noites com poemas com
Maria Mamede e Sofia Barros
e a música e a voz de Rogério Charraz

Por Amor Às Palavras (edição da Edium Editores) e Antes de Sermos Dia (edição da Lua de Marfim), com autorias respectivamente, de Maria Mamede e de Sofia Barros extravasaram o estrito conceito de  títulos para que nasceram e, numa feliz e afectuosa simbiose, uniram-se para dar o mote a mais uma belíssima sessão das Noites com Poemas, que ocorreu no passado dia 15 de Fevereiro.
 (fotografia de Alexandre Gandum)

Numa mesa alargada, bem disposta e disponível, houve provas sobejas e gritantes de que o encontro e a partilha podem ser – e são-no sempre que o quisermos – bem mais fecundos do que espúrias ou estultas rivalidades.

 (fotografia de Alexandre Gandum)

Maria Mamede, dona de créditos bem firmados no que concerne a obra publicada e militância em prol da poesia, que nos chegou de terras nortenhas, arrostando com distâncias e incomodidades diversas, mas que fez questão de nos honrar com a sua presença… 
Sofia Barros, iniciando vigorosamente percursos poéticos, afoitando-se a desbravar os caminhos que ela própria irá criando por cada poema seu do amor pleno, da espera e da saudade, no dizer de José Fanha.
Rogério Charraz, de quem vamos tendo notícia no campo da música e que nos encanta com os seus originais tanto quanto com as suas originais versões de nomes maiores da nossa música (José Afonso, José Mário Branco…), foi um excelente companheiro de viagem, pontuando com a sua bela voz e arte musical, cada momento da sessão.
Como ouvi de alguém, uma cabeça bem feita e estruturada que sabe dar às suas interpretações algo mais do que o efémero do momento musical, criando os enlaces que dão corpo e forma a cada um desses momentos. 

 (fotografia de Alexandre Gandum)

Falta apenas a componente de remate destas sessões: a moldura humana, que contribui decisivamente para a criação da envolvente de interesse e de afectos que fazem com que todo o esforço valha a pena. 

A. S. Castelo Branco, da editora Edium (www.ediumeditores.org)

Paulo Afonso Ramos, da editora Lua de Marfim (http://luademarfim.pt)  

Uma referência sublinhada à presença do amigo Alexandre Gandum (à direita na imagem), excelente fotógrafo, cujo contributo enriquece, também, esta breve notícia de um serão bem passado.

Desdobrou-se a sessão em momentos diversos, entre canções e poemas, trazidos pelas mãos dos seus autores que nos proporcionaram a boa conta do recado que todos tiveram artes para dar, da forma aos conteúdos, …   

… e, também, cada um a seu jeito, no enlace que quisemos e soubemos fazer, percorrendo os caminhos por outros desbravados mas proporcionando os olhares, outros, que sempre nos causam alguma estranheza e constante desafio. 
Como momento de transição para a «segunda parte» a cargo dos participantes do público, houve lugar a uma breve homenagem a um querido amigo que já não se encontra connosco, Dionísio Leitão, cujo blog de referência A Catedral, tão bem funcionou, durante anos a fio, como elemento de apresentação e ligação entre tantos cultivadores de poemas, como era o caso de diversas personagens presentes na sala.

 (fotografia de Alexandre Gandum)

Por essa «segunda parte» fora, os nossos amigos da poesia, com maior ou menor enquadramento com a própria sessão e a temática proposta, mas sempre dispostos a seguirem por amor às palavras e antes de sermos dia

– Maria Maya

– Rosário Freitas

– João Baptista Coelho

– Francisco José Lampreia

– Ana Freitas
-Estefânia Estevens

– Humberto Seriz

Com a costumeira sessão de autógrafos, encerrámos, ia alta a noite, mais um percurso, destes com que contrariamos algum cinzentismo no viver e, em boa verdade que não é demais repetir, sempre por amor às palavras e antes de sermos dia

Ainda a tempo e mal cabendo em mim, aqui vos deixo um mimo que Maria Mamede, entretanto, me remeteu:

(Ao Amigo Jorge Castro, que me deu uma noite Mágica)

…e choveu nos meus olhos!
Somente porque e Noite
se fez de prata
e o luar enevoado
deu ao meu coração
a cortina que faltava
num palco improviso
feito de afetos…
ontem
choveu nos meus olhos
e os da alma
rasinhos de água
eram ribeiros de estrelas
que passaram rentes ao chão
a abraçar a Amizade.
…e hoje, ao lembrar
ainda chove nos meus olhos!…

