Abril, sempre!… E num dia como o de hoje.

No dia 21 de Abril, umas largas centenas de pessoas juntaram-se no Mercado da Ribeira, em Lisboa, para celebrar o dia 25 de Abril de 1974.

A 32 anos de distância, neste país de curtas memórias e escassas militâncias, não deixa de ser um sinal positivo de vitalidade da nossa memória colectiva.

Fui convidado para dizer alguns poemas. Dediquei este a Salgueiro Maia (que não pôde, a contragosto, estar presente), a Vasco Lourenço (que, além de presente, se mostrou pronto para responder à chamada) e ao Thomas, uma criança que, sentada à nossa mesa, nos brindou – ele e os seus amigos – com o cravo acima, originalmente composto por barcos de papel encaixados uns nos outros…

Era um dia como o de hoje
era um dia como o de hoje
e tu vieste

era um dia igual a tantos
mas sentiste
chegar a ti alguma voz muda de mágoa
era um dia sem encantos
que acordaste
onde foste no deserto esse mar de água

era um dia como o de hoje
e tu vieste
e os prantos de mil sons emudeceram
era um dia do combate
que quiseste
e logo então mais de mil flores desabrocharam

e assim se fez o dia em que nascemos
e assim se faz no dia a caminhada
e eu sinto ao longe o grito de um poema
contra os medos de tormenta ou vento agreste
ao sentir-te junto a mim nesta jornada

e o dia renasceu

porque apenas
era um dia como o de hoje
e tu vieste.

– foto e poema de Jorge Castro

Em primeiríssima mão, porque há Abril…

… estes três senhores fizeram-me saber, hoje mesmo, no Museu República e Resistência, do lançamento de um livro-cd – que sairá no dia 1 de Maio, com o jornal O Público (vá de anotar e passe a publicidade…) – que se chama “Abril, Abrilzinho“.


José Jorge Letria, Manuel Freire e Vitorino lançaram-se numa parceria a três para cantar aos mais novos que houve, uma vez, Abril e que ainda há… à mistura da grande necessidade de gritarmos aos quatro ventos que andam para aí uns gajos a dar cabo dele e nós, distraídos, a deixarmos!
Partilhem-no com os “vossos” mais novos. E deixem os vossos olhos marejarem-se de risos e de lágrimas que, para além do olhar, também para isso eles foram feitos.
(Quem quiser, pode sempre assistir a uma segunda apresentação, que terá lugar na Associação 25 de Abril, na próxima 4ª feira, dia 19, pelas 18h30).
Também a propósito de Abril, 4ª feira, dia 19, na Biblioteca Municipal de São Domingos de Rana, pelas 22h, haverá mais uma sessão
de “NOITES COM POEMAS”, desta vez dedicada a António Gedeão:
“Gedeão – o moinho e o gigante”.
Se estiveres por perto e disponível, lá te espero…

Ainda e sempre por Abril, haverá tempo para efectuar a inscrição no jantar do próximo dia 21, no Mercado da Ribeira. Programa (sumário):

JANTAR-CONVIVIO

21 de Abril(6ªfeira), pelas 20.00 horas
Restaurante do Espaço Ribeira (Mercado da Ribeira/1º andar)
Custo: 17.00€ (crianças até aos 7 anos não pagam)
Intervenções: “Capitão de Abril”, Rui Tavares (historiador),

Helena Roseta (arquitecta), Mário de Carvalho (escritor)
Animação: Poesia (pelo juiz Jorge Lino)… e outros

Pela Dignidade do Ensino

Razões para petições são mais que muitas.
Os resultados das mesmas… logo se vê.
Entretanto, apoia-se uma boa causa, sem dor nem anestesia e sem grande esforço.
Trata-se apenas de um acto cívico, se a consciência individual o apoiar.
Pela Dignidade do Ensino

Lamentou Stravinsky que as pessoas não fossem
ensinadas a amar a Música, mas apenas a respeitá-la. 
Podemos acolher a
ideia e transpô-la para o ensino da língua portuguesa, relevando como é natural
a Literatura, e concluir que a Pátria de todos nós não é amada, nem minimamente
respeitada, mas antes parodiada. Não sabemos se devemos rir ou chorar perante
situações como a de apresentar Frei Luís de Sousa de Almeida Garrett sob o título
Até ao meu regresso…; transformar um soneto de Luís de Camões numa noticia de
jornal, um texto de Fernando Pessoa num requerimento, um auto de Gil Vicente
numa carta de reclamação, ou ainda envolver a poesia de Cesário Verde, o poeta
de Lisboa e Mestre de Fernando Pessoa e heterónimos, com editoriais, textos publicitários
e outros. 
Temos assistido а
sedimentação do culto do facilitismo, da permissividade e da ignorância. Entretanto,
valores como a delicadeza, a curiosidade, o espírito de rigor, a exigência, o esforço
ou o brio continuam a ser riscados do quotidiano escolar, com o aval de muitos
que integram o Ministério da Educação. Testemunhámos esse comportamento nas últimas
provas de avaliação do 9є ano, em que se substituiu Os Lusíadas de Luís de Camões
por pontos de um Tratado da União Europeia, se interpretou Alves Redol e Luísa
Costa Gomes com respostas de escolha múltipla e de verdadeiro/falso, se
aprisionou a escrita dos alunos, com a imposição obsessiva de um número
estipulado de palavras, sujeito o seu incumprimento a uma penalização.
Lamentavelmente, situação idêntica se prevê para os próximos exames do 12є ano
do Ensino Secundário, de acordo com informações recentemente chegadas аs
Escolas. 
Sabemos que, em boa
parte, este й o resultado da aplicação dos novos programas, no caso especifico
de Língua Portuguesa, aos Ensinos Básico e Secundário. 
Porque ao Ministério
da Educação se exige responsabilidade no seu directo envolvimento com o Ensino,
vêm os signatários pedir а Senhora Ministra da Educação que intervenha no
sentido de pôr cobro a esta situação, a qual não dignifica a Escola, enquanto
lugar de continuidade de um património herdado, de aquisição permanente de
novos saberes e de criatividade inovadora.

