fotografando o dia (65)


em fundo o mar das caravelas
e eu correndo
para cá das ondas
a entrevê-las

talvez assim enfunado

– dá-nos o vento do mesmo lado –
me faça ao mar
para merecê-las

o sol que nos traz estas viagens
é enganador o sol dourado
e tantas naus são só miragens
– estou cá eu para sabê-las
– foto e poema de Jorge Castro

fotografando o dia (64)

no meu quintal
de pardal
fica o melro
no caminho

é assim que gosto dele
entre o melro e o pardal
saltitando à flor da pele
cada um faz nele o ninho

– foto e poema de Jorge Castro

fotografando o dia (63)

Notícia Trágica de Acidente na Cidade

uma viatura atropelou uma pomba na avenida
nada vi em pormenor
apercebi só por alto
um frémito fugaz
exangue
e na cinza do asfalto
nasceram asas de sangue.

– foto e poema de Jorge Castro

poema publicado no livro “Contra A Corrente – poemas que eu digo”

fotografando o dia (62)

à Anabela, pelo cuidado e pelo interesse, uma flor…

quase nada enfim de quase tudo

se faz o que na vida procuramos

quase nada mais subtil e mais estreito
do que a linha de um abraço a irmanar-nos

quase nada ou quase tudo
e desenganos
serão laços mais unidos que criamos

na urgência de viver
nos fique o jeito
de assim viver melhor
quando nos damos.

– foto e poema de Jorge Castro
*
E amanhã, dia 23, no Bar do Mercado da Ribeira,
em Lisboa, pelas 22h30,
cantar-se-á José Afonso.

Alguns poemas serão ditos, também.

Que quem lá for leve um amigo, também.

fotografando o dia (61)

e por cá vamos
de sonho em riste e de alma temperada

o teu tempo é o meu
a mesma estrada.

felizmente o horizonte!

ninguém dirá que além dele não há mais nada.

– foto de LC

– poema de Jorge Castro
*
SIM,
apenas SIM porque amar é um acto voluntário e consciente.

Amar não é um ditame de estruturas sociais,
de conveniências éticas ou, sequer, de fugazes e inconsistentes circunstâncias.

E um filho ama-se. Por isso se quer um filho.

Não o filho da exclusão social, seja ele despejado à sorte da amargura de um bairro degradado, seja abandonado à orfandade de um jardim de infância luxuoso, com motorista a transportá-lo de solidão em solidão.
Aos que defendem o NÃO com o argumento tíbio da “defesa da vida” sem uma palavra, uma atitude, uma lágrima pela tragédia contra a vida que todos os dias ocorre no Iraque – que digo eu? – em todo o mundo, lhes quero dizer como é gritante a sua incoerência… Na verdade, é bem mais fácil e muito mais cómodo entoar loas à vida que lá vem, do que pugnar por aquelas que por cá andam.