Ora, bem… Arouca, ali como quem vai para o Porto, vindo de Lisboa, e em vez de virar para o mar e Aveiro, vira para dentro, passa por Vale de Cambra e já lá está – claro, passados que foram trezentos e tantos quilómetros, quase todos em auto-estrada (onde se recomenda a A17, pela calmaria de trânsito):
Com um bom e bem dimensionado grupo de companheiros de viagem, assentámos teres e haveres no Hotel São Pedro, já em Arouca – que recomendo – e partimos para a satisfação da primeira necessidade básica, nestas aventuras: onde jantar e, muito preferencialmente, bem.
Sem desprimor dos demais e porque o tempo sempre escasso não nos permitiu visitar todos, aqui vos deixo uma magnífica sugestão: o Restaurante Tasquinha da Quinta, no centro da localidade.
Apenas uma breve nota: a prancha de entradas e a vitela arouquesa deixaram-nos absolutamente convencidos.
Tempo ainda para uma espreitadela à Capela da Misericórdia…
… e ao Mosteiro de Santa Mafalda, ambos em Arouca, onde guias de ocasião nos prestaram informações preciosas para entendimento do que nos rodeava.
Um dos destinos previstos era o Museu das Trilobites (em Canelas, muito próximo de Arouca).
Para além dos esclarecimentos científicos que podem ser profusamente colhidos no local e que não têm lugar neste breve apontamento de viagem, não quero deixar de divulgar que se trata de fósseis com 500 milhões de anos e dos maiores do mundo, colhidos numa pedreira ali localizada e que, por sinal, por uma gestão esclarecida e interessada, deu origem à criação deste espaço cultural, ponto de encontro já da comunidade científica internacional que se dedica a estas coisas…
A sua dimensão – gigantesca em termos comparativos com as que se encontram um pouco por todo o mundo – dever-se-á a razões várias, mas onde os cientistas ainda divergem. Certo é que, com tal dimensão, apenas se encontram outras manifestações no Canadá, não deixando de ser curioso o facto de que, na Pangeia (previamente à deriva de continentes), quando na Terra existiria um único continente (aí por volta de 200 a 540 milhões de anos atrás) – essa região do actual Canadá e a região do actual Portugal, que visitámos, se encontrarem muito próximas.
E o objectivo primeiro desta passeata: os Passadiços do Paiva que, apesar do incêndio registado há cerca de um ano, foram prontamente reabilitados e ali estão, para nosso deleite.
Recomenda-se a caminhada, ao longo de um trajecto de um pouco mais de oito quilómetros, em dia de semana, pois aos fins de semana, conforme nos constou, a romaria é infindável e algum encanto ficará beliscado pela enorme afluência de interessados… e a paisagem sente-se melhor com alguma tranquilidade em nosso redor.
A ponte, lá em baixo, assinala de algum modo, o início do percurso…
O grupo de jovens caminheiros.
Dois trechos dos passadiços, obra de notável engenharia e de uma estabilidade contrária à aparentemente enganadora fragilidade da estrutura.
Pelo caminho, a maravilha de uma Natureza ainda não alterada pela mão humana. Aqui, claramente, o curso de água dirigido ao rio Paiva, ofereceu-nos o desenho inusitado daquilo que me pareceu ser um coração de filigrana… Apreciem vocês mesmos.
A maravilha da digitalis purpurea – dedaleira ou campaínha, para os amigos…
… espreitando as «marmitas» escavadas pelo sobressalto do Paiva no duro granito, esculturas autênticas e sempre de elegância imbatível.
Algures, a meio do percurso, uma ponte pênsil, a desafiar medos de vertigens, dando ainda mais tempero à caminhada. Enfim, opcional, para tranquilidade daqueles a quem a vertigem é mais forte do que eles.
E cada trecho mais belo e apaziguador do que aquele já transposto.
Um habitante apenas da profusa diversidade que por lá de vai vendo. Aqui vo-la deixo, à amiga lesma, pela pouco vulgar coloração (negro retinto), bem como pela dimensão – cerca de 12 cm em repouso contraído…
E mais não mostro, pois aquilo é para ser visto no local e cada imagem rouba a dimensão do encanto. É ir, senhores. A inscrição faz-se na net e custa 1 €.
