fotografando o dia (157)

o fantasma-gosma
gruda-se à grade da gruta
pasma
e a casa devoluta
cisma
com a noite que se afoite
 poise
e o céu?
caiu ou não caiu
ou que demo é que lhe deu?
– fotografia e poema de Jorge Castro
Fotografia obtida em Picoas – Lisboa

como eu gostava que o dia…

Não há razões de contentamento neste recanto do mundo que poderia ser tão aprazível… Por vezes, parece que os nossos esforços se congregam para a criação do infortúnio. Mas amanhã é sempre outro dia! Por vezes e por isso mesmo, apetece-me um poema ingénuo.

como eu gostava que o dia
não me trouxesse a azia
do descaso
e desconsolo
que não fosse por acaso
que eu pisasse com orgulho
as agruras deste solo
que não vingasse o engulho
nem me mordesse as canelas
o fétido desviver
que por lúgubres vielas
nos impede de crescer

como eu gostava que um dia
nascesse em nós a alegria
de sermos
nós a valer
e se enchessem montes ermos
e planícies devastadas
da arte de renascer
e sermos nós as estradas
alimentadas por rios
e bordejadas por mar
onde os homens fossem fios
abraçados num tear

– será um dia
há-de ser
há então que porfiar
e até lá ‘inda é dia
para o que der e vier
e o verbo é sempre lutar.

– poema de Jorge Castro

o mistério dos mistérios ou o descaso dos casos…

A minha nova crónica na FreeZone.

Sobrevoámos em voo muito baixo, ao longo da última semana, mais dois extraordinários e misteriosos casos em que a sociedade portuguesa se tornou fecunda. Mais dois casos de aparência estrepitosa de onde ressalta depois, em grande primeiro plano que afinal tudo esconde, a sua impenetrável opacidade.
Refiro, como é óbvio, os casos Casa Pia e Carlos Queirós. Casos que me permito «meter no mesmo saco» porque deles, eu cidadão, que me tenho na conta de algo atento e sempre interessado, apuro um denominador comum: não consigo concluir coisíssima nenhuma…
Como nos casos de Camarate, ou dos hemofílicos infectados com SIDA, ou de Maddie, ou de Valle e Azevedo, ou do Freeport, ou do BPN, ou da Caixa, ou dos apitos, ou de…, ou de…, ou de… enfim, qualquer cidadão terá, em carteira do conhecimento, casos deste tipo de sobra, de maior ou menor impacto na sociedade, mas todos eles com essa peculiaridade que os irmana: a impossibilidade de se detectar cristalinamente onde foi parar a culpa e os culpados de cada uma das situações supostamente averiguadas e, uma vez por outra, até chegadas por fim a julgamento.
Aliás, irei mais longe: não apenas não se vislumbra claro responsável em cada caso, como a responsabilidade surge, em geral, ela própria repartida por protagonistas aparentemente antagónicos e, desconcertantemente, até de aparentes interesses opostos.

Leia artigo completo AQUI.

fotografando o dia (156)

é mistério da Justiça
onde vivemos à peça
que nalguns a vida atiça
o que a outros sai depressa
mendiga algum dignidade
da vida lhe basta um pouco
o outro come à vontade
e faz ouvidos de mouco

seres todos nós seremos
uns de teres outros de não
e uns aos outros fazemos
o que não se faz a um cão
– quadras e fotografia de Jorge Castro