Sendo este um  espaço de marés, a inconstância delas reflectirá a intranquilidade do mundo.
Ficar-nos-á este imperativo de respirar o ar em grandes golfadas.

a Maria Barroso – Liberdade

(Com os meus agradecimentos à queridíssima SGA)

Nos anos 60, aí por 66, durante uma reunião de estudantes do Santa Maria, a pide prendeu Maria Barroso e proibiu-a de falar. Não podendo falar, enquanto a levavam, ela gritou este poema:

Liberdade
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim, só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.

Armindo Rodrigues, in Voz Arremessada ao Caminho, 1943

da Grécia a Portugal sobra-nos mar

– Já cá se sabe que um poema não muda nada, é como respirar, que pouco muda. No entanto, por isso vivemos e somos. E dos nossos «governantes» nem direi que envergonham, pois estaria a gerir expectativas que nem tenho. Antes mesmo de saber, então, qual o resultado do próximo referendo na Grécia, aqui deixo o meu voto: 

da Grécia a Portugal sobra-nos mar
entre extremos de uma Europa perturbada
e se Homero fez divino o ser humano
já Camões diz da pátria sua amada

esse mar que nos une e acrescenta
que é helénico e também é lusitano
e que pode ser de glória a mais violenta
um abraço que é de Sol – um tudo ou nada

já o Zeus do Olimpo brande o raio
Endovélico – ar e fogo – vem à liça
que um povo não se fez p’ra ser lacaio
de quem vive da usura e da injustiça

mesmo quando em seu seio a vil traição
mascarada e vil e vil e mascarada
nos disser que há mais ventos de feição
que nos honre a nossa voz – gume de espada –

decepando as mentiras mais hediondas
chegará de Pérgamo a tempestade
ou de Sagres no ribombo de altas ondas
o mar alto onde vive a liberdade.

– Jorge Castro
02 de Julho de 2015

convite
dia 27 de Junho, na Biblioteca Municipal da Figueira da Foz

Fui convidado pela Biblioteca Municipal da Figueira da Foz e pela sua Comunidade de Leitores para integrar esta sessão que terá lugar já no próximo sábado, pelas 21h30, nessa Biblioteca. 
Muito gostaria de poder contar com a vossa presença. Afinal, não são muitas as minhas oportunidades de subir tão alto no mapa de Portugal…
Se puderem ou estiverem para aí virados, apareçam, trazendo outros amigos, também. O abraço, pelo menos, é garantido.

sugestões/convites

Amizades,
Duas sugestões/convites em que participarei, por gosto e afectos, e que aqui vos deixo, sempre a contar com a vossa presença, necessária, imperiosa e urgente:
A primeira – No dia 19 de Junho, pelas 17h30, na Associação 25 de Abril, em Lisboa, terá lugar a apresentação do livro do Manuel Veiga, Notícias de Babilónia e Outras Metáforas, com edição da Modocromia
O nosso anfitrião será o coronel Nuno dos Santos Silva e o autor e eu faremos a apresentação da obra, constituída por um conjunto desassombrado de textos sobre o nosso quotidiano político nacional, onde pontuam a ironia e a mordacidade… e o que mais poderão apurar, adquirindo a obra, como convém.
Daremos, ainda, um pequeno passeio pelo seu outro livro, este de poesia, Poemas Cativos, da Poética Edições. 
Walter Lopes e, depois, Mário Piçarra acompanhado por Heloisa Monteiro ajudarão musicalmente às honras da casa.
A segunda – No dia 20 de Junho, pelas 20h30, na Feira do Livro de Mora, que terá lugar na Praça Conselheiro Fernando de Sousa, em Mora, claro, faremos, eu e a autora, Ana T. Freitas, companheira de muitas andanças poéticas, a apresentação do seu mais recente livro de poemas, Cintilações, com edição da Apenas Livros
Também aqui contaremos com o belíssimo desempenho de Walter Lopes, em guitarra clássica, para nos envolver musicalmente as palavras ditas ou os tempos sem palavras. 
Enfim, como ocorre com a frequência possível e a determinação imperativa, pela poesia é que vamos. E, como sabem, tudo isto sem a vossa presença não tem muita graça, convenhamos…

tenho pouco além do sonho para dizer

tenho pouco além do sonho para dizer
ou da palavra inventada qual couraça
e no entanto faço sempre por trazer
a palavra ao pelourinho da praça

vou com a vida pela mão sempre inseguro
por me ser tão obscuro o amanhã
mas sabendo muito bem que o futuro
chega sempre muito cedo pela manhã

ouço em mim gritos mil de desespero
e transporto o desconforto desse fado
mas maior – bem maior é o quanto eu espero
receber do futuro em mim legado

que é feito passo a passo e vida fora
com as mãos que são minhas e são tuas
a cruzar limiares em cada aurora
pelas casas muros pontes rumos ruas…

