No dia 21 de Abril, umas largas centenas de pessoas juntaram-se no Mercado da Ribeira, em Lisboa, para celebrar o dia 25 de Abril de 1974.
A 32 anos de distância, neste país de curtas memórias e escassas militâncias, não deixa de ser um sinal positivo de vitalidade da nossa memória colectiva.
Fui convidado para dizer alguns poemas. Dediquei este a Salgueiro Maia (que não pôde, a contragosto, estar presente), a Vasco Lourenço (que, além de presente, se mostrou pronto para responder à chamada) e ao Thomas, uma criança que, sentada à nossa mesa, nos brindou – ele e os seus amigos – com o cravo acima, originalmente composto por barcos de papel encaixados uns nos outros…
Era um dia como o de hoje
era um dia como o de hoje
e tu vieste
era um dia igual a tantos
mas sentiste
chegar a ti alguma voz muda de mágoa
era um dia sem encantos
que acordaste
onde foste no deserto esse mar de água
era um dia como o de hoje
e tu vieste
e os prantos de mil sons emudeceram
era um dia do combate
que quiseste
e logo então mais de mil flores desabrocharam
e assim se fez o dia em que nascemos
e assim se faz no dia a caminhada
e eu sinto ao longe o grito de um poema
contra os medos de tormenta ou vento agreste
ao sentir-te junto a mim nesta jornada
e o dia renasceu
só
porque apenas
era um dia como o de hoje
e tu vieste.