Sendo este um  espaço de marés, a inconstância delas reflectirá a intranquilidade do mundo.
Ficar-nos-á este imperativo de respirar o ar em grandes golfadas.

cada um(a) acumula o que pode…

Ora, aqui está um pensamento de fusão que me ocorreu passeando pelo facebook:
– uns(umas) acumulam cargos… 
(para o pé-de-meia)

… enquanto outros(as) coleccionam fardos
(para a meia do pé).

No caso, mulheres ambas. Só que uma de finanças, enquanto outra de andanças. 
A cada uma segundo as suas possibilidades, assim se diria se a hipocrisia 
tivesse alguma vergonha na cara…

com… decorando

no meu país condecora-se o
favor

não um poema
se a lógica das coisas
perturbadas
existisse
seriam condecoradas as
árvores que sobreviveram
às labaredas do lucro
mas não
apenas se condecoram os
eunucos do sorriso
e os promotores do frete
aqui e ali
contemplam-se talvez pintores
escultores alguns
algum poeta
para compor ramalhetes
consentidos
de teatro poucos
cantores menos
que a medalha não se prende
em qualquer peito
e quem traz a voz ao alto
esse é suspeito
se a lógica das coisas perturbadas
existisse

só o acto de nascer daria um nome.

– Jorge Castro
Nota do autor – o que é mais irritante neste poema é que já o criei em Junho de 2006.

um poema (sempre) incompleto

tanta vez a ausência nos
atarda
na imensa desmesura de algum
dia
e esse dia – que é tão nosso
– se abastarda
entre  o ser e o não ser que se enfastia
um afecto tanta vez
desperdiçado
um juízo artifício da razão
um abraço de punhal
amortalhado
que cravamos numas costas de
feição
e vivemos muito pouco assim
perdendo
duma vida inteira o que o tempo
perdeu
e corremos em redor não
percebendo

que outro dia já lá vem e o sol
nasceu…

– Jorge Castro

Esta, sim, a notícia do dia!
– se quiserem, dos verdadeiros namorados

– momento que dedico aos meus amigos siderais Pedro Mota, Rui Malhó e Rui Vieira Farinha.

dois buracos negros
impertinentes
após se terem libertado da respectiva estrela colapsada
e tirando-se de seus lazeres
circunstantes
rodearam-se e valsaram no universo estelar

imbuídos de uma matéria astronomicamente maciça
e infinitamente compacta
determinaram a sua singularidade
reflectida nos respectivos corações
onde o tempo pára
e o espaço deixa de existir

mas como tudo isto é muito relativo
e após ambos determinarem o seu horizonte de eventos
região que – como todos sabem –
é local de onde não se pode regressar
e também como – já segundo Einstein dizia –
a gravidade pode influenciar no movimento da luz
por aquela valsa dos buracos amantes
vamos todos vogando
universalmente
ao ritmo e cadência das sua ondas gravitacionais de paixão
produzidas no turbilhão do cosmos

– trata-se afinal do mais recente desenvolvimento da Invenção do Amor
do poeta Daniel Filipe
em que os amantes siderais
subverteram
com o seu acto de amor
a cidade siderada…

– Jorge Castro
11 de Fevereiro de 2016

é Carnaval… podia ser bem pior!

(só para que não se diga que, por este blog, a coisa anda algo parada…)

Carnaval à Bulhão Pato
tão pacato e perna à mostra
mesmo com pouco recato
não vejo ameijoa nem ostra…

talvez que seja da crise
que não deixa vir à tona
e se apuro algum deslize…
ora, gaita, é matrafona…!

obrigado!

Esta a  forma de agradecer que nos distingue no mundo, segundo Sampaio da Nóvoa. 
Os portugueses, entretanto, demonstraram uma vez mais a preponderância do relevo mediático nas suas vidas e o quanto são influenciáveis pelo jogo de espelhos que os media proporcionam. 
A distorção das imagens que isso ocasiona não os incomoda. Pelo contrário, convivem de tal modo bem quase como se as suas (nossas) vidas se resumam a uma passagem, de preferência longa, por um qualquer parque de diversões.
Não será impunemente que se dizia, por franças e araganças, que les portugais sont toujours gais.
Sim, lá vamos, cantando e rindo, levados, levados, sim…E eis que o velho hino salazarento assume contornos de actualidade globalizada e globalizante.
Mas Marcelo Rebelo de Sousa, convenhamos, não é mau. Podia ser muito pior. 
E como, a partir de hoje, ele é também o meu presidente, só posso desejar e esperar que venha a revelar-se muito melhor. Melhor do que sempre foi e melhor do que aquele que sai.

Eu voto! E Sampaio da Nóvoa é a minha escolha.

Este blog é, evidentemente, um blog de conteúdos políticos… Aliás, à imagem e semelhança de toda a vida em nosso redor. Assim sendo, o seu autor – para quem não saiba, eu próprio -, para além de posições e opiniões, tem da cidadania o conceito de que ela só existe quando é participada.
A minha opção actual «nasceu» há muito tempo e consolidou-se no Congresso da Cidadania, promovido pela Associação 25 de Abril, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Março de 2015. E, obviamente, mantém-se. 

bucolismos

– talvez seja pela saudade esperançosa de mais sol, cá vos deixo um poema suscitado em tempo de névoa densa e frio agreste…

ao correr pelos campos da intriga
onde eu sei que a inveja dá semente
não me atardo na colheita de uma espiga

corro mais por saber que mais à frente
há searas de outra luz que mais me abriga
e me traz mais da vida e mais urgente

busco então as papoilas de veludo
que tão rubras dão ao dourado o calor
mais que o Sol que no estio cobre tudo

e as aves que esvoaçam com ardor
em chilreios que dão voz ao campo mudo
são a vida a cumprir-se de outra cor.

– Jorge Castro
Todas as coisas têm o seu mistério
e a poesia
é o mistério de todas as coisas
– Federico García Lorca

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