No dia seguinte uma visita ao Museu do Convento de Santa Mafalda, cujo espólio ou recheio é muito digno de ser visto.
Depois, rumo à Serra da Freita, mesmo ali mais à frente, tanto mundo para ver. Desde os vestígios, ancestrais ou mais recentes, que os humanos foram por lá deixando, até à magnífica paisagem, que tem um ponto alto (na verdadeira acepção do termo), na Panorâmica do Detrelo da Malhada – nome que, por si só, já é um poema…
Aí travámos conhecimento com um grupo de simpáticos exemplares arouqueses – a quem, aliás, já tínhamos prestado outro tipo de honras no dia anterior, na Tasquinha da Quinta, nomeadamente.
A paisagem, serrana e montanhosa, em paletas que sempre nos surpreendem e inspiram…
… mesmo se condimentadas com alguns «tem-de-ser» que a constrangem.
Logo mais, a Frecha da Mizarela, segundo parece a maior queda de água da Europa… E mesmo que o não seja, ponto obrigatório para lavar os olhos cansados das rotinas citadinas.
E, de seguida, mais uma originalidade muito nossa: as pedras parideiras da aldeia de Castanheira. Quase-quase único no mundo, este fenómeno geológico, apesar de ter ali já o seu centro interpretativo, mereceria talvez outro resguardo… Mas isso, serão outros cantares.
As covinhas que se avistam na rocha granítica eram o leito parideiro das pedras paridas, também chamadas, localmente, de ovelhas ou de jogas, mas a que os geólogos chamam encraves.
Por mim, fico-me pelo encanto das paridas, para não enjeitar o esforço enorme das suas parideiras.
Enfim, cá me vai ficando a sensação, cada mais enraizada,
de que não chega uma vida para saber de Portugal todo.
Grande reportagem, sobre um grande pedacinho do que muitos acham pequeno país.
Cool ! abraço. C.
Bela reportagem. Não conheço os locais mas, fiquei com vontade de os visitar.
Obrigada. Beijos e abraços.
está tudo nesta reportagem…
mas se me permites as "parideiras" mereciam poema.
bons trilhos para teus passos.
forte abraço, meu caro Jorge
Pois é Jorge… como sabes, menos de uma semana depois da tua expedição a Arouca, excursionei eu e mais 27 "jovens" da Academia Sénior da Cruz Vermelha da Parede, também a essa região, e obviamente os objectivos foram quase coincidentes… Também "vitelámos arouquensemente", não na Tasquinha da Quinta, onde em visita ao fim de tarde só "entradámos", mas tínhamos "vitelado" ao almoço na Quinta de Novais; Também fomos ao Mosteiro e às Trilobites e às Pedras Parideiras, mas não fomos "Passadiçar", porque o autocarro não chegava lá perto, e houve bastantes resistências a tanto quilometrar (se é que muitos o conseguiriam…) além dessa parte não constar no programa. Para a troca, lá perto do Centro de Interpretação das Parideiras, fomos visitar o Radar Meteorológico de onde da plataforma 30 metros acima do solo, tivemos uma visão de 360 graus desanuviada. Esta é a terceira tentativa que faço para publicar um comentário como "Eduardo Martins", e não entra, agora vai como "Anónimo", (mas sou eu!)
Como sempre descreves o difícil tornando fácil Já lá fui, mas hei-de lá voltar, é muito bonito. É pena ser muitos quilómetros a pé e assim nem todos se podem deslocar ou fazer o trajeto. O norte é lindo. É mais perto daqui.
Cumprimentos
Bem haja, amigo Jorge, por esta deliciosa partilha. Até apetece agendar logo uma visita. Arouca tem uma grande tradição salesiana, pois o convento de Santa Mafalda funcionou durante largos anos em meados do século passado como seminário menor ou aspirantado. De vez em quando, os antigos alunos vão lá em romagem! Um abraço, deliciado também com as excelentes fotos, inclusiva a da lesma! Abraço – J. d'E.
Gratificante o passeio, como gratificante a partilha de tão belas amizades! E cá fica provado, outra vez, que o tempo que passamos com os amigos é sempre tempo ganho. Bem hajam!