by OrCa | Set 26, 2015 | Sem categoria |
Muito para além dos «resultados das sondagens» que nos perturbam e esmagam este tempo de suposta reflexão pré-eleitoral – ah, que quando eu mandar, a sua divulgação pública há-de ser proibidíssima por constituir perversão antidemocrática… -, interessa ao cidadão olhar à sua volta com os olhos que a sua consciência cívica e comunitária lhe ditem.
Tentarei, pois, reflectir neste espaço algumas imagens e parcos comentários, extraídos da actualidade muito recente que constituam elemento objectivo (tanto quanto possível) de prova quanto ao estado a que isto chegou, como diria o Salgueiro Maia.
E cá vai a primeira:
– Todos os dias, a partir das 6 ou 7 horas da manhã, na praça de Entrecampos, Lisboa, qual lugar de peregrinação das almas aflitas, constitui-se uma longa fila de cidadãos, à porta dos serviços da Segurança Social… cujo edifício, aliás, tem vindo a deixar cair algumas partes de si mesmo, face à sua relativa vetustez e notória falta de manutenção.
A fila já tem, por sobre si, um coberto de protecção, ou não fosse aquilo a Segurança Social…
by OrCa | Set 11, 2015 | Sem categoria |
Foi publicada em Junho de 2011. Infelizmente foi pouco divulgada mas ainda não perdeu actualidade…
«As farmacêuticas bloqueiam medicamentos que curam, porque não são rentáveis»
O Prémio Nobel da Medicina Richard J. Roberts denuncia, em entrevista, a forma como funcionam as grandes farmacêuticas dentro do sistema capitalista, preferindo os benefícios económicos à saúde, e detendo o progresso científico na cura de doenças, porque a cura não é tão rentável quanto a cronicidade.
8 de Julho, 2011 – 16:23h
Há poucos dias, foi revelado que as grandes empresas farmacêuticas dos EUA gastam centenas de milhões de dólares por ano em pagamentos a médicos que promovam os seus medicamentos. Para complementar, reproduzimos esta entrevista com o Prémio Nobel Richard J. Roberts, que diz que os medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas farmacêuticas que, em troca, desenvolvem medicamentos cronificadores que sejam consumidos de forma serializada. Isto, diz Roberts, faz também com que alguns medicamentos que poderiam curar uma doença não sejam investigados. E pergunta-se até que ponto é válido e ético que a indústria da saúde se reja pelos mesmos valores e princípios que o mercado capitalista, que chega a assemelhar-se ao da máfia.
A investigação pode ser planeada?
Se eu fosse Ministro da Saúde ou o responsável pelas Ciência e Tecnologia, iria procurar pessoas entusiastas com projectos interessantes; dar-lhes-ia dinheiro para que não tivessem de fazer outra coisa que não fosse investigar e deixá-los-ia trabalhar dez anos para que nos pudessem surpreender.
Parece uma boa política.
Acredita-se que, para ir muito longe, temos de apoiar a pesquisa básica, mas se quisermos resultados mais imediatos e lucrativos, devemos apostar na aplicada …
E não é assim?
Muitas vezes as descobertas mais rentáveis foram feitas a partir de perguntas muito básicas. Assim nasceu a gigantesca e bilionária indústria de biotecnologia dos EUA, para a qual eu trabalho.
Como nasceu?
A biotecnologia surgiu quando pessoas apaixonadas começaram a perguntar-se se poderiam clonar genes e começaram a estudá-los e a tentar purificá-los.
Uma aventura.
Sim, mas ninguém esperava ficar rico com essas questões. Foi difícil conseguir financiamento para investigar as respostas, até que Nixon lançou a guerra contra o cancro em 1971.
Foi cientificamente produtivo?
Permitiu, com uma enorme quantidade de fundos públicos, muita investigação, como a minha, que não trabalha directamente contra o cancro, mas que foi útil para compreender os mecanismos que permitem a vida.
O que descobriu?
Eu e o Phillip Allen Sharp fomos recompensados pela descoberta de introns no DNA eucariótico e o mecanismo de gen splicing (manipulação genética).
Para que serviu?
Essa descoberta ajudou a entender como funciona o DNA e, no entanto, tem apenas uma relação indirecta com o cancro.
Que modelo de investigação lhe parece mais eficaz, o norte-americano ou o europeu?
É óbvio que o dos EUA, em que o capital privado é activo, é muito mais eficiente. Tomemos por exemplo o progresso espectacular da indústria informática, em que o dinheiro privado financia a investigação básica e aplicada. Mas quanto à indústria de saúde… Eu tenho as minhas reservas.
