by OrCa | Mai 16, 2005 | Sem categoria |
(sem K, nem Y, nem W… sem sentido consentido)
ah andasse antes aleatóriamente
brandindo brancos belos baluartes
com cautos cuidados claros cantantes
donde deuses demónios demais deidades descem
estremes enxames em estímulo exangue
faunos famintos flácidos fátuos
garantindo gozos golpeando galopes
harmonizando hoje halos havidos
intensos íntimos ilesos istmos
jamais jucundos justos jurados
louco lamento lancinante laço
mais melancólico mas meu melaço
normativas nuvens nadando nos ninhos
onde os orvalhos ora orgulhosos
poisam plácidos por puro prazer
quando quimeras querem quebrar
raios relapsos reles ressentidos
súbito sós sempre sedentos
tantos tamanhos tão turbulentos
úbere uno unido umbigo
vazio vale velante viço
xamã xifoide xisto xilógrafo
zona zoética zízio zunido.
– Jorge Castro
by OrCa | Mai 14, 2005 | Sem categoria |
dos bancos, dos banquetes e das bancadas:
– Preciso mandar abaixo 2000 sobreiros…
– Já falaste com o teu partido?
– Não… Falei com o teu banco!
receita do medo:
O dono da farmácia entra na farmácia e vê um cliente apoiado com toda a força contra a parede.
– O que é que se passa com aquele homem? – pergunta ao assistente.
– Bem – responde o assistente. – Ele veio cá esta manhã pedir qualquer coisa para a tosse. Não consegui encontrar o xarope da tosse, por isso dei-lhe um frasco de laxante.
– Não se pode tratar a tosse com laxantes! – diz o farmacêutico, entredentes.
– Pode, sim. Agora ele tem medo de tossir.
by OrCa | Mai 12, 2005 | Sem categoria |
a sombra da pomba na parede do prédio
como um voo agreste de açor clandestino
a sombra da pomba é um rasto um assédio
como um voo planado por sobre o destino
a sombra da pomba é um mal sem remédio
como um voo sem asas de sonho menino
a sombra da pomba é o salto intermédio
como um voo urbano sem rumo sem tino
a sombra da pomba é a sombra da sombra
sem um prédio um assédio um remédio ou sem tino
como um voo intermédio entre o sonho e o destino.
– de Jorge Castro
… e das paredes urbanas soltou-se um eco, de um companheiro de poesias, que vem a propósito:
A sombra que ensombra a parede do prédio
não mais faz que sombra mas não é assédio
que a sombra que pesa quando é prepotente
e não vem de luz mas nasce de gente
é a força mais forte de ser violência
num nojo de abuso demente sem pejo
que a própria demência esconde ao desejo
do egocentrismo sem conta nem pejo
e fere mais fundo que a ferida maior
não é deste mundo, é apenas dor
de nos violarem até ao tutano
com requintes ébrios de mau predador
que não é urbano, é verme menor
que não é humano, é bosta e bolor
que saiu do estrume e ao estrume regressa
rezai com fervor: que o faça depressa!…
e então, finalmente,
que não se disfarce, não finja ser gente
e o mundo lhe dê o quanto merecer:
uma cova calcada de terra pesada,
seu nome gravado cá em cima, “Estupor”,
e o letreiro podre “Que descanse em dor”!
– de Pedro Laranjeira
by OrCa | Mai 11, 2005 | Sem categoria |
Hoje venho para aqui colocar uma simples questão que me atormenta desde que me conheço como elemento da população activa deste país e para a qual sempre e por toda a gente me foi iludida a resposta. E ela é:
– Porque é que os sindicatos portugueses – todos, sem excepção! – discutem, ano após ano, com essas inefáveis entidades patronais a que temos direito, os aumentos salariais em base percentual?
Haverá por aí algum economista que me elucide, que me esclareça, acerca desta misteriosa fatalidade histórica que tanto agrava, também ano após ano, os fossos salariais, abissal fonte geradora de injustiça social e sem paralelo na Europa (… pelo menos, da que vou conhecendo)?
Sabem como são as contas feitas: o que ganha 10, com um aumento de 10%, passa a ganhar 11; o que ganha 100, com o “mesmo” aumento, passa a ganhar 110. Esta diferença de 9, reiteradamente agravada durante anos a fio, trouxe-nos à magnífica situação em que estamos: os piores nas remunerações mais baixas; os maiores nas remunerações mais altas.
Para quando a discussão partindo do aumento da massa salarial previsível, com uma distribuição mais equânime, que sem descurar responsabilidades, competências e eficácias, ainda assim “alise” as disparidades escandalosas , injustificadas e inqualificáveis que hoje se verificam?
Tratar-se-á de alguma coisa do foro do direito divino ou, afinal, não passamos de um rebanho de cordeiros parvos, imbecis e pachorrentos pastoreados por uma mão cheia de mafiosos atrevidos… Ou dar-se-á, apenas, o caso de ser só eu que não percebo nada disto?
by OrCa | Mai 8, 2005 | Sem categoria |
De viagem até Coimbra, em confraria sindical, aproveitei o tempo de moleza do autocarro para ler, de cabo a rabo, O SAUDOSO TEMPO DO FASCISMO.
Porque o exercício é recordatório, mais do que literário, a leitura fluiu sem tropeções, evocativa de vidas e percursos tão próximos e conhecidos – de os viver ou deles ouvir falar – que mal apercebi a viagem.
Tinha rematado a leitura de outro livro, PORTUGAL HOJE – O MEDO DE EXISTIR, de José Gil, e, sem qualquer esforço, estabeleci uma unidade de sentido entre as duas obras, ao provável arrepio dos seus autores, mas que me pareceu mais do que razoável a mim, leitor. Quase assim como dois lados de uma pirâmide quadrangular onde, pelas faces sobejantes, iam passando os autores e eu próprio.
O vértice é a vida, toda ela, feita dessas faces que se tocam, laterais, e que culminam nesse ponto de encontro apontado ao infinito.
Hélder Costa pinta com as cores do humor e da ironia os tempos da “negra ditadura fascista”, como convém, destapando-lhe a careca ridícula e pontapeando-lhe o traseiro em saudável exorcismo contra o medo que nos oprime, aquele de que o José Gil nos fala, denuncia e desmascara.
Pois é… que bem sabe, de vez em quando, respirar uma lufada de ar fresco!