fotografando o dia (162)

não há andorinhas verdes
nem céu azul sem senão
na fábula se és gato perdes
por seres barro… também não
elas voam bem maduras
mas não caem do beiral
e o gato vendo-as seguras
olha-as bem mas não faz mal
– fotografia e poema de Jorge Castro
– exposição sobre Bordalo Pinheiro de Joana Vaconcelos no Museu da Cidade, em Lisboa

fotografando o dia (161)

lotarias são enfim
uns em busca dos seus dias
outros mais assim-assim
e se a uns vem algum dia
que traz sol em demasia
outros há cujo outrossim
vai do banco do jardim
ao chão de calçada fria
e não passam desse assim
destino
fatalidade
e as ruas da cidade
fazem da pobreza um hino
e da riqueza vontade
mas sabemos todos bem
que nem tudo é bem assim…

- Fotografia e poema de Jorge Castro
 
– fotografia obtida em Lisboa, na Avenida da República

fotografando o dia (160)

se ao Outono segue o Inverno
havendo este cair eterno
de cada folha  no chão
algumas há que ao voar
sem pressa haver em chegar
ao destino dizem não
não perderão p’la demora
mas ‘inda assim – ‘inda agora
hora a hora longe vão
e de quanto houver a ver
hão-de ver e acontecer
o mundo de outra feição.
– fotografia e poema de Jorge Castro

(Fotografia obtida no Jardim das Caldas da Rainha)

fotografando o dia (159)

varado num chão de lodo
anseio por ser gaivota
cruzando os ventos na rota
de saber do mundo todo
preso ao chão por meu arrais
ancorado na esperança
das marés espero a dança
de me varar noutros cais
se vogo em mares de procela
painho corvo fragata
são o voar que desata
os sonhos na minha vela
erguida ao céu sua fronte
que tensa impele a que ame
no gemido do cordame
lonjuras do horizonte
repouso na vaza fria
tenho a meu lado tais asas
a poisar em marés vazas
no sustento do seu dia

vão nas marés minhas mágoas
na minha inveja de vê-las
sem as ter sem percebê-las
balanço ao sabor das águas
– fotografia e poema de Jorge Castro