De viagem até Coimbra, em confraria sindical, aproveitei o tempo de moleza do autocarro para ler, de cabo a rabo, O SAUDOSO TEMPO DO FASCISMO.
Porque o exercício é recordatório, mais do que literário, a leitura fluiu sem tropeções, evocativa de vidas e percursos tão próximos e conhecidos – de os viver ou deles ouvir falar – que mal apercebi a viagem.
Tinha rematado a leitura de outro livro, PORTUGAL HOJE – O MEDO DE EXISTIR, de José Gil, e, sem qualquer esforço, estabeleci uma unidade de sentido entre as duas obras, ao provável arrepio dos seus autores, mas que me pareceu mais do que razoável a mim, leitor. Quase assim como dois lados de uma pirâmide quadrangular onde, pelas faces sobejantes, iam passando os autores e eu próprio.
O vértice é a vida, toda ela, feita dessas faces que se tocam, laterais, e que culminam nesse ponto de encontro apontado ao infinito.
Hélder Costa pinta com as cores do humor e da ironia os tempos da “negra ditadura fascista”, como convém, destapando-lhe a careca ridícula e pontapeando-lhe o traseiro em saudável exorcismo contra o medo que nos oprime, aquele de que o José Gil nos fala, denuncia e desmascara.
Pois é… que bem sabe, de vez em quando, respirar uma lufada de ar fresco!