12º aniversário do Sete Mares…

… que amanhã se comemora. Sempre coincidente com a celebração solsticial de inverno, 
que se quer feita de eterno retorno  mas sempre em espiral de esperança. 

Cá estamos e estaremos. Com os votos de um excelente e esperançoso 2016, 
aqui vos deixo um poema:
tanta vez a ausência nos atarda 
na imensa desmesura de algum dia 
e esse dia – que é tão nosso – se abastarda 
entre o ser e o não ser que se enfastia 
um afecto feito já grande pecado 
um juízo desperdício da razão 
um abraço de punhal amortalhado 
que cravamos numas costas de feição 
e vivemos muito pouco assim perdendo 
duma vida inteira o tempo precioso 
e corremos em redor não percebendo 
que outro dia já nasceu de sol radioso…
– Jorge Castro 
Dez. 2015


– fotos de Jorge Castro

Os votos de Jacques Brel,
no primeiro de Janeiro de 1968 (Europe 1)

Mão amiga fez-me chegar esta mensagem, proveniente já da lonjura do tempo mas, como é useiro e vezeiro naqueles que escrevem a Vida com maiúscula, que poderia muito bem ter sido escrita ontem ou, até, depois de amanhã… Aqui a partilho, com a ousadia de ser minha a retroversão do original, em francês:    
«Desejo-vos
sonhos sem fim e a vontade furiosa de realizar alguns. Desejo-vos que amem o
que é preciso amar e que esqueçam o que é preciso esquecer. Desejo-vos paixões,
desejo-vos silêncios. Desejo-vos cantos de aves ao despertar e risos de
crianças. Desejo-vos que respeitem as diferenças dos outros, porque o mérito e
o valor de cada um estão muitas vezes por descobrir. Desejo-vos que resistam à
estagnação, à indiferença e às virtudes negativas da nossa época. Desejo-vos
enfim que nunca renunciem à procura, à aventura, à vida, ao amor, pois a vida é
uma aventura magnífica e ninguém razoável deve renunciar a ela sem travar uma
rude batalha. Desejo-vos sobretudo que sejam vocês próprios, orgulhosos de o
ser e felizes, pois a felicidade é o nosso verdadeiro destino.» 
Será, porventura, a minha tradução canhestra, mas parece-me inteligível o bastante para a subscrever como uma bela mensagem para dedicar a todos para o ano de 2016. E, já agora, para os anos seguintes, também… 

amizades,
não sei dizer-vos em duas palavras…

… o que me apetece dizer em três. Nem o Natal é o que se quiser antes de ser a baliza onde um ano finda e, logo, um outro começa.

Não há machado que corte a raiz ao pensamento, cantava-nos Manuel Freire, com clarividente espírito libertário, semeando tantas frondosas árvores de livre arbítrio que, ainda e sempre, permanecem como esteios de vida para aqueles que dessa mesma vida têm, por superior objectivo, vivê-la.

Mas, como em tudo, ele há machados e machados e, muito especialmente, há os nossos olhos quando observam as coisas que nos rodeiam – a que alguns chamam, a propósito, a raiz do pensamento.

Vem isto ao caso de, em lojinha (Memórias) que conheço lá para a Rua das Flores (número 18), no Porto, onde sempre me maravilho com produtos manufacturados com graça e originalidade pelo engenho humano, ter tropeçado com o objecto que vos deixo, nataliciamente, em imagem e que se me depara como metáfora para os dias que vamos vivendo.

Nestes dias necessários de ver com olhos de ver, tentemos olhar para o mundo que é o nosso com outro olhar, mais articulados com uma dimensão de Humanidade, onde não nos devemos alhear da reformulação de tantos conceitos.

– produto artesanal da serralharia O Pinha de Manuel Machado, em Celeirós, 

ali para os lados de Braga.
O certo é que me emocionei com a reutilização dada pelo artista aos três elementos de ferro, agreste e duro, que compõem a escultura, comummente designada como presépio ou sagrada família. Não sei se aqui reside, em mim, um limiar de religiosidade, mas sei que foram mãos humanas que, conjugadas com um cérebro inquieto e observador, deram à luz tal peça, diferente em tudo dos elementos que a enformam, e, ainda assim, não desdenhando a sua matriz.
Esta, pois, a tal metáfora com que vos deixo, a todos, os meus votos de festas felizes. E um poema, claro:

Natal 2015

tudo muda nesta vida
para que a vida aconteça
cai a noite adormecida
para que o dia amanheça
e assim muda o nosso olhar
com tudo aquilo que vemos
por vezes até o mar
se faz chão quando queremos

nada fica sem mudança
num imenso torvelinho
um homem ontem criança
uma ave a sair do ninho
e na vida assim passando
nessa espiral infinita
vai a esperança esperando
em tudo quanto acredita

e em cada ano que passa
a vida por nós passando
sentimos que nos abraça
a vontade de ir voando
e lá vamos sem parança
que a vida toda se inflama
e lá ao longe de esperança
já o horizonte nos chama

e com temor ou audazes
a rir levamos a sério
o sentirmo-nos capazes
de ser parte do mistério
connosco uma nostalgia
que é também vida afinal
… mas já lá vem outro dia
se quisermos de Natal.

– Jorge Castro
Dezembro de 2015

vergonha? muito pouca
ética? nenhuma

Tendo assistido a ambas as entrevistas, pareceu-nos, cá por casa, que uma delas teria acabado cedo demais… Mas, enfim, como imaginar tal malfeitoria quando tantos holofotes se centram neste momento político? Seria uma insensatez da SIC, tanto mais que, se não estou em erro, cada candidato parte de um pé muito democrático de igualdade plena (?). 
Mas, afinal, parece que não. Para um, altas fachadas, envolvência gongórica, como se as eminências pintadas em redor caucionassem o discurso e a personagem, e 43 minutos de debate. Para outro, um ambiente despojado, porventura até mais consentâneo com a personalidade do candidato, pouco dado a fogos fátuos… e 23 minutos de entrevista.
Assim sendo, ora, toma lá, que é democrático! E se isto não é objectividade e isenção, venha de lá alguma velha rameira que lhes atire a primeira pedra. 
Assim se constroem «clarividências» como aquelas que desembocaram em dez anos de cavaquismo à solta. E que não se diga que os amigos de direita não são para as ocasiões, que ali, sim, se cultivam os grandes valores…

Valha-nos a mulher de César!

aquele era o homem que sabia voar


acordou bem cedo em manhã de Outono
e os ventos traziam nuvens de além-mar
e ao sair à rua a meio de um sonho
descobriu desperto que podia voar

percorreu falésias
sentiu maresias
voou sobre as ondas
voou sobre os dias
e sempre desperto tão perto do sonho
ele ficou mais certo de saber sonhar.

– Jorge Castro