 

– Fotografias de Alexandre Gandum (assinaladas) e de Lourdes Calmeiro

No próximo dia 15 (sexta-feira) de Fevereiro de 2013, como habitualmente na Biblioteca Municipal de Cascais, de São Domingos de Rana, daremos voz, tempo e espaço a duas poetisas que muito recentemente nos brindaram com obra publicada. São elas Maria Mamede e Sofia Barros. E delas eu diria serem vozes irmãs nossas, que muito me apraz ter a meu lado, promovendo a rotação do mundo, contra penas e pesares, contra os pesos e os penares que afligem o viver.
Por Amor às Palavras (Maria Mamede) – sinopse: «uma mão cheia de poemas, 40 para ser precisa, falando do meu amor às palavras, que durante estes cinquenta anos de escrita foi crescendo, crescendo e preenchendo os carreirinhos vazios da minha alma. Estas minhas palavras, escritas e ditas, mostram que eu sou, tal como escrevi um dia, “Mulher para quem escrever poesia é tão importante como respirar.”
Antes de Sermos Dia (Sofia Barros) – sinopse: «As palavras da Sofia celebram a vida, a luz e o amor. Mesmo lidas em conjunto e fora do blog que as viu nascer constituem o diário de uma necessidade de amor, amor físico, amor oferecido, roubado, agarrado, retribuído, amor de terra e água, amor integral que seja como dizia Vinícius “eterno enquanto dure”. O amor, especialmente o amor sensual, é na nossa literatura muito mais assumido e cantado pelas mulheres que pelos homens. Basta pensar em Florbela ou Maria Teresa Horta. E é nesse registo que Sofia se situa. ” (do prefácio de José Fanha).
As Noites com Poemas com poetas, poetisas. Assim como que mais dois bons exemplos da teimosa permanência e intranquila constância de se andar por cá com um braçado de poemas, apenas para conseguirmos ver, no fundo da mina, o que a luz não ilumina, com a devida vénia a José Gomes Ferreira. Uma sessão que será feita, então, por amor às palavras antes de sermos dia, na acepção exacta da expressão.
Os vossos lugares estão reservados. A vossa presença é requerida. Nós todos contamos convosco. Até lá.

como decorreu a conversa com Joaquim Pessoa
nas Noites com Poemas

Como sempre e sempre diferente de cada sessão que a antecedeu, como sempre têm decorrido estes nossos encontros entrelaçadas em poemas e poetas, na inquietação da busca de um mundo novo, apesar do cerco insidioso do mundo que temos. 
O nosso convidado, o poeta Joaquim Pessoa, sugerira que a sua participação evoluísse em forma de conversa casual e informal…. 

…  tendo como interlocutores os elementos da assistência que, apesar dos avisos cataclísmicos intimidatórios, se afoitaram, noite adentro, a ouvir e sentir outras vozes, outros falares. Um modo outro de viver…   

… algures entre o amor e o combate, como nos foi anunciando o nosso convidado.

O que me sugere o seu poema, respigado de Ano Comum, Dia 202:
Havia um sonho. Havia uma
esperança. Havia. Havia.
Mas o sonho também cansa
e a esperança está vazia.

Havia um sonho e uma esperança
Pois havia.

De seguida, a conversa evoluiu, como parte determinante e identitária também das Noites com Poemas, para a exposição e partilha das diversas identidades e sensibilidades em forma e modo de poemas, ditos de viva voz e coração aberto, onde se cruzam primeiros passos com vivências prolongadas nesta coisa estranha e misteriosa de casar palavras sempre na tentativa – melhor ou pior conseguida, mas sempre tentando… – de encontrar o outro… ou até – quem sabe? – esse local indizível onde se esconde a tal esperança arredia que o poeta refere.   

Afinal, uma exposição de temperamentos que temperamentalmente se manifestaram… 

O espaço dedicado à troca de impressões, de contactos, que anunciam novos eventos, e a recordação colhida do convidado da noite, em forma de autógrafo. 

E assim cumprimos, uma vez mais, a arte do encontro. 

