apenas uma mensagem enfastiada…

O País foi agitado por uma não-notícia. Isto, o País, agita-se quase sempre por muito pouco. Enfim, se calhar ninguém saberá de que país se fala, mas lá que parece perturbar-se, lá isso parece.
O jornal (?) Expresso fala, há dias, de um relatório sobre o «caso de Tancos». O País estremece e entreolha-se, temeroso.
Há um Coelho e demais elementos da lura que rejubilam. Pedem a cabeça do ministro da tutela e, de caminho, de todo o resto da geringonça.
Há outros que «a-ver-vamos», mais prudentes…
Agora, sabe-se que a notícia é falsa e que não há relatório nenhum.
Eu sei que isto, no meio de tantas telenovelas da programação diária, entremeadas por futebol, não vale nada nem tem importância nenhuma, nesta espécie de disneylândia em que se vai transformando Portugal.
Mas não iremos ainda a tempo de esperar de alguma entidade oficial que mova, sei lá, um processozito por falta de verdade jornalística (?) deliberada e por promoção de distúrbio social ao jornal  Expresso ou, vá lá, ao rato mickey responsável por aquela notícia (?)?

O meu voto, outra vez, em favor do Salvador

A verdade é que vou tendendo a gostar, cada vez mais, do Salvador Sobral.
 
O comentário por ele produzido no concerto de ontem Juntos Por Todos e que – como tanto gosta de se dizer – está a «inflamar as redes sociais», reza mais ou menos assim: «Eu sempre que faço qualquer coisa vocês aplaudem. Vou mandar um peido para ver o que é que acontece», logo a seguir a um curtíssimo improviso que nem lhe saiu muito bem, denota tão-só que estamos em presença de alguém que aparenta ter os seus atributos no sítio e sabe – pasmem, ó gentes! – pensar com a própria cabeça.
 
Daí, a minha chapelada. 
 
E o Salvador Sobral não fez, como se apregoa, um «comentário humorístico». Fez, sim, um comentário crítico, de inegável frontalidade e muito a-propósito. Para além do foguetório acrítico institucionalizado, é bom ouvir uma voz com alguma lucidez que apele, pelo contrário, a um saudável espírito crítico e, já agora, fundamentado, em vez do aplauso imbecilóide ou apatetado a que estamos tão (mal) habituados.
 
Os espíritos tão cordatos e politicamente correctos que se indignam ou exasperam com esta atitude corajosa não passam disso mesmo: tão cordatos e politicamente correctos, que enjoam. 
 
Nada será definitivo, mas este Salvador, não o sendo da pátria, pelo menos ajuda-nos a preservar alguma racionalidade, no meio de tanta patetice, tanta louridão e tanta lantejoula mediática. 
 
Bem haja.

Pós-de-escrita – Talvez se o Salvador se tivesse referido a um sonoro traque, a uma conspícua ventosidade, a uma inocente flatulência ou, até, a um imponderável pum, as hordas censórias se mantivessem mais apaziguadas. Agora, um peido, na presença de tão eméritos representantes da nação?!… Enfim, não sei se gostaria de lhe estar na pele, ao longo dos próximos dias…

E é vê-los, a todos e a todas, tão puros quão linguisticamente bem comportados, e que nem soltam nem largam, fisicamente, ventosidades que tais, os pobres, tão aprumados. No limite, exalam tão-só algum suspiro deliquescente… Sendo que neles o suspiro terá orifício alternativo.   

 
 

de trampice em trampice até à idiotice total

Do estado do mundo já nós
todos sabemos que está perigoso. Mas, assim como assim, visto que é lá fora, é
chato, mas a maltinha aguenta, remetendo-lhe um interesse, quando existe,
muito, muito periférico.

De tal modo que mesmo com
um Almaraz à porta, vendo bem sempre é do lado de lá da fronteira que, como
todos sabemos, é assim a modos que uma barreira invisível que nos protege de
tudo e mais alguma coisa…

Do Donald pato-bravo e do
seu inenarrável penteado – que evoca vagamente um pato mandarim – sente-se
alguma apreensão. Ma non troppo.

Agora, cá dentro, nesta
variedade lusitana da cosa nostra, a
coisa pia mais fino. Ou pia ou fia, que nunca apurei da justeza do dito, mas
vai tudo dar ao mesmo.

