fotografando o dia (153)

por convulsões terreais
bordam-se gritos na pedra 
sem destino
ou algo mais
e a vida toda que encerra
cada grito
que aí medra
esculpe sons espectrais
– Fotografia e poema de Jorge Castro

Castelejo, 2010 

fotografando o dia (152)

no meu sacro promontório
vejo o mar por um canudo
o bote a vaga fustiga
ao homem o mar castiga
por ter querido um empório
e por abrir mão de tudo
deu tantos mundos ao mundo
tantos jeitos de viver
tantos trejeitos no fundo
que são a arte de ser
e anda um barco perdido
sem leme
vela
ou sentido
sem saber que apetecer
e um canhão verte a ferrugem
dos que não tugem nem mugem
e vivem só por viver
– Fotografia e poema de Jorge Castro

Promontório de Sagres – 2010

fotografando o dia (150)

estamos todos juntinhos
pendurados no estendal
as cores várias são caminhos
de se estar nem bem nem mal
a parede é velha e gasta
antiga como a janela
à frente um prédio lhe basta
para o céu não dar com ela
e bastava um gesto breve
um olhar de outra atenção
mexer-lhe muito ao de leve
dar-lhe outra inclinação…
– fotografia e quadras de Jorge Castro

fotografando o dia (149)

gosto de ver trabalhar
– olha, aquele
para ali a dar a dar…!
se nos vir ele há-de ter
vontade
de se sentar
 a ver também trabalhar…
– fotografia e poema de Jorge Castro

Fotografia obtida na exposição «POVO», no Museu da Electricidade – EDP