fotografando o dia (158)

o que é
nem sempre parece que o é
até um cacho de rolhas
quanto mais para ele olhas
cada vez mais é
o que não é
Cacho de Rolhas – ocupação sobre painel de cortiça, de Jorge Castro

fotografando o dia (157)

o fantasma-gosma
gruda-se à grade da gruta
pasma
e a casa devoluta
cisma
com a noite que se afoite
 poise
e o céu?
caiu ou não caiu
ou que demo é que lhe deu?
– fotografia e poema de Jorge Castro
Fotografia obtida em Picoas – Lisboa

fotografando o dia (156)

é mistério da Justiça
onde vivemos à peça
que nalguns a vida atiça
o que a outros sai depressa
mendiga algum dignidade
da vida lhe basta um pouco
o outro come à vontade
e faz ouvidos de mouco

seres todos nós seremos
uns de teres outros de não
e uns aos outros fazemos
o que não se faz a um cão
– quadras e fotografia de Jorge Castro

fotografando o dia (155)

antes do torna-viagem
há que cuidar da plumagem
como em palco de vaidades
– faz de conta que nem olho –
ataviam-se as beldades
catando bem o piolho
e quando der em partir
irão todas a seguir
cruzando as ventanias
uma e outra e mais de mil
esperando novos dias
que hão-de voltar lá p’ra Abril 
– fotografia e poema de Jorge Castro