sugestão: Misty Fest
A riqueza de um património imaterial

O Misty Fest apresenta DE VIVA VOZ, um espectáculo singular e único, no Teatro Tivoli, no dia 12 de Novembro.
Às 21h30, sobem ao palco 40 mulheres que se juntam pela primeira vez para, apenas com as suas vozes fazerem uma viagem musical aos confins do tempo,antecipando o futuro hoje. 
O desafio partiu de Amélia Muge que concebeu e assume a direcção do espectáculo.
Será uma noite promissora e de descoberta, ou redescoberta, de um património imaterial que nos pertence e que é dos mais ricos da Europa, se não mesmo o mais rico: o canto de mulheres e, em particular, as suas polifonias tradicionais. A elas foram e continuam a ir beber muitos compositores e músicos ao longo dos tempos.
Cramol, Maria Monda, Segue-me a capella e Sopa de Pedra, vêm de Oeiras, Lisboa, Coimbra e Porto, respectivamente, mas serão sobretudo as Beiras, Entre Douro e Minho, Douro Litoral e Minho que soarão no Teatro Tivoli.
Apoio: Câmara Municipal de Oeiras, Inatel, Biblioteca Operária Oeirense.
Bilhetes à venda_: FNAC e ticketline .

Miranda do Douro

Talvez romagem, talvez hábito, talvez vício… o certo é que, regularmente, lá rumo ao canto nordestino de Portugal, em viagem de afectos, em encontro de antiquíssimas amizades e afectos. Desta feita, o encontro dos antigos alunos do Externato de São José de Miranda do Douro.
Saído a meio da tarde de Lisboa, registo com agrado que escassas quatro horas e meia de viagem a velocidade legal são bastantes para cá chegarmos. Como sempre, a Sé esperava-nos…

… bem como o Restaurante da Balbina, ponto de romagem primeiro. Nele, travámos conhecimento com um cabrito grelhado, digno e merecedor dos maiores encómios. Sim, claro, para sobremesa queijo com marmelada, como deve ser!

Um sapatinho artesanal, todo feito à mão e aqui adquirido, ia contribuindo para o bem estar geral.

Depois, a visita a lugares muitas vezes vistos e sempre revisitados com carinho.

Um autóctone deu-nos as boas vindas.

A evocação sempre merecida a um velho professor a quem todos muito devemos.

E a Sé sempre de vigília.

Ah, e para os distraídos sempre vou lembrando que aqui também é Portugal.

Os dois figurões que se olham na praça.

Velhas casas de eterno retorno.

E Miranda sempre à nossa espera.
Pela manhã, a excelente vista d’A Morgadinha saudou-nos, como é seu timbre. 
Muito bem, vamos ao dia!
– Fotografias de Jorge Castro 

breve nota sobre passeio a Arouca e Serra da Freita
… e que Portugal temos!

Ora, bem… Arouca, ali como quem vai para o Porto, vindo de Lisboa, e em vez de virar para o mar e Aveiro, vira para dentro, passa por Vale de Cambra e já lá está – claro, passados que foram trezentos e tantos quilómetros, quase todos em auto-estrada (onde se recomenda a A17, pela calmaria de trânsito):

Com um bom  e bem dimensionado grupo de companheiros de viagem, assentámos teres e haveres no Hotel São Pedro, já em Arouca – que recomendo – e partimos para a satisfação da primeira necessidade básica, nestas aventuras: onde jantar e, muito preferencialmente, bem.  

Sem desprimor dos demais e porque o tempo sempre escasso não nos permitiu visitar todos, aqui vos deixo uma magnífica sugestão: o Restaurante Tasquinha da Quinta, no centro da localidade.

Apenas uma breve nota: a prancha de entradas e a vitela arouquesa deixaram-nos absolutamente convencidos.

Tempo ainda para uma espreitadela à Capela da Misericórdia…

… e ao Mosteiro de Santa Mafalda, ambos em Arouca, onde guias de ocasião nos prestaram informações preciosas para entendimento do que nos rodeava.

Um dos destinos previstos era o Museu das Trilobites (em Canelas, muito próximo de Arouca). 

Para além dos esclarecimentos científicos que podem ser profusamente colhidos no local e que não têm lugar neste breve apontamento de viagem, não quero deixar de divulgar que se trata de fósseis com 500 milhões de anos e dos maiores do mundo, colhidos numa pedreira ali localizada e que, por sinal, por uma gestão esclarecida e interessada, deu origem à criação deste espaço cultural, ponto de encontro já da comunidade científica internacional que se dedica a estas coisas…

A sua dimensão – gigantesca em termos comparativos com as que se encontram um pouco por todo o mundo – dever-se-á a razões várias, mas onde os cientistas ainda divergem. Certo é que, com tal dimensão, apenas se encontram outras manifestações no Canadá, não deixando de ser curioso o facto de que, na Pangeia (previamente à deriva de continentes), quando na Terra existiria um único continente (aí por volta de 200 a 540 milhões de anos atrás) – essa região do actual Canadá e a região do actual Portugal, que visitámos, se encontrarem muito próximas. 

E o objectivo primeiro desta passeata: os Passadiços do Paiva que, apesar do incêndio registado há cerca de um ano, foram prontamente reabilitados e ali estão, para nosso deleite. 
Recomenda-se a caminhada, ao longo de um trajecto de um pouco mais de oito quilómetros, em dia de semana, pois aos fins de semana, conforme nos constou, a romaria é infindável e algum encanto ficará beliscado pela enorme afluência de interessados… e a paisagem sente-se melhor com alguma tranquilidade em nosso redor.