Entendo.
A investigação sobre a saúde humana não pode depender apenas da sua rentabilidade. O que é bom para os dividendos das empresas nem sempre é bom para as pessoas.
Explique.
A indústria farmacêutica quer servir os mercados de capitais …
Como qualquer outra indústria.
É que não é qualquer outra indústria: nós estamos a falar sobre a nossa saúde e as nossas vidas e as dos nossos filhos e as de milhões de seres humanos.
Mas se eles são rentáveis investigarão melhor.
Se só pensar em lucros, deixa de se preocupar com servir os seres humanos.
Por exemplo…
Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença …
E por que pararam de investigar?
Porque as empresas farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.
É uma acusação grave.
Mas é habitual que as farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos cronificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.
Há dividendos que matam.
É por isso que lhe dizia que a saúde não pode ser um mercado nem pode ser vista apenas como um meio para ganhar dinheiro. E, por isso, acho que o modelo europeu misto de capitais públicos e privados dificulta esse tipo de abusos.
Um exemplo de tais abusos?
Deixou de se investigar antibióticos por serem demasiado eficazes e curarem completamente. Como não se têm desenvolvido novos antibióticos, os microorganismos infecciosos tornaram-se resistentes e hoje a tuberculose, que foi derrotada na minha infância, está a surgir novamente e, no ano passado, matou um milhão de pessoas.
Não fala sobre o Terceiro Mundo?
Esse é outro capítulo triste: quase não se investigam as doenças do Terceiro Mundo, porque os medicamentos que as combateriam não seriam rentáveis. Mas eu estou a falar sobre o nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura tudo não é rentável e, portanto, não é investigado.
Os políticos não intervêm?
Não tenho ilusões: no nosso sistema, os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos.
Há de tudo.
Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase todos os políticos, e eu sei do que falo, dependem descaradamente dessas multinacionais farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são palavras…
18 de Junho, 2011
by OrCa | Set 5, 2015 | Sem categoria |
Não sei se isto irá ocorrer (ou correr bem…), mas quero, desde já, avisar todos quantos aqui venham, que estou a pensar, muito seriamente, publicar no Sete Mares uma foto minha todo nu.
Ainda não me decidi, também, quanto à parte anatómica a expor com maior minudência, mas tal será ditado pela circunstância do momento político, claro.
Tenho a certeza, entretanto, de que toda a gente levará, a partir daí, as minhas convicções, políticas e não só, muito mais a sério!
Confesso, assim, desta forma enviezada, a minha incapacidade intelectual para compreender o gratuito inesperado de certas atitudes.
E que nos valha uma albarda…!
by OrCa | Ago 19, 2015 | Sem categoria |
Professor catedrático, em Pré-História e Arqueologia, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, José d’Encarnação é personagem com quem tive a grata honra de cruzar caminhos em diversos momentos da minha vida.
Dele tive conhecimento da publicação recente de mais uma obra – uma outra a acrescentar à sua já extensa bibliografia -, desta feita Retalhos, com edição da Casa da Cultura António Bentes, de São Brás de Alportel, terra de seu nascimento. Nestes Retalhos colige o autor cem pequenas crónicas que veio publicando, regularmente, no mensário VilAdentro, desde Março de 2003 e até data recente.
E, encurtando razões, porque haveria eu de sugerir tal obra? Ora, tão-só pelo mimo que sempre advém de quem, sabendo do que fala, tempera o saber (os seus saberes, melhor diria) com uma pródiga memória e um imenso braçado de afectos, que alia a uma saborosa escrita, lavrando-nos testemunho de uma identidade cultural que tanto se teima em desperdiçar, abastardar, quando não liminarmente destruir.
É assim. Andam por aí uns resistentes… Não serão muitos, mas espera-se que sejam os bastantes na preservação de um património tão nosso mas que todos os dias é assaltado pela cabotinice mais ou menos deliberada dos «nossos» órgãos de comunicação dita social.
Leiam, leiam. Trata-se, afinal, de documentar uma realidade que ainda nos está ao alcance do braço e para a qual urge reinventar golpe de asa que lhe traga novo alento e cariz apelativo para os nossos dias. E por isso se recomenda esta leitura pois que, sem se conhecer, sabe-se pouco ou nada.
O nosso património imaterial, vastíssimo, tem coisas destas: passa a vida a materializar-se! Bem haja, caro Professor José d’Encarnação.