Massacrado até ao mais
profundo do meu âmago com o pseudo «caso Centeno» e sem qualquer interesse no
assunto para além do elementar facto de considerar que a Caixa Geral de
Depósitos é portuguesa e assim se deve manter, e já que todo o comentador
comenta o não-assunto, porque não hei-de eu comentá-lo também?

E, afinal, tenho muito
pouco para comentar, para além do óbvio. Veja-se:

1.     
Mas houve, de facto, algum acordo com o
António Domingues? Não. O governo não acordou nada com o António Domingues. E
isto é definitivamente claro e claramente definitivo.

2.     
Mas houve, de facto, alguma promessa do
ministro Centeno a António Domingues do tipo espera-aí-que-eu-vou-ver-o
que-se-pode-arranjar? Claro que houve. E daí? O homem é especialista no regime
jurídico ou ele é mais números e é para isso que integra o elenco governativo?
Entretanto, o chefe disse-lhe: não, pá, isso não pode ser nada… E acabou a
conversa!

3.     
Ah, mas não vieram confessar essa fraqueza
ao povo? Enfim, tenho para mim e pelo que tenho sempre visto, que, se de cada
vez que um ministro manifestasse fraqueza em qualquer item da governação viesse
confessar tal ignomínia ao povo, há uma data de anos que não se faria mais nada
na nobre arte da governação.

4.     
Alguém sabe dizer-me se a Autoridade
Tributária ou qualquer outra força viva – e mesmo, até, as moribundas – já
estão a investigar o «currículo» de António Domingues e do seu grupo nomeado
para a administração da CGD? É que, aí sim, perante tanta necessidade de
reserva de confidencialidade sobre a declaração de respectivos rendimentos não
estamos em presença de um gato escondido com o rabo de fora mas, antes, de um
rabo escondido com o gato de fora. Eu, se fosse às tais forças vivas,
escarafuncharia a sério, nem que fosse só para chatear… Como, aliás, parece
tantas vezes ser objectivo primeiro da AT junto do cidadão normal.

Pelo meio disto tudo, a
geringonça lá vai indo… e nós todos com ela. Do défice é o que se vai sabendo e
o País, se não exulta descabeladamente com a reversão da roubalheira perpetrada
nos anos do Coelho, lá vai respirando, aos soluços embora, após tremenda
asfixia.

A Caixa ainda é nossa.
Não é de Moscovo, nem da China, nem de Angola, nem de Espanha, ao contrário do
que acontece em tudo que é negócio chorudo em Portugal. 

E, pelos vistos, esta é,
no fim de contas, a circunstância que apoquenta a «oposição» a que temos
direito.

Eu não sei se se lembram
de que, já no tempo da ditadura, o que se dizia do principal drama da direita
portuguesa nem era ser, como era, retrógrada. O problema maior era ser estúpida
– o que, aliás, são características que tendem a andar juntas.  E parece que há coisas que não mudam.

Nota – «trampice» é o
resultado da união de «trumpice» com trampolinice, nalguma noite sem luar.

trampice

Antecipando-me à nomeação da palavra mais usada para o ano 2017, deixo aqui já a minha proposta para a selecção de um semi-neologismo que, face ao despautério mundial que a eleição desta sinistra personagem suscita, irá andar nas bocas do mundo todo. 
Esperemos que seja pela resistência e combate, também mundiais mas, principalmente, em solo americano, à sua existência nefasta.
Claro que aportuguesei o termo, o que me pareceu, aliás, fazer todo o sentido!   

e, agora, para falar de outra coisa…
já olhou, com olhos de ver, para a sua factura de electricidade?

Há, nesta espuma dos dias, como alguns lhe chamam, algumas coisas mais sólidas e substanciais nas quais não nos convém tropeçar sem que, pelo menos, arrisquemos sérios danos na canela dos pensamentos.
 
Ora, vem ao caso, a circunstância de me ter debruçado sobre o sacrossanto tarifário da electricidade que uso lá por casa e, após cuidado apuramento de factos, apurar que, afinal, a desgraçada violência doméstica é assumida por improváveis agentes, porventura com os mesmos perniciosos efeitos civilizacionais.   
 
Sabemos de uma praga que assola todos quantos tenham celebrado um contrato de fornecimento de electricidade, de há longos anos, e que se chamava «aluguer de contador» que consiste, por sua vez, numa espórtula prestada à entidade fornecedora tão só por nos dar a benesse de existir e apesar de cobrar, em paralelo, o consumo que, efectivamente, tivermos, em termos de Kwh consumidos.
 
