ontem o céu deu-me andorinhas

– em homenagem a Daniel Abrunheiro e às suas invulgares crónicas – Rosário Breve – publicadas n’O Ribatejo e que eu tenho a sorte de receber regularmente e sempre com espanto… Ou porque tanto tarda uma qualquer Primavera, árabe ou grega ou… 

ontem o céu deu-me andorinhas
por entre nuvens cinzentas
que pairavam violentas
na fímbria do meu olhar
ficou-me o céu a pairar
de repente
na esperança
para lá de onde já cansa
perder-se assim o ficar

pareciam breves
qual brisa
sulco negro que desliza
na berma do meu cuidar

andorinhas viajantes
cruzando
breves instantes
para logo mais voar
pelo céu e pela aurora
e por toda a vida fora
em constante viajar
anúncio de Primavera
e nós por aqui à espera
sem saber porque ficar

mas o céu deu-me andorinhas
… ou foram as avezinhas
que mo deram sem eu ver?

certo é que as nuvens cinzentas
deixaram ver mais azul
e lavaram penas minhas
quando aquelas andorinhas
sulcaram céus e tormentas
trazidas pelo vento sul.

– Jorge Castro

aquele era o homem que sabia voar

acordou bem cedo em manhã de Outono
e os ventos traziam nuvens de além-mar
e ao sair à rua a meio de um sonho
descobriu desperto que podia voar

percorreu falésias
sentiu maresias
voou sobre as ondas
voou sobre os dias
e sempre desperto tão perto do sonho
ele ficou mais perto de poder sonhar.

– Jorge Castro

24 de Fevereiro de 2015

o preço a que está o cherne

Será este, porventura, um exercício simplório da mais sórdida inveja. Muito bem! E, já agora, um não menos bacoco exemplo de incompreensão infinita da res publica. O que só cai mal em espírito que se pretende informado q.b. e lúcido outro tanto. 
Será tudo o que quiserem, sem apelo ou negação – e já me está a ocorrer o Ary… – mas tratar assim o cherne, não! O que irão dizer (sentir?) todos os escamados que pululam os sete mares? 
E notem que este humilde cidadão que eu sou, tão escamado, aliás, como as demais espécies piscícolas que vagueiam pelos oceanos, não tem nada contra estes milhares todos de bênçãos que tombam, placidamente, no toutiço deste cherne. Nada disso! Eu só gostaria, mesmo, é que estas bençãos, quando nascessem, fossem como o Sol: para todos.   
Enfim, porque ele, o cherne, merece e com a devida vénia, deixo-vos aqui um poemaço do meu amigo cápê, a este (des)propósito:

O CHERNE

OK O`NEILL
Sigamos o Cherne
de Alexandre O`Nell
serviu para alguma coisa
serviu para a Uva
dizer ao Zé
ganharás o poder
meu ex-maoísta
meu sempre em pé
podes dele abusar


e se todos nós
os portugueses
seguíssemos o Cherne
estaríamos refastelados
em Bruxelas
com brutos ordenados
mas um país deserto
país não é
portanto fico
por cá a fazê-lo

prefiro o cherne
de preferência?
É cozê-lo.

cápê in Ó Simpático Vai um Tirinho?

nos dez anos do Sete Mares

Pois é verdade, quase sem se dar por isso lá vamos indo com o tempo e, de súbito, dez anos foram vividos. Sempre imprevisivelmente. Mas sempre.
Partilho com múltiplos afectos esta realidade que é o Sete Mares, assim como várias outras actividades, não apenas de índole cultural, nas quais cumpro os meus dias. Com os outros. 
Não terei muito para dar além disso. Como José Gomes Ferreira disse, penso nos outros, logo existo. Mais do que lema, um modo de estar vivo. 
Assim sendo, com os meus votos para que 2015 seja um ano que nos alerte para o assumir cidadanias, aqui fica o meu reconhecimento e gáudio pela vossa companhia.   

Dezembro
e já trinta e um
Dezembro
e já trinta e um
e lá passámos pelo tempo
sem que o tempo em nós
ficasse
ou desse sinal algum
a não ser naqueles sinais
que o tempo deixa a quem
passe
e faremos as promessas
das festas do solstício
que amanhã será início
de fazer tudo às avessas
e de havermos de mudar
mudar de ar
ou de roupagem
faremos talvez a viagem
há tanto tempo a esperar
mas há sempre algo a mudar
e tontos menosprezamos
cada segundo em que o mundo
tudo muda de lugar
e com o mundo mudamos
e com ele também rodamos
em espiral
se calhar
e lá vamos
sempre em frente
sempre ao sabor da corrente
que o tempo também consente
a fazermos do presente
esse futuro a chegar
e nada disso é indiferente
somos nós só a andar…
  
– Jorge Castro

31 de Dezembro de 2014

E na Associação 25 de Abril, no passado dia 17, foi assim…

Em primeiro lugar, dando a cara por uma omissão imperdoável, referir com aplauso, amizade e carinho, o envolvimento, na organização do evento, de Rosário Rodrigues, representante da Associação 25 de Abril. Cumplicidade e empenho, ingredientes com os quais sempre tenho o prazer de saber contar, vindo que quem vêm. 

Depois, os culpados – Arthur Santos, Manuel Branco e Jorge Castro – , ainda em fase de acerto de agulhas – que nunca é aconselhável que de tal acerto provenham limitações… -, preparando o que lá viria. 

O coronel Nuno Santos Silva, assumindo-se como anfitrião e, assim, em nome da direcção da Associação 25 de Abril, na apresentação e mensagem de boas-vindas, acrescentando à sessão um especial «aperitivo» através das referências feitas ao ser e estar de que o 25 de Abril foi feito.  

Alguns aspectos da sala, participativa e interessada, onde, no entanto, não devo deixar de referir a ausência de muitos «companheiros de estrada» que se ficaram pela promessa, fácil e «barata», de comparência através dos facebooks  habituais… mas que não foram além disso.
Olha lá se no 25 de Abril de 1974 tivesse acontecido o mesmo…
Honra acrescida, entretanto, aos que compareceram, os que fazem sempre mais falta!

De seguida, com determinação, empenho e – porque não dizê-lo? – com militância pela Democracia, pela Liberdade e pela cidadania participativa, fomos desenvolvendo a nossa ronda… 

… de poemas a bem do refrescamento constante dos ideais de Abril, em três respirações distintas mas sempre convergentes e cúmplices, determinadas em atingir um objectivo assumido como comum.

Três vozes, três vivências, três criadores de poemas que partilham, entre outras, e premência de trazer a poesia à rua, como inspiração e força motriz dos mais altos voos do pensamento, esse tal que não há machado que corte…  

Também sem atropelos e, no entanto, com toda a liberdade individual assumida, fomos perpassando pelas palavras que consideramos serem precisas, imperiosas e urgentes em cada momento das nossas vidas, mas com um pendor claro para a actualidade, abrindo os tais caminhos que nos dizem ser a poesia essa arma carregada de futuro.
Foi chegado o momento de partilhar o espaço de participação com quem se afoitasse a trazer-nos um poema. E assim foi, com:

– Rosário Freitas

– Ana Freitas

– Eduardo Martins

– José David Silva

– Rosário Narciso

E assim se cumpriu esta acção… que, entretanto, teve condigno remate em convívio com pataniscas e fados, logo ali ao lado, que o retempero dos corpos deve acompanhar o dos espíritos.. 
25 de Abril, sempre! 

– Fotografias de Lourdes Calmeiro e de Rosário Narciso