No esforço ingente para tentar perceber alguma coisa daquilo que vai pelo mundo, que faz sempre falta como forma elementar de combater insónias, dado que já não estou muito em idade própria para pegar em armas à conta de alguma causa, ocorreu-me esta reflexão, que partilho com quem tenha tempo para aturar reflexões alheias:

Aqueles que olham para Putin como um incontrolável agente do KGB, forjado nas fundições do estalinismo, com inegáveis instintos imperialistas, e, logo a seguir, misturam tudo no cadinho de 1917, receio bem que se tenham perdido nalgum caminho da História… Ou, então, não se perderam, de todo, e sabem muito bem o que dizem e porque o fazem.

Lembram-me, por outro lado e apenas em aparente oposição, aqueles que nos anos 70 clamavam que os «perigosos esquerdistas» que colocavam em pé de igualdade, contra os interesses do mundo, o imperialismo americano e o social-imperialismo russo (lembram-se?) não passavam de reles agentes da CIA.

É destas análises da treta sempre anunciadas como deveras objectivas que vivem, alegremente, tantos comentadores.

A Rússia «soviética» anterior à queda do muro de Berlim era, de facto, uma potência imperialista que teve de se reposicionar, no xadrez político, perante os ventos da História. E era neste contexto que o tal agente do KGB se movia.

A máquina estatal existente foi facilmente adaptável, abandonando uma fachada «socialista», que pouco ou nada mantinha enquanto tal, e assumindo aquilo a que os teóricos do marxismo chamam capitalismo monopolista de estado, sustentado, como qualquer sistema capitalista que se preze, no poder económico, de que os oligarcas, hoje tão falados, são a face visível.

A mistura entre governantes e interesses instalados dir-se-ia pornográfica… e nem é nada a que os povos do chamado mundo ocidental não estejam sobeja e democraticamente habituados no que aos seus próprios governantes diz respeito.

Dito isto, Putin será o governante (leia-se oligarca-mor) de um país que vive sob as regras do mais desenfreado espírito capitalista e onde a simples ideia de democracia não existe, o que, por outro lado, ainda vai subsistindo no tal mundo ocidental, ainda que tantas vezes mascarado já de «faz-de-conta».

Recordemos o desabafo de uma nossa ministra que, ainda há pouco tempo, aludia à eventualidade conveniente de interromper a democracia por alguns meses para levar à prática medidas impopulares…

Para além disto, podemos sempre ter como opção manter as nossas opiniões virgens e puras, coisa que não fará muito sentido no século XXI, convenhamos. O povo ucraniano que o diga.

Como habitualmente, isto é só mesmo uma opinião. Quem sabe se não estarei completamente enganado e mal aconselhado por leituras ínvias e amigos transviados? Minha é que a culpa não deve ser…