Quando o avanço civilizacional decidiu considerar que aquele «aluguer» era um abuso e, concomitantemente, um insulto à inteligência e à dignidade do bom povo e, como tal, teria de ser erradicado, logo a inteligência do costume transmutou a coisa em «taxa de potência» – tudo sempre sob a alçada do forte braço da lei -, na perspectiva ancestral de que mudam as moscas mas não muda a matéria que as atrai. E assim se ficou a pagar o mesmo, o que, no fundo e bem vistas as coisas, era o que interessava.
 
Entretanto, o nível de sofisticação foi-se apurando graças aos sacrossantos avanços tecnológicos, também conhecidos por progresso, e essa «taxa de potência» passou a estar sustentada no argumento de que, enquanto o caduco e troglodita «aluguer de contador» pouca ou nenhuma variação tinha de cliente para cliente, esta «nova» taxa incidia agora sobre a «potência contratada». Leia-se, a capacidade, disponibilizada pela empresa fornecedora, de o cliente poder ligar, em simultâneo, cada vez mais electrodomésticos.
 
Ora, numa lógica sem lógica nenhuma – pois o consumo é suposto pagar-se pelos Kwh gastos e quantos mais electrodomésticos ligados, mais se consumindo, logo, mais se paga… – o pagador, se queria usufruir da possibilidade de  ligar um aquecimento ao mesmo tempo que passava a roupa a ferro e aproveitava o tempo (cada vez mais escasso) para lavar a roupa suja da semana, lá via aumentar a tal «taxa de potência» na sua inestimável facturinha, ao solicitar «instalação» aumentada de potência contratada.
 
Dito de outra maneira: o cliente paga mais para poder gastar mais… Percebe-se? Duvida-se.
 
Esse aumento, sem entrar noutros devaneios despiciendos, traduzia-se tão-só pela calibragem de um aparelhómetro, instalado a seguir ao contador de electricidade e que se chama disjuntor diferencial. Por acréscimo, além de calibrar a potência disponível, até tinha a simpatia de proteger a instalação em casos de curto-circuitos, o que até era, vamos lá e como disse, simpático e – lá está! -, civilizado.  Uma vez mais, o forte braço da lei dava cobertura ao enredo.
 
Um dia, em pleno cavaquismo, o País amanheceu com a privatização da empresa fornecedora deste bem. E, ao privatizá-la, algum jurista atento apurou que uma empresa privada não deve cobrar taxas… Enfim, que diabo, não estamos no México, não é? Logo a solução foi fácil e brilhante: mudou-se-lhe, de novo, o nome e passou a denominar-se então «encargo de potência», mantendo-se todos os demais pressupostos.
 
Aqui convém parar e referir que este «aluguer-taxa-encargo» sofre regulares aumentos anuais, como é de bom tom numa sociedade que caminha para o futuro…
 
Mas o irrequieto legislador não dorme sobre os louros conquistados e no seu afã de se actualizar em novas realidades e novos desafios, cada vez mais engrossado institucionalmente, até com entidade «reguladora» a preceito, que lhe vai conferindo uma armadura de aço – o «mercado regulado» – contra débeis tentativas de sobrevivência do cliente, a esbracejar aflito num consabido mar de taxas e taxinhas.
 
Encurtando razões, que o palavrório vai longo, eis o actual estado da arte – uma outra vez, com todo o suporte legal:
 
– O «encargo de potência» mantém-se;
 
– Os «contadores inteligentes» em fase de instalação, permitem a definição da tal «potência contratada», ficando os encargos de instalação do sistema de protecção à responsabilidade integral do utente/cliente… Será por isso que regressaram em força os incêndios motivados por curto-circuito…?  
 
– Para cúmulo, uma vez mais civilizacional, actualmente o preço do próprio Kwh também varia em função da «potência contratada», ou seja, o cliente paga mais para poder gastar mais (potência contratada) e paga mais cara cada unidade consumida por já pagar mais para poder gastar mais (diferencial de preço em função da potência). Confusos? Pois têm mais…

-Na factura emitida avisa-se o bom povo de algo quase iniciático: «O preço da electricidade inclui o valor X (sem IVA) correspondente às tarifas de acesso às redes, que contêm o valor dos Custos de Interesse Económico Geral (CIEG) no valor de Y. Estes valores são independentes do comercializador» – fim de citação e de paciência. E, então, perceberam?

 
Há, neste contexto, uma questão filosófica que me avassala: o que é tudo isto…?!?… Enfim, o que nos vale é que vivemos num estado de direito… Olha se não fosse!