontades, de parte a parte, não apenas constroem, mas transformam também em percurso facilitado.   

noites com poemas
a poesia de Regina Guimarães, com Elisabete Piecho

Teremos, como convidada, Elisabete Piecho, actriz de teatro e amiga, que nos trará a poesia de Regina Guimarães, de quem os interessados que ainda não a conheçam poderão colher informação em http://web.letras.up.pt/primeiraprova/regina.htm.

Elisabete Piecho propõe-nos uma abordagem curiosa – e participativa – à poesia desta autora… E mais não digo, que uma pitada de curiosidade também condimenta os afectos.

INFORMAÇÃO ADICIONAL
sobre as Noites com Poemas
na Biblioteca Municipal de Cascais – São Domingos de Rana
(sempre na terceira 6ª feira de cada mês, com início às 21h30)

O núcleo central das pessoas que integram esta nossa actividade – que vai entrar no seu sexto ano e na sua 56ª sessão, sem paranças – alargou-se, num processo lógico e natural destas nossas passadas pela vida, onde os poemas também se revelam e servem para criar e/ou reforçar laços de afectos e amizades ou, no mínimo, promovendo essa arte do encontro, que anda algo maltratada nos caminhos que trilhamos:

Carlos Peres Feio
David José Silva
Estefânia Estevens
Francisco José Lampreia
João Baptista Coelho
Lídia Castro
Lourdes Calmeiro
Maria Francília Pinheiro
São estes os nomes dos companheiros que constituem, pela sua constância participativa, o eixo desta «associação sem estatutos» onde, tentando contrariar velhos dados pretensamente adquiridos, temos sabido fazer funcionar a máquina a dois tempos, onde, pelo primeiro, passa a oportunidade de apresentar obra feita e, pelo segundo, a fruição da obra alheia, em forma de poema. E certo é que a maquineta tem funcionado, sem sobressaltos de maior, e sempre em frente.     
  
De cada um de vós, poetas, curiosos, amigos, se espera que venha, se puder e quiser, e até que nos traga um poema… e outro amigo, também. Temos sempre espaço para quem vier por bem.