– fotografias de Lourdes Calmeiro

Conversa com o poeta Joaquim Pessoa
nas Noites com Poemas

Amizades, por favor, sigam-me durante breves momentos:
– «Sou apenas um escritor. Um cultivador. Um jardineiro. Um florista. A minha felicidade flutua entre o estrume que deponho na raiz das palavras e o aroma que me excita quando acabo de as colher»;
– «Tenho uma receita para morrer novo: envelhecer primeiro»;
– «De tanto a enrolares com mentiras, a verdade é uma múmia mentirosa»;
– «Se perderes a magia, perdes tudo. O que sobrar de ti não chega nem para cumprimentar o teu vizinho»…
Assim mesmo, folheando aleatoriamente os dias do seu recente livro, Ano Comum, Joaquim Pessoa – poeta, artista plástico, publicitário… – vai-nos confessando que vive e tão intensamente que está disposto a partilhá-lo mas deixando imensas pistas para uma amena cavaqueira. E assim pretende que se desenrole a nossa próxima sessão das Noites com Poemas, que contará com a sua presença.
Uma conversa informal, uma simples e escorreita troca de impressões/opiniões sobre o que mais interessa e que não será nem mais nem menos o que vai do tudo ao nada.
Na próxima sexta-feira, dia 18 de Janeiro, pelas 21h30, na Biblioteca Municipal de Cascais em São Domingos de Rana (vide mapa anexo), estaremos, então, com Joaquim Pessoa.
Homem de mil poemas – além de uns quantos mais ofícios –, de amor e de combate, tantos a andarem por aí, nas bocas do mundo, dir-se-ia a comporem-nos a existência e a restaurarem-nos caminhos…
Lá estaremos para a conversa. E vocês, já sabem, apareçam. Há sempre um lugar mais à vossa espera. E espaço para um poema.
Se, pelo caminho, vos ocorrer um bom argumento para trocar com o nosso convidado, não hesitem. Todos agradeceremos.

percorrendo os sete mares
com Deana Barroqueiro

Da saga sobre a personagem que foi Fernão Mendes Pinto, aproximada ao século XXI, com o rigor de investigação cada vez maior que as novas tecnologias proporcionam, mas a que não é nada alheio o empenho e o rigor de quem investiga, eis o desafio proposto para esta sessão das Noites com Poemas, com Deana Barroqueiro e a sua obra mais recente:
 O Corsário dos Sete Mares – Fernão Mendes Pinto.

Munida de extraordinária panóplia recolhida nos lugares por onde terá andado este nosso aventureiro, que acompanha e ilustra, de algum modo, o rico fio narrativo da autora…

… pouco resta ao apresentador do que remeter-se ao singelo ofício de fazer apenas o que lhe compete: apresentar, se possível, com o engenho e a arte de desencadear um sorriso. 

Foi dada a palavra à editora, Marta Ramires, da Casa das Letras, que arrostou com este imenso projecto, navegando através da maré de exigência da autora e que bem me pareceu ter chegado ao bom porto da satisfação de todas as partes envolvidas.  

Depois, a palavra à autora, Deana Barroqueiro, singrando mar afora, com artes de chamar ventos de feição, em curso pleno na chamada velocidade de cruzeiro, com a obra concluída, apontando já outros horizontes temporais… 

Excelente comunicadora, une a fluência do seu claro discurso, não apenas aos saberes partilhados com o auditório…

… como a uma natural e constante empatia com todos aqueles que a ouvem…

… que ficam conscientemente cientes – se me permitem a sobrecarga palratória – de que, se perdem pitada, são eles que saem a perder.

Uma sala muito confortavelmente preenchida – aquele único lugar temporariamente vazio é o da nossa senhora das imagens -, mesmo em vésperas de Natal e anúncios de fim do mundo, faz-me sempre sentir que pela poesia é que vamos

Logo mais, entrando na «segunda volta» da sessão, cumpriu-nos «pagar» à autora, dir-se-ia, com língua de palmo e em forma de poesia, como sempre ocorre nestas nossas sessões.  

– Francisco José Lampreia

– Maria Maya

– Carlos Pedro

– Eduardo Martins

– Ana Freitas

– Emília Azevedo

– Rosário Freitas

– Sofia Barros

– Tina

– Virgílio Ramos…

… que cantou, encantando e proporcionando, até, um pezinho de dança, que logo há quem se afoite.

E tudo regadinho a Porto e Moscatel de Setúbal, houve bolo-rei e broas doces e, até do Corsário dos Sete Mares recebemos uns belíssimos borrachões da Iria Pereira e umas broas de mel à Pêro da Covilhã, pois Natal é quando a boa gente quiser…
Pois é… e bem foi. Melhor é sempre experimentá-lo que julgá-lo, mas julgue-o quem não pôde experimentá-lo, como diria, a propósito, o Luís Vaz. 
     

– Fotografias de Lourdes Calmeiro