crónica do dia – num hospital perto de si…

Alguém, por uma destas manhãs, sentiu súbita quebra de tensão, desmaio, vertigem, indisposição aguda geral…
  1. Pediu auxílio e, acompanhado por familiar, dirigiu-se ao Centro de Saúde da área de residência. Aí, por ausência (corrente) de três elementos do corpo clínico, não havia qualquer capacidade de resposta para situações de emergência médica e o paciente foi encaminhado, pelo pessoal do Centro…
  2. … para o Catus (cerca das 11 da manhã), sendo que veio a confirmar apenas poder aí ser atendido a partir das 16h30, por ser esse o horário do estabelecimento. Como o quadro de indisposição tendia a agravar-se, sem compaixão pela lenta marcha dos ponteiros do relógio, o paciente foi levado pelo seu acompanhante para a urgência do…
  3. … Hospital X – chamemos-lhe assim. Aí foi de imediato prescrito e ministrado determinado medicamento… ao qual o paciente é profundamente alérgico. Ninguém lhe tinha perguntado nada, nem dadas especiais informações acerca do que estava a acontecer.
  4. Socorrido em aflições de “ai-jesus”, foi, entretanto, com assinalável zelo burocrático, descoberto que a área de residência do paciente não se “coadunava” com aquele Hospital X, sendo, de imediato, transferido – em ambulância -, após estabilização do quadro clínico, está bom de ver…
  5. … para o Hospital Y – chamemos-lhe assim. Entretanto, o acompanhante – já com um dia de trabalho perdido – foi tranquilizado quanto à evolução do sobressalto, aconselhado a ir para casa e a deslocar-se, no dia seguinte, ao Hospital Y, para acompanhamento da situação (como é apanágio de acompanhante que se preza…)
  6. Este acompanhante tem a grata surpresa de receber um telefonema do Hospital Y, À UMA HORA DA MANHÃ, já de pijama e a meio do primeiro sono, onde uma voz impessoal o informa que deve deslocar-se de imediato ao Hospital Y, pois o seu familiar acabara de ter alta.
  7. Aí encontra o seu familiar, já recomposto da indisposição (benza-o Deus!), semi-nu, trajando uma vaga bata peregrina e a tiritar como as varas verdes da metáfora, sentado numa cadeirinha num corredor inóspito do Hospital Y, à espera de alguém que o levasse para casa.
Moral da história: Em caso de aflição, chamem uma ambulância e deixem-se de esquisitices. Muito preferencialmente, evitem adoecer.
Comentário: esta historinha – que, como podem imaginar, não me foi contada… – documenta tristemente o estado deplorável da Saúde, em Portugal, e de como, ainda assim, nela se gastam rios improfíquos de dinheiro, em imenso desrespeito pela dignidade do indivíduo. Caso pontual, dir-me-ão? A realíssima P que os P – chamemos-lhe assim…
ENTRETANTO, PORQUE HÀ MAIS VIDA PARA ALÉM DO BALHAMEDEUS,
AQUI FICA UM CONVITE:
na Biblioteca de São Domingos de Rana, a 15 de Fevereiro, mais uma
Noite Com Poemas:
Namoro – A Carne Vale

“escola” preservativa – reflexão pós-moderna

Eu, às vezes, fico para aqui que mal me tenho… Primeiro o Português nem era muito preciso; agora, o preservativo é elemento cultural determinante.

Pois preservativos serão distribuídos nas escolas, desde que os pais dos jovens estejam de acordo.

Ora e porque não?… Só não entendo como se pode ser tão pouco ambicioso, senhora Ministra.

Eu cá, se mandasse, estendia essa cena do “sexo seguro” a áreas muito mais criativas e abrangentes. O preservativo é demasiado limitativo.

Sei lá… estou a lembrar-me de vibradores e bonecas de encher, por exemplo. Há lá sexo mais seguro do que esse?!… E aproveitava-se logo para fazer avanços no choque tecnológico…

Entretanto, questiono-me: – E para que cabazes de ananases servirão os progenitores excelentíssimos destes rebentos tão carentes de sexo e, ainda para mais, seguro?

A “escola” é que deve ensinar as crianças a comer. A “escola” é que deve ensinar as crianças a comportarem-se em público. A “escola” é que deve ensinar as crianças que os macacos retirados do nariz nem são para degustar, nem são autocolantes de promoção ao jardim zoológico…

Agora, a “escola” vai industriar as crianças sobre sexo seguro, pela mão da senhora Ministra.

Eu acho bem! Porque os pais, na verdade e pelo que se vê nas ruas – pelo menos, uma larga maioria deles – não servem mesmo para nada.

Para rentabilizar o ensino, eu advogo até que as “escolas” deviam era abrir as portas a putativos pais que na “escola” dariam a reverendíssima e institucionalíssima queca, deixando logo uma declaração de alienação total do presuntivo pimpolho à instituição, mal ele nascesse… e iam à vida deles, que o mercado do trabalho não está para graças, caraças!

No fim disto tudo e já agora que aqui estamos: afinal a “escola” serve para ensinar o quê?