Não há razões de contentamento neste recanto do mundo que poderia ser tão aprazível… Por vezes, parece que os nossos esforços se congregam para a criação do infortúnio. Mas amanhã é sempre outro dia! Por vezes e por isso mesmo, apetece-me um poema ingénuo.

como eu gostava que o dia
não me trouxesse a azia
do descaso
e desconsolo
que não fosse por acaso
que eu pisasse com orgulho
as agruras deste solo
que não vingasse o engulho
nem me mordesse as canelas
o fétido desviver
que por lúgubres vielas
nos impede de crescer

como eu gostava que um dia
nascesse em nós a alegria
de sermos
nós a valer
e se enchessem montes ermos
e planícies devastadas
da arte de renascer
e sermos nós as estradas
alimentadas por rios
e bordejadas por mar
onde os homens fossem fios
abraçados num tear

– será um dia
há-de ser
há então que porfiar
e até lá ‘inda é dia
para o que der e vier
e o verbo é sempre lutar.

– poema de Jorge Castro