A ponte, lá em baixo, assinala de algum modo, o início do percurso… 

O grupo de jovens caminheiros.

Dois trechos dos passadiços, obra de notável engenharia e de uma estabilidade contrária à aparentemente enganadora fragilidade da estrutura.

Pelo caminho, a maravilha de uma Natureza ainda não alterada pela mão humana. Aqui, claramente, o curso de água dirigido ao rio Paiva, ofereceu-nos o desenho inusitado daquilo que me pareceu ser um coração de filigrana… Apreciem vocês mesmos.

A maravilha da digitalis purpurea – dedaleira ou campaínha, para os amigos…

… espreitando as «marmitas» escavadas pelo sobressalto do Paiva no duro granito, esculturas autênticas e sempre de elegância imbatível.

Algures, a meio do percurso, uma ponte pênsil, a desafiar medos de vertigens, dando ainda mais tempero à caminhada. Enfim, opcional, para tranquilidade daqueles a quem a vertigem é mais forte do que eles.

E cada trecho mais belo e apaziguador do que aquele já transposto.

Um habitante apenas da profusa diversidade que por lá de vai vendo. Aqui vo-la deixo, à amiga lesma, pela pouco vulgar coloração (negro retinto), bem como pela dimensão – cerca de 12 cm em repouso contraído…
E mais não mostro, pois aquilo é para ser visto no local e cada imagem rouba a dimensão do encanto. É ir, senhores. A inscrição faz-se na net e custa 1 €.

No dia seguinte uma visita ao Museu do Convento de Santa Mafalda, cujo espólio ou recheio é muito digno de ser visto.

Depois, rumo à Serra da Freita, mesmo ali mais à frente, tanto mundo para ver. Desde os vestígios, ancestrais ou mais recentes, que os humanos foram por lá deixando, até à magnífica paisagem, que tem um ponto alto (na verdadeira acepção do termo), na Panorâmica do Detrelo da Malhada – nome que, por si só, já é um poema…

Aí travámos conhecimento com um grupo de simpáticos exemplares arouqueses – a quem, aliás, já tínhamos prestado outro tipo de honras no dia anterior, na Tasquinha da Quinta, nomeadamente.

A paisagem, serrana e montanhosa, em paletas que sempre nos surpreendem e inspiram…

… mesmo se condimentadas com alguns «tem-de-ser» que a constrangem.

Logo mais, a Frecha da Mizarela, segundo parece a maior queda de água da Europa… E mesmo que o não seja, ponto obrigatório para lavar os olhos cansados das rotinas citadinas.

E, de seguida, mais uma originalidade muito nossa: as pedras parideiras da aldeia de Castanheira. Quase-quase único no mundo, este fenómeno geológico, apesar de ter ali já o seu centro interpretativo, mereceria talvez outro resguardo…  Mas isso, serão outros cantares. 

As covinhas que se avistam na rocha granítica eram o leito parideiro das pedras paridas, também chamadas, localmente, de ovelhas ou de jogas, mas a que os geólogos chamam encraves.
Por mim, fico-me pelo encanto das paridas, para não enjeitar o esforço enorme das suas parideiras.
Enfim, cá me vai ficando a sensação, cada mais enraizada, 
de que não chega uma vida para saber de Portugal todo. 

fios que tecem a fala das mulheres
na BOO, em Oeiras

«Um grupo de jovens mulheres decide aprender e reencontrar um canto primevo de muitas sonoridades. Assim, em 1979, nasce o Cramol – Grupo de canto de mulheres da Biblioteca Operária Oeirense.
Cantamos o que herdámos. Um canto que nasce da terra, da natureza, do trabalho, da morte e da vida, de ritos ancestrais a que as mulheres quiseram e souberam dar voz. São falas onde se inscreve o traço da tradição.
Cantamos por gosto e por uma vontade partilhada de salvaguardar as raízes, de preservar e de valorizar, no presente, o património comum. É este o nosso trabalho há mais de 35 anos!
A partilha e reflexão desse património são a razão de ser destes encontros. Com eles procuramos novos trilhos que outros olhares possam revelar. Alicerçados no ciclo da natureza, fiando e desfiando fios, teceremos as falas ou o canto que na recriação presente se faz futuro.
São quatro encontros anuais, como quatro são as estações do ano. Em cada um deles dois convidados – uma mulher e um homem –para abordar o aspecto musical e o contexto em que este canto habita – um canto feito de quotidiano, história e criação permanente.
Começámos com a Primavera. Estamos agora no Verão em pleno solstício.
Os convidados deste encontro: Rosário Pestana e Luís Pedro Faro, têm percursos bem diferentes. A primeira, é uma estudiosa das práticas músicas tradicionais que articula, nomeadamente, com as questões de género. O segundo, conhece bem o trabalho do Cramol que dirigiu artisticamente durante 11 anos. Estudioso da voz, tem aprofundado a construção da sonoridade no canto tradicional das mulheres. Cruzam-se assim outros olhares que propiciam tecer falas que cremos amadurecidas e folgadas-»

CRAMOL
A não perder!

para hoje, ainda a tempo

Apenas para relembrar: hoje, às 18h30, no Auditório do IHRU, organizado pela sua ACD, lançamento do primeiro livro de poesia “O Pica-Orelhas” (Caleidoscópio, 2016), 
de Fernando Pereira Alves. 
Vão estar presentes três poetas: Jorge Castro, Teresa Machado e Carlos Fernando Marques. 
Editor: Jorge Ferreira. Moderador: Vítor Graça. Metro: Praça de Espanha. Local: Avenida de Columbano Bordalo Pinheiro, n.º 5. 
Será servido um porto de honra.