by OrCa | Jun 10, 2022 | Efemérides, Poemas |
e daí onde te sentas
seja no lugar mais próximo do sol poente
ou na alvura tensa de uma alvorada
pressentes ainda a voz de Camões?
pressentes a aventura?
a tempestade?
o perder-se de amores e desamores
que o amor nos traz?
o ser-se maior que o mundo
naquele momento em geral fugaz
para tanto nos sobrando engenho e arte?
e não só ser-se pequeno
e incapaz
com o medo de ser grande em qualquer parte?
ouves
então e ainda esse Camões
que celebramos sem deter um pensamento
no saber porque foi grande
e das razões
que o amarram a Portugal
impenitente?
feliz sejas
então
e venturoso
e que percorras o caminho esperançoso
do teu passado a caminho do futuro.
- Jorge Castro
10 de Junho de 2022
by OrCa | Dez 31, 2021 | Efemérides |
Começo já o dia a desejar para todos que o dia de amanhã nos encontre vivos e de boa saúde.
E, já agora, que essas condições se prolonguem pela vida fora, independentemente das passagens de ano que, tal como o nome indica, são meras passagens.
Conto convosco para me surpreenderem com a vossa criatividade e a vossa humanidade. Eu tentarei pagar-vos com a mesma moeda.
E que cada dia do novo ano e dos anos vindouros sirva para, com maior ou menor empenho, mas sempre obstinadamente, percorrermos os caminhos desta vida em busca de um sentido para ela e dos momentos de felicidade que a fazem digna de ser vivida.
by OrCa | Dez 24, 2021 | Efemérides, Poemas |
eis o Natal que de súbito acontece
num surto de pandemia
e as malhas que o império tece
em sonhos feitos à pressa e excessos de azevia
um Natal igual a tantos
e sempre sempre diferente
num mundo cheio de encantos
mas onde para outros tantos tem sempre a fome presente
venho lembrar-vos então o José Gomes Ferreira
que depois de ler Descartes mas muito à sua maneira
veio em certa ocasião dizer-nos algo como isto
«penso nos outros – logo existo»
um bom e feliz Natal de lembrar entes queridos
de partir para o novo ano com esperança renovada
é tudo quanto faz falta como prenda aos meus amigos
já agora saúde boa… nem é preciso mais nada!
- Jorge Castro
24 de Dezembro de 2021
by OrCa | Ago 2, 2021 | Efemérides, Homenagem, Poemas |
Em 02 de Agosto de 1929 nasceu José Afonso.
Dele e do seu imenso legado musical e político eu e tantos já dissemos muito e outro tanto haverá a dizer, assim nos sobre engenho e arte.
Deixo aqui uma dessas simples homenagens de minha autoria que lhe dediquei, em projecto de Ernesto Matos – «25 Poemas para o Zeca» – e que viva o José Afonso!
A JOSÉ AFONSO – POR TER BARCOS POR TER REMOS
não havia qualquer som na neblina
que pairava densamente na cidade
quando amar era névoa clandestina
e balada só rimava com saudade
mas ergueu-se uma voz
doutras seguida
uma voz de cantar
a voz erguida
deste chão só de sombras e degredo
este chão e esta voz que desgarrada
soube ser
e crescer
e ser amada
essa voz que cresceu só contra o medo
essa voz que acordou a madrugada.
- Jorge Castro
06 de Março de 2012
by OrCa | Jun 10, 2021 | Efemérides, Poemas |
venha lá a sardinha
as papas e os bolos
de enganar os tolos
a chuva miudinha
uva sem grainha
venha lá o medo
venham os bretões
nos seus aviões
dar cor ao enredo
em cor de lagosta
como a gente gosta
mas sem sinapismo
venham lá depressa
espantar o Eça
criar mais turismo
venha lá a Covid
que ninguém duvide
que está p’ra ficar
assim como estamos
entre desenganos
a olhar para o mar
venha a valentia
de num qualquer dia
ao mar nos fazermos
mas com a alegria
de um submarino
que só anda a remos
venha lá o vinho
o amigo e o vizinho
e do mal venha o menos
venham caracóis
com os futebóis
tão bons de rimar
tal como a cerveja
e a tanta inveja
que temos p’ra dar
ah meu Portugal
plastificado
como o via O’Neill
como o canta o fado
não há outro igual
…
ou melhor dizendo
não há outro Abril…?
- Jorge Castro
10 de Junho de 2021
by OrCa | Mai 1, 2021 | Efemérides, Poemas |
De uma imagem por mim obtida no primeiro de Maio livre, em 1974, para o Soneto do Trabalho, de José Carlos Ary dos Santos:
SONETO DO TRABALHO
Das prensas dos martelos das bigornas
das foices dos arados das charruas
das alfaias dos cascos das dornas
é que nasce a canção que anda nas ruas.
Um povo não é livre em águas mornas
não se abre a liberdade com gazuas
à força do teu braço é que transformas
as fábricas e as terras que são tuas
Abre os olhos e vê. Sê vigilante
a reacção não passará diante
do teu punho fechado contra o medo.
Levanta-te meu povo. Não é tarde.
Agora é que o mar canta é que o sol arde
pois quando o povo acorda é sempre cedo.
Poema datado? Pois é. Nesta data comemora-se o Dia do Trabalhador! Porque é que não havia de ser um poema datado?