começando bem o ano…

… pelo Alentejo, onde o nosso olhar se perde sempre em cada momento em que se encontra. Aqui foi Montemor-o-Novo e o seu castelo, em pôr-do-sol captado sem artifícios tecnológicos, a transportar-nos para outro tempo – dir-se-ia intemporal – em que somos invadidos por tantas coisas indizíveis que redescobrimos, de novo e sempre, o quanto a vida vale a pena.

Bastará pararmos um pouco a olhar para ela, invadidos pela imensidão de um pôr-do-sol. 

postais de férias (4)

Ericeira, em demanda de uma incursão aos frutos do mar, que por ali são de boa frescura. 
Logo à chegada, uma boa recomendação, com vista para o mar:
Depois, um percurso pelo dédalo de ruínhas onde há muito para cuscuvilhar…

E, por falar nisso, há sempre uma invenção do amor a subverter os ditames de tempos obscuros:

Os veraneantes, pluralmente uniformes, colhem os benefícios do sol, ainda sem carga fiscal associada:  

Num outro recanto uma versão expositiva, talvez menos romântica, mas, ainda assim, evocativa:
«- São alhos, meu senhor…», que nem é usual ter rosas brancas à venda na região saloia.  

Depois, Mafra… já sem reis, mas também sem carrilhões… mas com feira, onde o pão, afinal, ostenta tantos buracos interiores como qualquer pão citadino sem tantos pergaminhos. O meu reino por um pão sem buracos, onde se possa fazer uma torrada com manteiga, sem ficarmos todos besuntados de escorrências…

– fotografias de Jorge Castro

postais de férias (3)

Carcavelos é a minha praia. Não no sentido figurado em que a expressão tem vindo a ser utilizada, mas no sentido literal. Dois ou três quilómetros de distância é quanto preciso de percorrer para desfrutar do melhor areal do concelho de Cascais, pelo que não posso deixar de me sentir um privilegiado. 
E quando me esqueço de tal, lá vem o IMI a lembrar-mo. Não que as demais infraestruturas sejam de espavento. Na verdade há mais e melhor por esse país fora. Também não tenho graaaandes razões de queixa… mas o que é verdade é que esta magnífica proximidade ao mar nos traz outras ânsias de navegar.
Como é evidente, não sou eu o único a ter essa opinião e por isso, desde inícios de Julho até meados de Agosto é ver a imensidão de «romagens» de autocarros carregados de criancinhas vestidas ora de amarelo, ora de verde, ora de vermelho, etc., enxameando a praia, sob o olhar tutelar de meia-dúzia de jovens, e provenientes de tudo quanto é localidade da Grande Lisboa. 
Não sei se a autarquia colhe algum benefício com o imenso negócio instalado, mas o certo é que eu , munícipe pagador de IMI de zona privilegiada, passei a ter a minha qualidade de vida balnear algo perturbada por esta circunstância.  
Enfim, malhas que o império tece, direi, tal como entretece na praia, pelo menos desde Janeiro do corrente ano, incontável maquinaria pesada, os seus rodados na areia.
Deve ser para meu bem, claro, que eu, nestas coisas, acredito sempre que há-de haver alguém, algures, a zelar pelos meus interesses, mesmo que eu não saiba quais eles sejam. Mas a verdade é que mais me parece que algum estaleiro de construção civil enviou para ali os seus aprendizes de condução de escavadoras, bulldozers e outros machimbombos, para melhoria de práticas, acartar toneladas de areia de um lado para o outro, sem objectivo aparente, todos os dias de todo o ano.
Ele é um afã, uma correria, um labor de abelha-formiga, de um lado para o outro, sem que eu, do alto da minha ignominosa ignorância, consiga perceber qual o objectivo da coisa, para além do dispêndio óbvio de rios de dinheiro… que devem ser públicos, digo eu. 
Cuidei que fosse apenas durante o inverno e primavera, para preparar a bela praia para o verão e para os veraneantes. Mas não. Continua verão fora e já estamos em meados de Setembro, numa arquitectura na areia que é coisa de pasmar.
Mas é uma chatice, porque esmagam as conchinhas todas que a maré-cheia nos traz e com que tantos de nós se entretêm, nas suas passeatas areal fora, a colher. Talvez compensar com outra máquina, atrás, a atirar conchinhas inteiras para o areal. Aqui fica, à consideração superior… 
Entretanto, o mar que é, seguramente, uma força de bloqueio, todos os dias subverte estes arranjos desarranjados no areal. É uma impertinência! E, então, quando chegam as marés vivas, nem vos conto! O que vale é que lá estão as máquinas, no dia seguinte, a providenciar novo restauro.
Eu julgava que – tirando as estultícias da construção civil à balda – as praias tinham uma «respiração» própria, umas vezes com mais areia e outras menos. Mas, pelos vistos, não, há que redistribuir o jogo em cada dia que passa, e dir-se-ia neste caso, com toda a propriedade, contra ventos e marés… 

