Rogério Ribeiro (1950-2007)

Coisa assim que me caiu no goto foi, entre várias outras, esta serigrafia de Rogério Ribeiro e a frase nela inscrita, patente na Casa da Avenida, em Setúbal, em exposição denominada Obra Gráfica de Rogério Ribeiro. Aqui fica, para partilha:  
«Só quando a terra for nossa, meu amor, teremos Pátria»

O que me sugeriu, com a devida vénia, este desenvolvimento:

só quando a terra que é nossa soubermos chamar-se Mátria
só quando a palavra amor for maior que um punho erguido
só quando o punho empunhar o arado de outra lavra
só quando se erguer do chão cada dia construído
só quando essa construção for nossa como a palavra
só quando a terra for nossa, meu amor, teremos Pátria.

– poema de Jorge Castro

no dia mundial da Poesia
e noutro dia…

um poema
um só que fosse
que trouxesse em si
o gesto de ser doce
esse gesto como um gosto
que acontece
quando o Sol
nos lava a cara
e amanhece.
No dia 23 de Março, na Biblioteca Municipal das Caldas da Rainha, decorrerá, a partir das 14h30 e promovida pelo Comunidade  de Leitores e de Cinéfilos das Caldas da Rainha, uma sessão de homenagem a Fernanda Frazão (editora Apenas Livros) e a mim próprio. O convite aqui fica, bem como a minha grande vontade de vos ver por lá.

 

o grande problema do nosso governo
– pequena lição de política de bolso

o grande problema do nosso governo
é ter este povo que não foi eleito
é ter por defeito o não ser eterno
é viver no inferno de jamais ter jeito

ninguém lhe parece que lhe valha a pena
para além da corja que traz à ilharga
gentalha contada e à boca pequena
que come e que medra e que vive à larga

o grande problema do nosso governo
é ser da matriz dos biltres sem terra
que nunca beberam no leite materno
esse amor ao chão a que a raiz se aferra

à seiva do povo que a corja traiu
no meio do lodo tal qual sanguessuga
que mal se empanturra – ávida e febril –
abandona o barco – mísera trânsfuga

o grande problema do nossos governo
é não ser do povo nem dele ser guarida
mas se em cada dia lhe atiça o inferno
o dia virá da paga merecida

assassinam velhos – desprezam os novos
matam o presente – hipotecam futuros
e nós só cantando e atirando ovos
esperamos que caiam todos de maduros

Conclusão:

o grande problema que nós temos com este governo
é que enquanto aguardamos tranquilos que ele passe
o que acontece – como outrora se diria –
é que ele assumiu uma clara opção estratégica de classe…

– Jorge Castro

tu aqui não tens nada p’ra dizer…

  – a propósito do movimento de cidadania que tem boicotado as intervenções de governantes, mormente de
  um tal Relvas, este e outros quejandos os verdadeiros fautores actuais do desgoverno e da desobediência civil, os agentes do «mercado» que eles bajulam e alimentam ao arrepio de toda a Humanidade.
     tu aqui não tens nada p’ra dizer


nem de ti tenho nada para ouvir

a palavra
esse dom de humanidade
e de livre pensamento
não se colhe no entulho da aldrabice
nem a queremos ver medrando entre a miséria e o lamento
com que tu e os teus pares nos vão cercando
sempre ao mando e ao desmando
e da pulhice

e não venhas com plangências democráticas
porque em ti tudo teu é fraco e falso
e nem mesmo de algumas almas erráticas
vais a tempo de fugir ao cadafalso

a palavra é um direito
é um dever
é o abraço que nos une e nos irmana
mas trânsfugas que o povo tomam de assalto
uma só me ocorre agora
e é «sacana»

e sacana é aquele que eu não quero nem ouvir
lobrigar sequer por perto
e assim sendo se falar queres
podes ir
p’ràs profundas mais remotas do deserto

aqui não
que não és tu cidadão
mas ladrão que me assalta a descoberto
e em ti cada palavra é a facada
que se paga sempre em sangue e agonia
nesse dia que constróis com injustiças
atropelos
violência
e vilania
e assim medras
tu e toda essa canalha
que na sede deste sangue te igualha
e se amanha no seu sinistro porvir

tu aqui não tens nada p’ra dizer

nem de ti tenho nada para ouvir

nada tens afinal mais p’ra dizer
de ti já se ouviu toda a missa farta
e se vieres que seja só p’ra acontecer
a providência de um raio que te parta!



Oscar Niemeyer

Nasceu em 15 de Dezembro de 1907. Morreu no dia 05 de Dezembro de 2012.
Passou pelo mundo todo por «retas e curvas entrelaçadas», que foi seu legado.

Um homem só e, no entanto, o  bater de asas da sua vida agitou  esse mundo todo. Um homem só, então, que se fez em multidão.

Não cairei no lugar comum de afirmar que o mundo nos ficou mais pobre, porque, afinal e bem vistas as coisas, ele deixou-nos esse mundo todo muito mais enriquecido!
– Fotografia obtida aqui

Autodefinição

Na folha branca de papel faço o meu risco.
Retas e curvas entrelaçadas.
E prossigo atento e tudo arrisco na procura das formas desejadas.
São templos e palácios soltos pelo ar, pássaros alados, o que você quiser.
Mas se os olhar um pouco devagar, encontrará, em todos,
os encantos da mulher.
Deixo de lado o sonho que sonhava.
A miséria do mundo me revolta.
Quero pouco, muito pouco, quase nada.
A arquitetura que faço não importa.
O que eu quero é a pobreza superada,
a vida mais feliz, a pátria mais amada.

Oscar Niemeyer