– Jorge Castro

Duas pérolas de cultura abstrusa…
e um desenvolvimento harmonioso

Nos meus périplos facebookeanos
tropecei, hoje, com duas pérolas que não resisto a partilhar convosco:
– A primeira pérola, proveniente quase-quase, de tempos
longínquos mas, extraordinariamente, tão actuais (quem não tropeçou
recentemente com atitudes análogas, provenientes de personagens insuspeitas,
perto do si…?): 
Assim se estraga uma reputação de Ambrósio… Este, espírito atento e venerador, acautela, a bem da nação, os costados num exercício de capachismo notável e esclarecedor. A este pobre não lhe anunciaram apetites, como ao outro, do anúncio, daí que o seu espírito titubeasse na aflição do imponderável… Lindos tempos, estes, do respeitinho… Ouvis, ó jovens (e menos jovens, também) distraídos (e/ou deslumbrados) com o estapafúrdio «liberalismo» em que andamos tão embrenhados e empenhados?
– E saltamos, agora, para a modernidade, a do foguetório iluminado e iluminante que se alberga, porventura, em massas cerebrais circunscritas e limitadas, desenvolvidas na mesma lógica (?) que determinou a cabecinha pensadora do Ambrósio supracitado.
Do município de Portalegre para o mundo, no Dia da Criança, um simulacro de manifestação e confronto com «forças da ordem», em exercício de cidadania – e permitam-me aqui um enorme ponto de interrogação, logo seguido de um outro de exclamação (ou de espantação…): 

E, contudo, movem-se estas abencerragens, capazes do inominável, em ideias que não lembrariam ao mais expedito atrasado mental – sim, que os há, e tantos deles alcandorados a postos com poder…

A ideia é notável, assim a modos que começar a instrução para a cidadania como quem lê um discurso do fim para o princípio… e estranhar porque, no final, ninguém os percebeu.

*
Entretanto, uma alma criativa e premonitória, para além de esclarecida, publicou a seguinte imagem… que, lá está, tem tudo a ver com… Pode ver-se entoando aquela do «ai estes são os filhos da nação, trá-lá-lá-lá-lá…».

Abril – Um Modo de Ser
nas Caldas da Rainha

Pois foi assim, no passado sábado, dia 23 de Maio, na Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, com o apoio da Comunidade de Leitores e Cinéfilos das Caldas da Rainha, com a apresentação do meu Abril – Um Modo de Ser
… com a apresentação do meu Abril – Um Modo de Ser.

 
 Palmira Gaspar, da Comunidade de Leitores, inicia a sessão , com a apresentação sumária do que estava para vir…

… perante uma audiência que, do início ao fim da sessão, preencheu muito confortavelmente todo o grande auditório da Biblioteca.  

O autor estava, obviamente, muito feliz por ter nascido…
 A pianista Maria Rodrigues que acompanhou o Coral das Caldas da Rainha

… aqui apresentado por Carlos Gaspar, da Comunidade de Leitores.

 – O Maestro Joaquim António Silva, que dirige o Coral das Caldas da Rainha

… grupo que brindou os presentes com uma muito apelativa selecção das Canções Heróicas,
de Fernando Lopes Graça, com nota muito alta na sua interpretação.

– Como surpresa para a organização da sessão, Alexandre Castro refere o seu envolvimento no projecto Abril – Um Modo de Ser, que transcendeu, largamente, a sua responsabilidade técnica…

… e que prendeu a atenção da assistência pelo desassombro, empenho e lucidez demonstrados.

– Coube, depois, a vez ao músico e professor de música e tanta coisa mais em redor da Música, Walter Lopes, que juntou à mestria da sua interpretação em guitarra clássica…  

… um surpreendente e saudavelmente provocador conhecimento profundo do fenómeno musical, com que sempre nos enriquece nas diversas ocasiões em que temos tido o prazer de o ouvir.

E, logo mais, música, de novo, daquela de encher a alma.

Entrei eu, depois, para a apresentação da obra, que contou com o apoio, na sua realização, da Associação 25 de Abril e da Espaço e Memória – Associação Cultural de Oeiras, respectivamente através também de prefácios de Vasco Lourenço e de Joaquim Boiça, e da empresa gráfica Norprint.

Sugeri, entretanto, que a assistência acompanhasse alguns dos poemas que fui dizendo, através da sua leitura no livro entretanto distribuído pelos presentes, pois tal exercício suscita, geralmente, um mais eficaz entendimento da palavra dita.

 O «improviso escrito» flui sem qualquer esforço aparente, temperado que já vai estando este projecto pelas sucessivas apresentações que ocorreram…

  … desde o Congresso da Cidadania, de Março passado, proposto e organizado pela Associação 25 de Abril, onde ocorreu o lançamento deste livro.

 Por fim, Heloisa Monteiro

 … acompanhando Mário Piçarra
… transportaram-nos, música fora, por uma boa parte daquele sonho que comanda a vida , 

 … através de trechos que nos trouxeram os grandes temas que norteiam a busca permanente da Utopia, dos quais, com frequência, temos andado tão arredados.  

 No final da sessão, a nossa anfitriã e responsável pela Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, Aida Reis, pronunciou-se sobre o muito bom nível de toda a sessão, para o que – digo eu – muito contou a sua sempre amável, interessada e eficaz presença activa, de quem contamos invariavelmente com a melhor colaboração que, aqui, uma vez mais e sempre, se manifesta, enaltece e agradece.
  
E nem vos passa pela cabeça quantos autógrafos tive de elaborar. 
Vaidades…? E porque não?
Fotografias de Lourdes Calmeiro

Todas as coisas têm o seu mistério
e a poesia
é o mistério de todas as coisas
– Federico García Lorca

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