Também deixei de perceber a política de colocação dos caixotes do lixo para educação e benefício dos utentes e que estão sempre a várias centenas de metros dos locais onde apanham sol esses mesmos utentes, no areal escaldante (ver as setas a vermelho, na imagem acima – eh, pá, nem te vejo…), quando eles e eu precisamos de vazar o entulho particular. E nem sequer estão próximos dos locais de acesso à praia, pelo que devem inserir-se numa campanha apoiada pelas tais entidades superiores no sentido de promoverem o exercício físico junto da população – o que, a ser assim, acho pois muito bem.
A mim, então, que me incomoda sobremaneira o mínimo vidro partido, qualquer que seja o areal, e que recolho afanosamente, a bem do meu pé desprotegido e do do camarada concidadão incauto, vejo-me aflito para despejar todos os fragmentos que encontro – vá lá saber-se se não porfiadamente esmagados pela maquinaria pesada que se referiu – e desgasto-me num corre-corre aos sacos de lixo, o que me deixa esfalfado e de pés a arder. Podia guardá-los no bolso do fato de banho… mas sempre seria um risco acrescido.
O que vale é que descobri que também passam levas sucessivas de jovens, com redes e luvas e tudo e, até, funcionários da câmara, sistematicamente ao longo da praia, a apanhar o lixo que os utentes e o mar nos vão trazendo.  
Agora já sei: quando apanho um daqueles vidrinhos, em vez de me esfalfar e escaldar até aos caixotes do lixo, colecciono-os na minha toalha e entrego a recolecção aos limpadores da praia, quando algum passa por mim, o que acontece amiúde, e muito mais próximo do que os caixotes do lixo. Isto, sim, é um trabalho limpo e até ajudo os moços a apresentarem serviço…  
Enfim, para que não se diga que estou só no bota-abaixo, aqui fica uma sugestão colhida junto do senhor dom infante Henrique: e que tal dedicarmo-nos todos à pesca? Realmente, ali sempre a olhar para o rio…
– fotografias de Jorge Castro

postais de férias (2)

De Joaquim Magalhães de Castro e com edição da Parsifal (Junho de 2014), 
Os Filhos Esquecidos do Império
um livro que nos transporta até aos confins longínquos da Birmânia, por onde os portugueses, navegantes, aventureiros, soldados da fortuna andaram e onde deixaram rasto identitário que permanece até hoje, ainda que cada vez mais desgastado pelo nosso total abandono e desinteresse, sequer sem um gesto, durante séculos a fio, que reforçasse ou restabelecesse  os ténues laços culturais que esses filhos esquecidos do império teimam em preservar. Aqui, sim, podemos dizer, contra tudo e contra todos. 
Recomendo a leitura, quanto mais não seja para ilustração de uma realidade que ignoramos. Muitos de nós. Quase todos, a começar por quem se alcandorou ao governo deste país tão perdulário em termos de cultura.
Na herança genética, no vocabulário e na religião, pequenos resquícios de Portugal ainda ali permanecem, ainda que esses descendentes nem sequer saibam o que ou quem é Portugal.
Depois, um salto até à Fundação EDP, aproveitando sempre o passeio à beira-Tejo, para ver a exposição de Alexandre Farto (aka Vhils) – com entrada livre, já agora -,  autor de obra já espalhada pelos quatro cantos do mundo ou pelas sete partidas do mar, como quiserem, e um pouco como antítese do postal anterior. Muito digna de ser vista!

