Eu sei que muitos dos meus círculos de relações mais próximos estão danados com o Bloco de Esquerda pela sua anunciada votação contra o orçamento de estado. E lá terão as suas razões, porventura detendo mais informação do que aquela que eu tenho.
Chegam alguns ao ponto de equipararem o Bloco ao Chega e demais direitolas nesse voto «contra» o governo. O que me parece excessivo, mas é só a minha opinião, sendo que só me tenho na conta de livre pensador.
De facto, qualquer de nós pode não estar de acordo com o orçamento actual pelas mais diametralmente opostas razões. E umas bem mais ponderosas que outras. Mas, em termos de voto para definir a posição, só existe o voto contra ou a abstenção, sendo que esta tem sempre muito de táctica política. Ou não é assim?
E a «união das esquerdas» é um dos partos mais difíceis que apareceram na sala de Ginecologia da História.
Talvez convenha, entretanto, aqui recordar que, ao contrário do que muitos dizem, foi Catarina Martins a primeira a propor a criação daquilo que viria a chamar-se a geringonça, lá por 2015 e num debate televisivo com António Costa a que assistiu quem quis e pôde.
Agora, também me parece muito visível é que o desidério primeiro de António Costa e do PS é conduzir à arreata os seus «parceiros de coligação», o que, convenhamos, não será o melhor exercício democrático, mas tem tudo a ver com o exercício do poder.
Falar de chantagem por parte do Bloco de Esquerda em relação ao PS faz-me lembrar muito o poema do Brecht: «Do rio que tudo arrasta se diz que é violento; mas ninguém diz violentas as margens que o oprimem».
E o Bloco de Esquerda decidiu votar contra quando já se tinha apurado que o orçamento passava… Taticismo político? Claro, como o de todos. E, afinal, o orçamento passa, na mesma.
Aguardemos, serenamente, os próximos episódios, porque o mundo ainda não acaba hoje…