Aproveitando a estada, uma visita aos demais recantos deste Museu, com muito para ver e aprender, sublinhando o cuidado e qualidade patentes em todos os elementos expostos. 

Assim é, nem sempre o tom será de bota-abaixo. O que deve ser dito, diz-se. E assinala-se. 
E, enquanto passeamos à beira rio-mar, coalhado de turistas e canas de pesca em busca de melhores dias, tropeçarmos com aquilo em que sempre nos mantemos pródigos: o desmazelo. Ali, mesmo em frente da casinha do mais alto representante da nação, este estado de coisas: 

A lápide assim reza: «A Administração do Porto de Lisboa investiu no arranjo desta zona ribeirinha para lhe proporcionar um espaço de identificação com o incomparável estuário do Tejo, berço de relevantes feitos da História de Portugal – Dia do Porto de Lisbboa, 31-X-1991».
A calçada destruída, as pedrinhas amontoadas a esmo, o lixo e a incontornável evidência de que somos exímios a tratar-nos mal, sem precisar de contar com os outros…
– fotografias de Jorge Castro  

postais de férias (1)

Finalmente, as férias, com início oficial a 30 de Agosto!
Primeiro, uma visita ao Borboletário de Rana, logo aqui ao virar da esquina, e que ainda não tivera oportunidade de visitar… 
Fico com a sensação de que se trata de um interessante espaço didáctico, com ar de dispor de muito poucos recursos. Ele há muitos «concertos» no concelho de Cascais, que não deixam margem de «manobra» para estes outros desconcertos, dir-se-ia… 
Depois, cumprindo alegremente compromissos, uma visita à Fábrica das Cores, um muito interessante e curioso espaço onde uma mão-cheia de gente com iniciativa luta em busca de saídas mais airosas que o cinzento dos dias. Os meus votos de bom sucesso ao projecto.
Por lá partilhei, com a companhia da Fernanda Frazão, os meus Contos Conversos, num agradável e muitíssimo bem apaladado serão.

Domingo, rumei a Setúbal, onde fiz as honras a umas ameijoas e a um choco frito que antecederam uma caldeira de peixe – sim, sim, culminando com  o respectivo caldo.. – no restaurante da nossa amiga Gilda ( o Ti Prudência, assim mesmo, com publicidade e tudo!), e que  nos deixaram completamente redimidos com o mundo (pelo menos durante aqueles momentos de felicidade, que já sabemos serem sempre momentâneos e ocasionais).
Isto apesar dos inúmeros prédios daquela Avenida Todi a reclamarem, em altos gritos, uma intervenção urgente, para a qual, também lá, nem haverá verbas, nem ideias de futuro… 
Neste país de tantas portas fechadas (até as inventadas)…. 

… valham-nos os poetas para ainda proporcionarem alguma cor à vida, mesmo se o seu ar sugere alguma melancolia.

Mas o nosso destino era, também, visitar a rua que foi recheada de composições desvairadas e marítimas… em crochet.  É assim, somos pródigos em originalidades.

Claro que todas as lojas estavam encerradas. Era domingo. Dia de santos e de anjinhos, digo eu. Ainda para mais, Agosto, com a malta toda a encher-se de sal e de sol pelas praias fora. 

A mostra, entretanto, até estava com graça. Mas fica-me a dúvida se não seria muito mais inteligente – e mesmo que fosse a título excepcional – ter o comércio aberto, para aproveitar do acréscimo de circulantes. Assim, todos iam olhando para o ar, pois mais rente ao chão só havia portas fechadas.

Mas, volto a dizer, pareceu-me uma boa ideia – pelo menos, aos domingos desperdiçada – e digna de uma visita de lazer, com passagem pelos vários espaços culturais de que a baixa de Setúbal dispõe.

Pelo caminho e ao longo da caminhada descobrir grafitagens que, entre outras coisas, me proporcionaram uma prazenteira digestão!

 – fotografias de Jorge Castro